A civilização grega construiu a base para o desenvolvimento da sociedade ocidental, o seu grau de importância no curso da história passa pelo início das atividades da ciência, da política, da filosofia, da literatura, do teatro, da poesia e arte, da medicina, da arquitetura e de tantas outras áreas, e claro que o vinho esteve presente nesta jornada. Os gregos não foram os primeiros a produzirem o vinho, mas na Grécia Antiga deu-se o desenvolvimento da cultura vínica em vários aspectos, como o crescimento das vinhas, a legislação, a negociação e sobretudo a arte de degustar o vinho. Para um grego, o vinho é muito mais que uma cultura, ele é o próprio status de civilidade.
Breve Histórico do Vinho na Grécia Antiga
A história do vinho grego é difícil dissociar-se da própria história da Grécia tal a importância desta bebida no cotidiano desta civilização. As inúmeras referências arqueológicas, as pesquisas, os estudos e publicações sobre viticultura, sobre os vinhos e suas produções e importações fazem parte do acervo histórico do seu povo durante séculos e que trazem muito orgulho a esta população que sempre presou por este néctar sagrado e milenar.
Segundo o jornalista e escritor britânico Tom Standage, que em sua obra “A História do Mundo em 6 Copos” descreve que o vinho era a bebida que ditava o ritmo nos simpósios e festas na Grécia Antiga onde os participantes partilhavam grandes taças. Em visita in loco em vários museus em Atenas pude constatar isso através de inúmeras obras de artes registradas e objetos catalogados relacionando esta descrição. No Museu Benaki vi peças e representações que retratavam as cenas de como funcionavam os simpósios, momentos estes presentes com muita frequência no cotidiano da vida dos gregos. Esses debates eram regados de vinhos e os pensadores antigos tentavam superar um ao outro por meio da inteligência.
O filósofo Platão dizia que o vinho era uma ótima maneira de testar o caráter e a índole de um homem, submetendo-o às paixões despertadas pela bebida como a raiva, o amor e a ambição. Ele associava a importância do consumo de vinho ao ato de falar, dizia que as pessoas soltavam a oratória, neste mesmo período surgiram os Sofistas “pensadores da Grécia Antiga”, que viajavam de cidade em cidade realizando discursos públicos.
Os gregos consumiam o vinho no seu dia a dia, e aprenderam a adicionar ervas e especiarias ao vinho para disfarçar a deterioração. Também foram eles que reforçaram a implantação das vinhas realizadas pelos fenícios em muitas áreas do Mediterrâneo e introduziram vinhas e a produção de vinhos em suas colônias do Sul da Itália, que chamavam de Oinotria, que significa terra do vinho, mais tarde os romanos passaram a chamar de Enotria.
O Vinho Grego na Atualidade
O vinho para os gregos é o sinônimo de uma bebida portadora de civilidade e na Grécia tem uma das histórias mais longas do mundo ininterrupta, pois sempre foi parte integral da cultura desde a antiguidade até a atualidade, mesmo em muito momentos históricos a produção tenha sido comprometida por povos dominadores avessos ao consumo de álcool. A Grécia possui uma incrível variedades de terroirs distintos e únicos, desde vinhedos implantados em terrenos de montanhas, em solos vulcânicos, em regiões da costa e em área continental, proporcionando uma incrível variedade de possibilidades de estilos de vinhos.
Na atualidade os números do mercado vínico da Grécia são pouco representativos perante o cenário mundial, segundo os dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (2021). Neles a Grécia representa 0,9% da produção mundial de vinhos, ficando na 17° posição do mundo. Como consumidor de vinhos está na 22° posição mundial equivalendo a 0,9%. Suas exportações no setor de vinhos representam 0,2% ficando na 26° posição mundial e como importador de vinhos representa 0,1% , marcando a posição 53° do mundo em importação.
Em 2022 foram registradas na União Europeia 33 PDO e 114 PGI de vinhos Gregos. Destes 9,5% da produção nacional é representada pelos vinhos PDO, e 23,5% pelos vinhos na categoria PGI, seguindo as normas europeias. Registradas estão 95.922 ha de vinhas plantadas, fragmentadas em 1200 vinhedos em toda a área do país. Macedônia, Thrace, Peloponeso, Ilhas Aegean, Creta, Epirus, Thessaly, Grécia Central e Ilhas Ionian são as regiões onde estão divididos os vinhedos gregos. Mas as PDO mais importantes na atualidade a nível mundial são Naoussa, Nemea e Santorini, pois estão apresentando ao mundo vinhos com caracter únicos e com castas emblemáticas.
