A celebração do bicentenário das relações entre Brasil e Hong Kong terá um sabor especial… e tipicamente brasileiro. O chef Rafa Gomes já está do outro lado do mundo para uma série de quatro jantares no hotel Carlyle & Co, representando a gastronomia nacional.
“Me sinto muito honrado toda vez que recebo um convite como esse e espero sempre representar o Brasil da melhor forma possível”, afirma.
Esta não é a primeira vez do chef no destino. Há 12 anos atrás Rafa conheceu e se encantou com a organização, limpeza e a ampla cena gastronômica local. Neste retorno espera aproveitar a oportunidade também para trocas e aprendizados com outros chefs e enriquecer seu repertório com diferentes técnicas.
Seu maior objetivo, porém, será projetar a culinária brasileira. Tanto que o menu está recheado de pratos tipicamente nacionais que prometem encantar o paladar dos comensais locais. De Coxinha de frango com catupiry, passando por Espetinhos de carne, com farofa e vinagrete, até Bobó de camarão serão servidos.
Mas Gomes conta que sua grande aposta é o pão de queijo. “Por mais simples que pareça pra nós, brasileiros, o pão de queijo é sempre um super sucesso junto ao público estrangeiro. É simples, gostoso e com uma textura diferente do que estão acostumados”, destacou.
Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
O clube de vinhos tradicional — com envios trimestrais, seleções fixas e compromissos rígidos — começa a apresentar sinais de desgaste. Diante das mudanças no comportamento do consumidor e da necessidade de adaptação, algumas vinícolas passaram a repensar um modelo que permaneceu praticamente inalterado por décadas.
No condado de El Dorado, Califórnia, a algumas horas ao norte do Vale de Napa, a Edio Vineyards propôs um novo formato que desafia o padrão vigente. A vinícola passou a oferecer uma associação mensal, no modelo “pague conforme usar”, em que os valores pagos são acumulados em uma conta do cliente. O saldo pode ser usado livremente para comprar vinhos, sidras, alimentos ou produtos de uma padaria no local.
Christine Noonan, coproprietária e gerente-geral, afirma que a motivação para reavaliar o sistema veio da própria experiência no setor “Estando no setor de vinhos há algum tempo, percebi e aprendi que o sistema tradicional de clube de vinhos é um pouco arcaico”, diz à Forbes. “Está ultrapassado. Os consumidores não querem ser obrigados a receber determinados vinhos e estão mais interessados em personalizar suas escolhas.”
Clubes de vinho tradicionais continuam a atender a um público mais velho. Um estudo de 2024 mostra que a idade média dos associados é de 59 anos, sendo que mais de 75% têm mais de 50 anos. Cerca de 50% estão aposentados e aproximadamente 33% têm renda superior a US$ 400 mil (R$ 2,4 milhões) por ano. Esse modelo consolidado enfrenta maior resistência entre consumidores mais jovens — especialmente millennials e geração Z — que demonstram pouco interesse em clubes com envios trimestrais fixos e preferem alternativas personalizadas e mais flexíveis.
Segundo a pesquisa “Silicon Valley Bank Direct-to-Consumer Wine Survey 2024”, 19% dos membros de clubes de vinho cancelaram suas assinaturas, refletindo uma insatisfação generalizada com o formato convencional. Mesmo assim, 40% das vinícolas não monitoram a rotatividade dos membros, o que dificulta a retenção de clientes e a adaptação às novas expectativas.
A flexibilidade está no centro do novo modelo. Os membros pagam uma mensalidade — a partir de US$ 39 (R$ 234) — que se acumula com o tempo e não expira. O saldo pode ser usado conforme a conveniência do cliente. O modelo se assemelha mais a uma carteira digital do que a uma assinatura.
“Não gostamos de chamar isso de ‘clube por assinatura’ porque vai além disso”, afirma Noonan. “A palavra ‘assinatura’ é usada em excesso e muitas vezes não oferece muito. Algumas assinaturas continuam cobrando mesmo quando a pessoa já nem percebe mais.”
