Parece que as combinações harmoniosamente desastrosas de ostra com Malbec e de sanduíches de polvo com Cárménère estão com os dias contatos. Finalmente o Brasil descobriu o vinho branco. Esse debut pode ter sido deflagrado pelas altas temperaturas ou pelo amadurecimento do paladar dos apreciadores da bebida. Independentemente do que impulsionou a mudança, o fato é que importadoras como a Decanter constataram um aumento de 30% no aumento da venda dos brancos no país. O crescimento impressiona, mas ainda é inferior ao volume de vendas do rosés, estilo que mais cresce nas cartas de restaurantes pelo mundo e pelo qual se tem notícias da entrada de jovens ao universo do vinho, segundo o português, Fernando Seixas, do Grupo Fladgate, que entre outras marcas tem a prestigiada Taylor’s.
Além de harmonizarem perfeitamente com o nosso clima, os brancos representam a combinação perfeita para muitas das comidas que ganham destaque no inverno, graças à sua acidez pronunciada e complexidade aromática. No caso de fondue de queijos, por exemplo, os brancos são responsáveis por “limpar” o paladar, a acidez permite que a gordura de variedades como Emmental ou Gruyère não pesem ou fiquem insonsas na boca. Com isso, a experiência fica mais leve. Com charcutaria, por exemplo, um bom presunto cru casa lindamente com brancos, isso já ouvi da premiada Daniela Bravin, sócia do restaurante Huevos de Oro, em São Paulo, durante uma degustação. Faça o teste: coloque um pedaço na boca e, no mesmo momento, tome um gole do vinho. Essa nova mistura proporciona proporciona um ótimo sabor. Quer outra ótima ideia para harmonizar com charcutaria? Espumantes! Para os amantes de massa, o italianíssimo molho carbonara pede branco. Nesse caso, se eu fosse escolher, optaria por um Pinot Grigio também italiano, que é neutro, ácido e leve.
COMO ARRUINAR UMA NOITE COM O VINHO ERRADO
Claro, somos livres para tomar o vinho que bem entendermos com o alimento que nos faz feliz, mas há algumas explicações químicas para tais desastres de harmonização. Os peixes e crustáceos têm iodo em sua composição, o que exige atenção na hora de escolher a garrafa certa. Combinados aos taninos, substância presente nas cascas das uvas tintas, o iodo provoca uma sensação metálica. Acredite, é quase como usar fio dental de corda de violão ou dar uma mordida em pé de mesa de ferro, experiências nada agradáveis, convenhamos.
O sommelier Gabriel Raele costuma dizer em suas descrições que “a acidez que convida ao próximo gole”, não é uma figura de linguagem ou marketing enochato para vender garrafas, mas realmente essa característica é fundamental em algumas combinações. Eu mesma, preciso confessar, já cometi alguns pecados. Há uns bons anos, ganhei do marido um toscano potente, um Tignanello, da reverenciada vinícola Antinori, um blend de Sangiovese, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Havia um fondue em casa, uma noite fria e criança pequena dormindo. Clima perfeito, portanto. Abrimos o vinho. Depois de duas taças eu estava tão empachada como se tivesse comido dois hambúrgueres daqueles com maionese caseira e com dois milk shakes repletos de calda. Ou seja, acabei com o vinho e, consequentemente, com a noite.
MUITO ALÉM DO SAUVIGNON BLANC E DO CHARDONNAY
Agora não pense que estamos falando daqueles brancos bobinhos de coquetéis. Acredite, a variedade é imensa e vai muito além dos tradicionais Sauvignon Blanc e Chardonnay. Recentemente provei um Viognier com Riesling Itálico, Sur Lie, da Viapiana, de Flores da Cunha (RS) muito complexo e surpreendente. Do Dão, em Portugal, fiquei encantada com as uvas Douradinha, Cão e Terrantez. Elas são cultivadas dentro de um projeto lindo da Lusovini/Pedra Cancela, que está replantando castas esquecidas e que são de um frescor surpreendente e acidez inigualáveis. Esse projeto deve chegar ao Brasil para venda no final do ano, em caixas exclusivas. Vale muito ficar atento, o produto virá ao país pelas mãos da TDP Wines.
Por fim, a casta que merecia toda uma coluna AL VINO o Encruzado, perfumado, fresco, complexo. Um vinho que tem imenso potencial de guarda e que enólogo português Casimiro Gomes, um expert dessa casta só costuma lançar ao mercado com anos de garrafa, imagine cinco a sete anos. Esses vinhos são tão especiais quanto os Chablis, os Chardonnays da Borgonha?, perguntei a ele. “Não comparo para não diminuir o valor da casta, mas pelo potencial pode-se dizer que é um vinho atemporal, como poucos”.
Eu absolutamente concordo.
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