A Grécia produz muito mais vinhos brancos e só cerca de 1/3 são produzidos de vinhos tintos. O país possui mais de 200 tipos de castas autóctones e apresenta cerca de 90% de sua área plantada com essas emblemáticas castas que em sua massiva maioria só possui plantação em solo grego. As brancas Debina, Robola, Tsaouss, Athiri, Lagorthi, Mavrodaphne, Moschofilero, kydonitsa e as tintas Limniona, Monemvassia, Mandilaria são algumas das representantes destas históricas uvas.
PDO Naoussa / ΠΟΠ Νάουσα
A Naoussa PDO está localizada na região da Macedônia no norte do país, foi regulamentada em 1971, é uma região de vinhos tintos onde a casta Xinomavro é rainha. Esta casta apresenta altos níveis de taninos, de acidez e uma cor de intensidade média. Seus vinhos possuem bastante longevidade e complexos aromas de especiarias e terrosos com o decorrer do tempo. Muitos especialistas comparam esta casta com a Nebbiolo e seus vinhos aos icônicos Barolos.
Este terroir apresenta um clima mediterrâneo temperado, com influência continental, possui invernos frios e verões relativamente quentes. A grande parte dos vinhedos está implantado nas encostas sudoeste do monte Vermio em uma altitude de 150-400m. Existe uma grande diversidade de terrenos e altitudes, aspectos e solos nas encostas das colinas do Vermio, que resultam em diferenças significativas entre os locais de vinhedos, permitindo a existência de muitos terroirs distintos menores, aos moldes dos “climats” que os franceses tanto exaltam. Os solos mostram grande variação, mesmo dentro do mesmo vinhedo.
PDO Nemea / ΠΟΠ Νεμέα
A Argiorgitiko é a casta tinta mais cultivada e no Peloponeso em Nemea PDO produz vinhos de diversos estilos. Quando os vinhedos estão implatados em áreas de encostas mais baixas e quentes, os seus vinhos apresentam-se mais marcados pelos sabores de compotas, mais frutados e geralmente são indicados para um consumo mais imediato. Quando produzidas em encostas mais mais altas, seus vinhos apresentam mais acidez e taninos menos delicados. Esta casta também é muito usada para composição de blends dando aos lote mais frescura. Os vinhos rosés produzidos com ela também são muito apreciados.
PDO Nemea é a maior área de produção de vinhos tintos da Grécia, e nesta área geográfica se distribuem 17 cidades com grandes diferenças em altitudes, solos e orientações dos vinhedos. De forma mais simples e extraoficial a área está dividida em 3 sub-regiões que se diferem sobretudo nas altitudes de implantações dos vinhedos que iniciam em 200m e chegam até a 850m do nivel do mar. O clima da região é em geral mediterrâneo, mas há variações significativas dentro das áreas devido ao seu tamanho e a diferença entre as altitudes.
PDO Santorini / ΠΟΠ Σαντορίνη
Um dos terroirs mais icônicos gregos e do mundo dos vinhos sem dúvida é Santorini PDO. Esta ilha vulcânica possui uma das heranças mais antigas do mundo dos vinhos, os especialistas dizem que por ela há cepas que tem hereditariedade de mais de 3500 anos e que dentre tantos fatos históricos que essas terras presenciaram, o cultivo de vinhas autóctones foi preservado até mesmo da grande praga da Filoxera que dizimou os vinhedos da Europa e de grande parte do mundo. A Assyrtiko é a casta desta terra, chegando a marca de 75% a 80% da produção de toda a ilha. Ela possui alta acidez e excelente mineralidade conferida pelo terroir e algum aroma mais discreto de fruta cítrica e de caroço. Os vinhos dela são produzidos para vinhos tranquilos de estilos secos e também para os doces, estes chamado de Vinsanto, com uma docura natural sendo compesada pela alta acidez. Desta casta também se produz espumantes de boa qualidade. A ilha de Santonini será o tema de um artigo específico que publicarei em breve, tamanha a quantidade de informações curiosas deste magnífico terroir.
Observar in loco toda a herança que a civilização grega deixou ao mundo dos vinhos foi incrível, mas mais maravilhoso de ter estado na Grécia foi perceber que os gregos não desejam somente contar histórias antigas, mas sim entregar ao mundo vinhos com qualidade técnica igual ao dos mais famosos terroirs mundiais e sobretudo mantendo a sua própria identidade grega.
Evi Evan!
Foi o brinde nas celebrações do culto de Dionísio, significa “vamos ser felizes mas nunca bêbados.”
Yia Mas!
É a saudação do brinde atual em grego e significa, ”aqui está a saúde!”
E que não nos falte saúde para continuarmos apreciando com frequência e com moderação a bebida símbolo de civilização, o vinho !!!
Saudações Báquicas!
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