Em vez disso, a Edio chama o serviço de “conta de membro”. O objetivo é eliminar surpresas e evitar que os associados sejam pressionados a adquirir produtos que não desejam. Os membros decidem quando e como querem usar o saldo. Para alguns, isso pode significar uma única visita anual para reabastecer a adega. Para outros, visitas menores e mais frequentes, usando os créditos para uma garrafa de sidra e uma tábua de queijos, por exemplo.
A iniciativa acompanha uma mudança geracional. Com a maior parte dos novos cadastros feita por consumidores millennials e da geração Z, cresce a demanda por personalização e transparência. “Como todos os proprietários são millennials, naturalmente pensamos no que gostaríamos de ter”, comenta Noonan.
A mudança, no entanto, traz desafios. Abandonar os envios fixos torna mais difícil prever a demanda e gerenciar o estoque. “Para marcas maiores, pode ser difícil saber quais vinhos terão saída”, afirma. “Pode haver problemas de estoque ou decisões sobre interromper a produção de um determinado rótulo.”
A solução adotada pela Edio é liberar os vinhos primeiro para os membros, em um modelo por ordem de chegada. Quando um produto acaba, não é reposto. A comunicação com os clientes se torna essencial. “Temos nos concentrado bastante na comunicação”, diz Noonan. “Entramos em contato com frequência para incentivar os membros a fazerem um pedido quando o saldo estiver acumulado.”
O modelo também resolve uma preocupação antiga das vinícolas: a previsibilidade financeira. Mesmo com a flexibilidade na utilização dos créditos, a Edio continua recebendo uma receita mensal estável. “Esse foi o meu maior desafio ao pensar em uma nova estrutura de clube — precisávamos de uma renda previsível”, afirma Noonan. “Mas a vantagem desse modelo é que continuamos tendo isso, agora de forma mensal.”
Até o momento, os resultados parecem positivos. “A taxa de cancelamento é significativamente menor do que a do nosso clube tradicional, e estamos vendo uma taxa de retenção melhor”, diz. “Os clientes gostam da possibilidade de personalizar e também de fazer pagamentos mensais menores, em vez de cobranças trimestrais maiores.”
Outras vinícolas observam a mudança com interesse, mas muitas ainda não estão prontas para reformular seus próprios modelos. Na Romeo Vineyards and Cellars, no Vale de Napa, a gerente-geral Mary Simmons afirma que a tradição ainda tem seu espaço. A vinícola permite que os membros ajustem ou pulem envios, mas mantém a estrutura básica inalterada. Segundo ela, o formato oferece benefícios próprios.
“Nossos membros valorizam a consistência e a qualidade dos envios semestrais tradicionais, que oferecem uma seleção cuidadosamente montada sem sobrecarregá-los com entregas frequentes”, diz Simmons. “Essa abordagem nos permite manter uma conexão significativa com os membros e garantir que recebam a quantidade certa de vinho nos momentos adequados.” Ainda assim, ela reconhece a mudança no setor. “Há uma tendência crescente na indústria por modelos mais personalizáveis, especialmente entre os consumidores mais jovens que valorizam a flexibilidade.”
A Wayfarer Vineyard, na Costa de Sonoma (EUA), segue um modelo híbrido. A vinícola realiza três envios por ano e permite total personalização, incluindo seleção de rótulos alternativos e acesso a vinhos do acervo. “Por que correr o risco de perder membros ao forçá-los a receber uma seleção fixa de vinhos?”, questiona Cleo Pahlmeyer, proprietária e gerente-geral. “Os membros do clube têm prioridade em tudo o que fazemos.”
Na Wayfarer, os níveis de associação são limitados propositalmente. “O nível inicial inclui 18 garrafas por ano, e a maioria dos nossos rótulos custa US$ 100 (R$ 600) ou mais”, diz Pahlmeyer. Mesmo assim, a vinícola lançou uma segunda marca, a WF2, com preços mais acessíveis para atrair um público mais jovem.
