Rápido Resumo Histórico
A civilização antiga Persa floresceu no planalto iraniano, e ficou conhecida na história pelo seu vasto império. Por volta do ano 1000 a.C. os persas que antes eram povos nômades, migraram para a região sudoeste do Irã. Até 1935 o Irã era chamado de Pérsia, mas a partir deste marco histórico onde o Embaixador Persa na Alemanha sugeriu a alteração do nome para Irã, o país passou a ser denominado Estado Imperial do Irã, tendo o seu líder supremo o “Shah”, termo que significa rei ou imperador.

Crédito de Imagem Dayane Casal, Exposição Temporária no British Museum em Maio de 2023
Em 1979 com a Revolução Islâmica, o país passou a usar o nome República Islâmica do Irã e a ser governado pelos Aiatolás, que significa conhecedor da religião, onde se tornou uma teocracia. Esta palavra deriva do grego “Theos” Deus e “Kratos” poder, significando “governo de Deus” ou “poder divino”, na prática é um sistema de governo onde a autoridade política é exercida por líderes religiosos e as leis do Estado são baseadas em doutrinas religiosas, no Alcorão. A partir destas mudanças o país que antes era um dos países do Oriente Médio mais modernos e ricos, passou a adotar políticas ultraconservadoras e seguir o Alcorão, a Sharia e a aplicação da Lei Islâmica.
Abaixo imagens captadas por mim numa exposição temporária “Luxury and Power Persia to Greece” no British Museum em Maio de 2023 que evidencia o consumo de vinho nos Rhyton de ouro pelos persas da antiguidade.



O Vinho Na Pérsia Antiga
Segundo a “lenda da princesa persa“, o vinho teria se originado na Pérsia. Quando o rei Jamshid, uma figura semi-mitológica da Pérsia antiga rejeitou a princesa persa, o motivo da rejeição ou perda da aprovação do rei, pode está ligado a algum desagrado que a princesa cometeu como um erro, uma desobediência, ou até uma simples mudança na preferência do rei, levando-a a perder seu status, os seus privilégios e a sua exclusão da corte real. A princesa caiu em desgraça e tentou se envenenar com uvas estragadas, mas as uvas fermentaram originando um líquido sagrado que ao invés de mata-la, fez a sentir ainda melhor, com isso reconquistando a atenção e o afeto do rei. Muitos acreditam nesta lenda até a atualidade.
O fato é que dados científicos e arqueológicos evidenciam a presença de vinho na região da Pérsia onde é o atual Irã entre 5000 a.C. a 6000 a.C.. Pesquisas realizadas pela Universidade da Pensilvânia nas escavações em Hajji Firuz Tepe, localizada no norte do Irã, encontraram evidências da produção de vinho datando 5400 a.C. (mencionadas em fontes como Coordenada XY”). Também foi descoberto uma ânfora datando 3.500 anos com resquícios de vinho também no Irã. Existem alguns fatos comprovados pela arqueologia moderna com ferramentas modernas “high-tech” correlacionando a origem do vinho e o mais antigo registro da sua presença na região do Cáucaso na Geórgia datando oito mil anos. Mas sabemos na atualidade que muitas evidências com achados comprovam a presença do vinho em muitos países ao qual esses impérios antigos circulavam, sobretudo fazendo trocas comerciais.


O Vinho no Irã do Século XXI
Após 1979 com a teocracia instalada foi proibido a produção, consumo e a comercialização de bebidas alcoólicas, seguindo os preceitos das regras do Islã que abomina e proíbe a intoxicação alcoólica. Dentre esta e outras infrações a punição é a pena de morte. O que se sabe é que os mais de 300 produtores de vinhos que existiam no país na altura, automaticamente foram levados as ruínas. Algumas notícias relatam que alguns iranianos tentam burlar as autoridades consumindo álcool as escondidas e estes são comercializados a preços exorbitantes no “mercado negro” e muitas vezes são adulterados e que de fato levam a gravíssimos problemas de intoxicação. Ao que parece existe uma cadeia clandestina de produção e distribuição de vinho caseiro e há quem acredite que isto pode ser uma forma de resistência e manutenção das tradições culturais de um povo que sempre teve o vinho como parte da vida.
Em meu livro Vinho Viagem Cultural relato uma história incrível de um produtor de vinho armênio que produziu um vinho a partir de uvas do Irã, denominado vinho “Molana” que foi manchete do Los Angeles Times (O Vinho Mais Perigoso do Mundo). Se desejas conhecer esta fantástica e eletrizante história deste vinho e também outras imensas curiosidades é só ler este compilado de informações, fica a sugestão.
Contradição da Proibição do Vinho na Terra e a Promessa no Paraíso
Há uma enorme contradição em muitas práticas de ritos e preceitos religiosos, sobretudo nas interpretações de quem está as lendo e as aplicando essas supostas regras. Isto foi evidenciado no curso da história em diversos fatos, um exemplo é a própria igreja católica que pregava como pecado a luxúria e é uma das religiões mais ricas do mundo e o Vaticano abriga peças e obras de valores incalculáveis. Na teocracia do Irã também há uma interessante contradição sobre o vinho, proíbem o seu consumo na terra tendo como pena a morte e prometem ter “rios de vinhos deliciosos para quem bebe” no paraíso para seus mártires, conforme o leitor pode ler na íntegra a tradução do Alcorão (Sura 47,15).

A Cidade de Shiraz







Shiraz não é só uma belíssima cepa de Vitis vinífera, mas dá nome a uma cidade iraniana localizada no sudoeste do país a 1580 metros acima do nível do mar, foi fundada no século VII e foi a capital da Pérsia entre 1750 e 1800. Ela é conhecida pela exuberância de seus jardins, muitas árvores frutíferas pela cidade, seus vitrais e também era conhecida pelo seu primoroso vinho Shiraz. Em tempos antigos chegou a receber o título de capital do vinho do Irã. Há relatos de viajantes de poucos anos atrás que afirmam ser uma cidade muito segura, rica em cultura, em belezas, em paisagens deslumbrantes e boas opções de hotéis. Mas apesar destes depoimentos serem tão persuasivos penso que na atualidade poucas são as pessoas que desejam visitar in loco este local na terra, devido não só aos Aiatolás rigorosos, mas sobretudo a guerra instalada pelo país. Portanto minha sugestão é se deslumbrarem com a beleza destas imagens acima, partilhadas pela Liany Garves no blog Mochila a Dois.

Reflexões Finais
Estudar e transmitir a cultura vínica tem sido uma das atividades mais prazeirosas que tenho vivido nos últimos anos, e isto é devido eu poder viajar na história de culturas e nas suas alterações ao longo da cronologia do tempo. Analisando o império Persa, com um passado tão rico e cheio de possibilidades culturais e na atualidade onde este império teve início “no Irã” há implantado a pena de morte para quem beber vinho. De fato mergulhar na história tentando tirar crenças pessoais e olhares tendenciosos por narrativas, tem se tornado um exercício que requer um grande afinco mental para correlacionar os povos na antiguidade, as suas culturas, as suas histórias, as suas rotas comerciais, as suas alterações geográficas e as peças do xadrez alteradas pela geopolítica ao longo dos tempos. Espero que com este artigo algumas informações importantes sobre a história do vinho possa lhe engrandecer também em cultura geral.
Desejo boas provas e saúde!


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