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O Vinhedo do Gênio

A vinha de Leonardo da Vinci (1452-1519) está localizada na cidade de Milão, ele foi apaixonado pelo vinhedo que lhe foi “dado”, que está inclusive mencionado no famoso “Codex Atlanticus“, sua maior coleção de desenhos e escritos. Chegou a registrar estudos sobre viticultura, vinificação, preservação de vinhos e até sobre a relação de vinho e a saúde. Desde a época em que o grande gênio o cultivou, o local passou por grandes mudanças e inúmeros acontecimentos históricos, o que hoje podemos ver e visitar in loco é fruto de um trabalho de uma grande equipe comandada por Luca Maroni que se formou em torno do estudo da “La Vigna di Leonardo“, para a comemoração dos 500 anos do gênio.

La Vigna di Leonardo por Dayane Casal

Um Breve Histórico de Fatos Importantes Sobre O Vinhedo de Leonardo

1482 – Leonardo da Vinci se muda de Florença para Milão para servir a Ludovico Sforza, o duque de Milão;
1498 – Ludovico “presenteia” Leonardo com um terreno de 1 hectare, uma área de vinha em San Vittore;
1499-1500 – O exército francês derrota Ludovico e Leonardo abandona Milão, há o confisco de todas as doações do duque incluindo o vinhedo de Leonardo;
1506 – É devolvido o vinhedo ao Leonardo, na ocasião ele estava morando em Amboise a convite do rei da França;
1519 – Leonardo da Vinci morre em Amboise e um mês antes de sua morte, ele deixa em seu testamento metade do vinhedo para Giovanbattista Villani (criado que o acompanhou até o final da vida) e a outra metade para Gian Gianomo Caprotti (conhecido como Salai, ele era pintor e seu discípulo e havia construído uma pequena casa no vinhedo);
1524 – Salai morre e Francesco Il Sforza (o último duque de Milão) doa a parte do restante do vinhedo para um parente chamado Giacometto Della Tela (o fundador da dinastia Atellani);
Durante 4 séculos não se ouviu mais falar sobre o vinhedo;

Início século XX – Um estudo realizado pelo destacado arquiteto Luca Beltrami mencionou o lugar do vinhedo, ele foi o responsável pela reconstrução do Castelo Sforza e inúmeros outros edifícios da cidade. Ele tinha um interesse pela vida de Leonardo da Vinci e compilou uma enorme coleção de documentos cronológicos da sua obra e através dos seus documentos relacionou a exata área em San Vittore onde estaria o vinhedo do gênio, um terreno atrás da Casa degli Atellani (um local comprado pelo Industrial Ettore Conti);
1920 – Beltrami fotografou e publicou sua vasta pesquisa no livro “El viñedo de Leonardo”;
1930 – Surgiu um novo bairro residencial sobre os campos e vinhedos abandonados remodelando toda a área do distrito, o vinhedo de Leonardo se reduziu a uma pequena parcela de terra e algumas fileiras no jardim da Casa degli Atellani;
1943 – Bombardeios da guerra atingiram em cheio a Casa degli Atellani e todo o seu arredor ficou também sob escombros, após a guerra a estrutura da casa foi reconstruída mas o vinhedo de Leonardo ficou esquecido por cerca de 70 anos.

O Ressurgimento do Vinhedo do Gênio

Já no século XXI a Fundação Portaluppi e os herdeiros de Ettore Conti e Piero Portaluppi proprietários da Casa degli Atellani começaram uma enorme pesquisa histórica e sem precedentes até então, pois queriam descobrir que tipo de casta cultivava Leonardo da Vinci no século XV, para isso, tiveram a ajuda da Faculdade de Ciências Agrícolas de Milão. Enólogos, geneticistas e especialistas em DNA de uvas comandados pelo Luca Maroni escavaram o terreno onde se localizava o vinhedo de Da Vinci, levaram cerca de 11 (onze) anos para localizar e restabelecer a vinha dele, que teria ficado em pé por 450 anos até sofrer sua destruição pelos bombardeios durante a 2º Guerra Mundial (1943).

No ano de 2007 iniciaram escavações arqueológicas na parte interior do jardim da Casa degli Atellani baseado nas fotografias publicadas por Luca Beltrami em 1920, foram encontrados material orgânico que foi identificado como uma espécie de Vitis vinifera, e a partir do material genético da videira em mãos, os pesquisadores compararam com espécies de variedades cultivadas na época e a pesquisa chegou ao resultado que o gênio cultivava a Malvasia Branca e que no século XV era denominada de “Malvasia di Candia”.

Em seguida começaram a preparar o solo do jardim e em 2015 o vinhedo foi replantado baseado no material genético das uvas cultivadas originalmente por Leonardo.

O Vinho do Gênio

Como resultado de todo esse empenho e esforços foi produzido a matéria-prima “as uvas douradas” que foram vindimadas em 12 de Setembro de 2018, e em seguida foram fermentadas em ânfora de terracota e enterradas seguindo o método greco-romano da elaboração de vinhos. Nesta primeira safra do vinho do gênio foram engarrafas 330 garrafas denominadas “Opere” compostas por um decanter exclusivo, numerado e com um selo de garantia. Parte dessas garrafas foram leiloada em parceria com a organização que administra o museu onde está a vinha na atualidade “La Vigna di Leonardo“.

A obra de Leonardo da Vinci neste mundo é algo imensurável, um homem em busca constante do conhecimento e este de uma forma multidisciplinar. Ele foi o arquétipo clássico da época do Renascimento, amou a universalidade do saber e isso evidencia o porque ele foi um gênio em todos os sentidos da palavra, e nada melhor para coroar este exemplo de ser humano, que após ter passado tantos séculos inspira a tantas pessoas nos quatro cantos do mundo, do que degustar um vinho produzido a partir do que ele tanto se dedicou em seus estudos e experiências e que ficaram registrados dentro do Códex e em sua história impar.

Desejo que este exemplo da busca pelo saber possa continuar a nos inspirar sempre leitores, boas provas e saúde!

Fonte:

Mundo dos Vinhos por Dayane Casal