“Estamos percebendo que esses vinhos, com boa relação custo-benefício, estão agradando aos consumidores mais jovens”, afirma. “Há clientes que, por enquanto, compram apenas os vinhos pinot noir da WF2 — mas esperamos que, com o tempo, também se interessem pelo restante do nosso portfólio.”
Essa visão de longo prazo — reduzir barreiras de entrada e construir lealdade com o tempo — também está presente na estratégia da Edio. “Um modelo de pagamento conforme o uso pode ser um primeiro passo para clientes que, futuramente, migrem para uma associação mais tradicional”, diz Simmons.
Pahlmeyer compartilha da mesma perspectiva sobre fortalecer o relacionamento com os clientes, independentemente do modelo. “O objetivo é oferecer uma proposta de valor sólida que também incentive um envolvimento mais profundo com nossos vinhos”, conclui.
O Reino Unido está localizado entre as latitudes 50° e 60° N, estava até pouco tempo atrás fora das áreas “normalmente” tidas como qualitativas para a produção de boas uvas para vinificar bons vinhos segundo alguns autores. Ao longo das últimas décadas temos visto uma alteração significativa de novas áreas produtivas de Vitis vinífera devido sobretudo as alterações climáticas, possibilitando novas rotas no mapa de produção de vinhos. Atualmente o país se inclui nisto e possui diversas regiões produtoras, tendo as mais populares Kent, Hampshire e Sussex , sendo esta última a única Denominação de Origem Protegida (PDO) até o momento e que já visitei vários produtores e escrevi artigos sobre ela, os links para lê-los estão no final deste texto. Mas há outras regiões distribuídas como East Anglia, Dorset, Gloucestershire, Herefordshire, Worcestershire, Staffordshire e Yorkshire. Neste artigo me deterei a comentar exclusivamente a região de Hampshire, que atualmente foi meu último destino vínico e que ainda não conhecia in loco.
Um Resumo Histórico
Poucos sabem, mas a viticultura na Grã-Bretanha tem evidências de ser antes da época dos romanos. Segundo o Prof. Emérito e Pesquisador de Geologia da Imperial College London, Richard Selley, que publicou o livro “The Winelands of Britain” relata que foram encontradas evidências que já se produziam vinho nessas terras desde a era do ferro e que os celtas ingleses utilizavam essa prática antes da chegada dos romanos. Essa evidência foi constatada com a descoberta de “vasos” em escavações, que eram utilizados pelos celtas e também em relatos registrados pelo senador e historiador romano Tácito (56-117 DC) que descreveu como os celtas ingleses eram realmente bárbaros quando bebiam vinho e em seus momentos de brindes.
Ao que parece a produção de vinhas e vinho na Inglaterra teve altos e baixos ao longo dos séculos, e teve um grande decréscimo após a Idade Média e teve seu significativo declínio marcado pela época da Peste Negra, só começando a se recuperar no século XX. A região de Hampshire em 1952 recebeu o seu primeiro plantio de vinhedo comercial por Sir Guy Salisbury-Jones, um verdadeiro marco histórico para região que vem crescendo como sinônimo de qualidade para a produção de excelentes espumantes.
Características do Terroir Hampshire
Com um terroir com características notáveis para a produção de belos espumantes, Hampshire apresenta uma semelhança em sua geologia com a sub-região Côte des Blancs em Champagne na França, por possuir riqueza em seus solos de giz. Este é um tipo de solo calcário que dispõe de excelente drenagem e baixa fertilidade, força as raízes das Vitis se deslocarem na procura de nutrientes e água em profundidade, contribuindo para a produção de uma matéria-prima mais concentrada e complexa, que gera uma bela acidez e mineralidade presente nestes distintos vinhos.
