Das regiões viníferas italianas, a mais prestigiada no mundo é, como segurança, o Piemonte. E este fato se deve, especialmente, à fama dos Barolos e Barbarescos pelo mundo. Ambos vêm da casta Nebbiolo e guardam características próprias um ou outro. Ocorre que o Piemonte não é só “Nebbiolo”, há muitas outras uvas viníferas que nos oferecem vinhos de altíssima qualidade e versatilidade ímpares. Vale destacar que o Piemontês é bairrista (o que é bom para o viticultor), e as castas estrangeiras não são ou são pouco bem-vindas por lá. Assim, é muito difícil encontrar um “Cabernet Sauvignon” piemontês (eu, particularmente, desconheço). Tal característica de regionalismo outorga ao vinho piemontês uma tipicidade única, o que sempre louvo, por significar homem-terra-clima-técnicas em harmonia no vinho. Voltando às castas pouco conhecidas, destaco a primeira delas como a mais conhecida das pouco conhecidas, a branca “Cortese”, que é famosa pela notável acidez que apresenta e excelente capacidade de manter o frescor, ela é cultivada, principalmente, na parte sudeste do Piemonte e há centenas de anos, existindo menções a essa variedade até mesmo em documentos do século XVII. Os vinhos mais tradicionais elaborados com a uva Cortese são os Gavi e deles sugiro que conheçam Gavi DOCG Ca’Bianca e o Fontanafredda Gavi Del Comune Di Gavi, cuja acidez e frescor são marcantes, e ostras, mariscos ou o vôngole aplaudem quando juntos.
A “Freisa”, por seu turno, é uma casta tinta e que, curiosamente, andou por aqui em meados do século XX, quando a Granja União cultivou esta uva e a vinificou na região de Caxias do Sul (RS). Piemontesa de origem, nos dá vinhos tintos com bom corpo e sabores frutados. Com a presença de bons taninos e marcante acidez, o vinho Freisa é capaz de envelhecer bastante. Segundo o Mestre Amarante, no século XIX a uva Freisa foi amplamente cultivada nos vinhedos da região do Piemonte, quando era a variedade mais plantada na província de Torino. Sua elevada resistência tornou-a extremamente popular, especialmente após a grande praga filoxera que assolou os vinhedos da Europa. Por aqui, raro que é o vinho da casta Freisa, sugiro que procurem o Borgogno Langhe Freisa DOC 2016 e o Giacomo Borgogno Freisa, ambos com ótimos taninos, bom corpo, acidez que os torna ícones gastronômicos e longevos. São vinhos que vão muito bem com uma Carne Cruda ou mesmo com um Vitelo Tonnato.
Por fim, a “Brachetto” é uma uva tinta que dá origem a ótimos tintos e a espumantes espetaculares sendo originária das colinas de Monferrato, na Itália. Considerada uma uva de baixos rendimentos, a uva Brachetto possui cachos robustos que apresentam muitos bagos, de pele fina porém firme, com coloração escura e profunda, e elevado teor de açúcar natural. Os espumantes tintos desta uva, ao meu ver, disputam espaço com o lusitano Murganheira, sendo, em muitas ocasiões, mais apropriado para harmonizações com pratos gordos. E o espumante da Brachetto que vou sugerir é o Ca´Del Profeta Brachetto Momentum, ótimo acompanhante de uma torta de chocolate meio-amargo, e o tinto é o Batasiolo Brachetto, que frutado e de baixo teor alcoólico, segue bem com sobremesas a base de frutas ou mesmo com uma fruta mais ácida como o Kiwi. Saber e conhecer estas uvas e seus vinhos é se distanciar um pouco do marketing sufocante que está no entorno do vinho e permitir-se ousar, provar, descobrir. Salut!
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