O clima é temperado, verões frescos e invernos rigorosos. Hampshire é influenciado pela Corrente do Golfo que ajuda a moderar as temperaturas, em especial nas áreas mais costeiras. As alterações climáticas tem favorecido o cultivo de tipos de Vitis viníferas que antes eram impensáveis a sua produção nestas terras. Os altos níveis de adicez natural das uvas qualitativas para a produção de ótimos espumantes é influenciado pelas noites mais frias e as brisas marítimas frescas. E semelhante a região de Champagne, a região de Hampshire também sofre com as geadas da primavera. Os produtores tendem a tentar mitigar o problema plantando parcelas em diferentes áreas para não comprometer por completo a safra anual, quando o intempérie assola a região.
Um detalhe importante de observar num terroir e em determinadas parcelas mais qualitativas em resultado de produzir bons vinhos de forma mais consistente é o seu aspecto. Os vinhedos plantados nas colinas South Downs e Test Valley, apresentam-se suas encostas voltadas ao sul, logo conseguem concentrar uma maior exposição a luz solar e também são protegidos de forma natural pelos fortes ventos frios que vem do norte. Outra barreira protetora que os produtores utilizam em suas práticas agrícolas é a plantação de “hedgerow”, que são as cercas vivas plantadas com árvores em linhas entre as parcelas de vinhas, que formam uma espécie de escudo aos vinhedos.
A partir dos anos 2000 foram adotados o plantio das castas semelhantes as da região de Champagne e que na atualidade ainda são as mais cultivadas, a Chardonnay, a Pinot Noir e a Pinot Meunier, que fazem parte da maioria dos blends dos produtores da região. Há também a produção em menor escala da uva Bacchus que se destina a produção de vinhos tranquilos. Esta é um cruzamento da Silvaner x Riesling com a Müller-Thurgau criada em 1933 pelo viticultor Peter Morio no Instituto Geilweilerhof de Melhoramento de Uvas no Palatinado.
Já com 180 medalhas, 16 troféus e exportando para 16 países, a Hattingley Valley localizada na região de Hampshire é um dos fenômenos vitivinícolas da Inglaterra. Suas primeiras vinhas foram plantadas em 2008 pelo proprietário Simon Robinson e de lá para cá um sólido percurso foi construído tendo sempre o norte de produção de grandes espumantes de qualidade premium.
Robinson sob a orientação técnica da Emma Rice não economizou e construiu uma vinícola ímpar em seu país, os melhores e mais modernos equipamentos foram instalados e que na atualidade podemos constatar o poder da visão a longo prazo, sobretudo quando nos referimos ao setor dos vinhos, onde o tempo é fundamental e essencial para consolidação de uma marca e de um investimento. Já há dois anos a Hattingley Valley está sob o comando técnico do Master of WineRob Macculloch que dirige toda a enologia e a viticultura, já o setor comercial e de marketing é dirigido pelo australiano Chris Unger, que além de ser super simpático, possui já uma larga experiência dentro do setor dos vinhos.
Crédito de Imagem: Dayane CasalCrédito de Imagem: Dayane CasalCrédito de Imagem: Dayane CasalCrédito de Imagem: Dayane CasalCrédito de Imagem: Dayane Casal
Algo interessante de mencionar sobre este produtor é que ele segue a linha “eco-friendly”, e antes de instalar as suas plantações de Vitis, Simon Robinson encomendou um levantamento sobre a fauna e a flora da sua área de fazenda e recebeu um detalhado relatório que incluía a presença da “Silver-washed Fritillary”, uma borboleta comum na Europa, mas rara na Inglaterra. Esta informação inspirou a criação da logomarca do produtor, que estampa está linda borboleta.
Crédito de Imagem: Dayane Casal
Toda a infraestrutura da Hattingley Valley é primorosa e pensada ao pormenor, uma higiene irrepreensível e tudo organizado de forma meticulosa. Outro aspecto de informação importante foram o uso de imagens de satélites que fizeram registros fundamentais para identificar as melhores áreas para a implantação dos vinhedos, levando em consideração as melhores parcelas de solos de giz e aspectos do terreno como algumas encostas de colinas voltadas ao sul. A tecnologia aliada a grandes profissionais fez com que as condições ideais de áreas do plantio da Vitis vinífera fossem encontradas dentro da fazenda do Simon Robinson, e hoje está evidenciada pelo alto nível qualitativo da matéria-prima produzida para a vinificação dos seus grandes vinhos.
Os vinhos de destaques são os seus espumantes pelo método clássico que variam de 18 meses a 7 anos de estágio, onde alguns passam a primeira fermentação parcial em tanque de inox e em barril de carvalho, outros são submetidos a malolática o que lhes confere uma complexidade incrível. O produtor também produz um branco tranquilo 100% Chardonnay e um vinho de sobremesa estilo “Ice Wine” com a uva Bacchus. O vinho que destaco e convido a todos provarem é o espumante Kings Cuvée 2017 com 7 anos de estágio sur lees, vinificado como um blend clássico a partir de 45% Chardonnay, 27% Pinot Noir, 28% Pinot Meunier. Apresenta uma complexidade e equilíbrio incrível, extremamente gastronômico e com belo fim de boca. Uma curiosidade é que este vinho já recebeu 6 medalhas e 3 troféus.
Para finalizar esta rápida apresentação do produtor Hattingley Valley, nele também são vinificados vinhos para outras empresas e marcas. Dentro do setor dos vinhos já há tempo é disseminado que produtores da região de Champagne na França tem comprado áreas e plantado Vitis vinífera em solos com mais latitude norte como os da Inglaterra. O país liberou que marcas como a Pommery pudessem usar suas marcas vinificando dentro do solo inglês. No caso desta marca, como as suas Vitis vinífera ainda não estão aptas a produção por serem muito jovem, eles tem comprado uva na região de Hampshire e vinificado dentro da Hattingley Valley. Em minha visita a empresa pude ver in loco inclusive a rotulagem com a tradicional logomarca na etiqueta da marca.
Estilos de Vinhos Produzidos em Hampshire
O estilo de vinho predominante em Hampshire são os espumantes, com as clássicas castas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier. Há a produção em menor escala de vinhos tranquilos também.
De modo geral os espumantes de Hampshire se destacam pela belíssima acidez vibrante em boca, dependendo do produtor e do estilo de vinificação do seu vinho base alguns apresentam muita complexidade e se tornam verdadeiramente gastronômicos, já outros perfeitos para acompanhar qualquer momento do dia. A maior produção são de espumantes premium que apresentam um belo equilíbrio entre os aromas e sabores primários e a presença também de discretos autolíticos, uma mousse agradável e delicada em boca e excelente acidez. São espumantes que verdadeiramente não passam indiferentes aos amantes desta bebida.
Palavras Finais
Conhecer novos terroirs in loco tem me abastecido de ricas informações e experiências, sobretudo daquelas que as telas não conseguem transmitir que é o contato humano e a sensibilidade de perceber através de um olhar treinado e profissional o que se passa em cada visita e em cada nova prova de vinhos. O saber receber e fazer o visitante se sentir especial contribuem não só para as relações comerciais ao qual o objetivo são as vendas para manter a empresa viva, mas sobretudo criar laços de amizades e amplificar as trocas de informações e experiências dentro do setor como um todo.
Crédito de Imagem: Dayane Casal
Gostaria de fazer um agradecimento especial ao Chris Unger pela recepção, pela bela visita e fantástica prova. Ao produtor Simon Robinson que disponibilizou seu tempo para acompanha-me em todo o momento. De fato sai da Hattingley Valley com o coração cheio, por ver in loco a cultura vínica ser tratada com tanto respeito e profissionalismo. Desejo ainda mais sucesso aos vinhos da Hattingley Valley e de toda a região de Hampshire.
As casas de vinhos do Porto são o que há de mais tradicional no tradicional mundo dos vinhos. A fórmula foi criada no século XVII, quando se acrescentou aguardente vínica aos vinhos a fim de que ficassem mais fortes para suportar as turbulentas e longas viagens marítimas rumo à Inglaterra. O produto “fortificado” acabou sendo batizado com o nome da cidade de onde era exportado. De forma a garantir que os sabores dessa preciosidade jamais sejam desvirtuados, os modos de produção são certificados e avaliados de forma rigorosa pela Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, o IVDP.
O Douro, região nordeste de Portugal, onde ficam as vinhas e a produção de boa parte das vinícolas, tem um dos céus estrelados mais belos do mundo e seus vinhedos serpenteiam as encostas em terraças (barragens construídas apenas com pedras empilhadas, sem cimento), onde acredita-se que há pelo menos 2.000 anos se produz uvas nessa região. Na margem oposta à cidade do Porto fica Vila Nova de Gaia, com seus rabelos atracados à margem do rio e galpões com teto escurecido pelo vinho que ali evaporou no envelhecimento. Esse cenário hoje é o grande cartão-postal do braço de enoturismo das vinícolas da região.
Foi nessa paisagem e ambiente que nasceu e cresceu Jorge Rosas, atual CEO da Ramos Pinto, casa fundada em 1880 por seu bisavô Adriano Ramos Pinto (os produtos dessa vinícola chegam ao Brasil pela importadora Épice). Filho de pai português e mãe paulistana, Rosas está no comando da empresa que desde 1990 faz parte do grupo francês Louis Roederer, tradicional casa de champanhe que produz entre outras a histórica Cristal. Há 10 anos Jorge Rosas tem sido responsável por transformações “um bocadinho revolucionárias”, como ele mesmo diz, mas que sem elas talvez a região não teria se consolidado como essa potência da viticultura mundial, ou “desaparecido”, segundo ele.
Graças a um departamento inteiro voltado à pesquisa e desenvolvimento e um investimento de 14 milhões de euros, foi possível criar um robô para substituir pés humanos na tradicional pisa, maneira que as uvas são amassadas para dar início à produção do vinho. Essa máquina reproduz exatamente a pressão e ritmo humano, fazendo assim uma “maceração pelicular”, que é mais suave, não tem a intensidade da prensa usada para os tintos tranquilos. A máquina não pressiona as sementes, reproduzindo a intensidade feita pelos pés humanos. Sem esse cuidado, podem sobrar sabores desagradáveis ao vinho. Confira aqui um vídeo com o robô em operação:
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O robô fez um enorme sucesso, mas não eliminou o trabalho humano — e nem vai eliminar. “Hoje a pisa a pés ainda é 50% da nossa produção. Mas a mão de obra para esse serviço estava cada dia mais escassa e depois da pandemia foi preciso elaborar outra maneira”, explica o CEO. Antes essa função era feita majoritariamente por búlgaros e ucraniano. Depois de um tempo, passou a ser de imigrantes de países lusófonos (Cabo Verde, Moçambique). O problema passou a ser a rotatividade dos operários. Eles aprendiam o trabalho e, na colheita seguinte, eram raros os que permaneciam por lá. Com a introdução da tecnologia, não faltaram mais pés para produzir o Porto.
MUDANÇAS SUSTENTÁVEIS
Outra inovação da Ramos Pinto foi a criação de um corredor entre os vinhedos para abrir espaço a alguma mecanização, principalmente para o transporte das uvas, que continuam sendo colhidas a mão. Inicialmente, utilizavam-se roçadeiras movidas à gasolina para limpar o espaço entre as videiras. Agora, elas estão sendo substituídas por elétricas, de forma a evitar emissão de CO2. No inverno, em vez das máquinas, entram em ação ovelhas anãs para fazer o mesmo serviço. Fora dessa estação ela ficam de fora da plantação, já que, além de roças os matinhos entre as videiras, elas esticavam os pescocinhos para comer as folhas e brotos das videiras. “Há 14 anos não colocamos herbicidas no solo e até 2031 todo nosso vinhedo será orgânico”, diz Jorge Rosas.
Parte da propriedade já está operando com biodinamismo, o que segundo o CEO traz um imenso ganho na qualidade do solo. “Se imaginarmos que herdei vinhos produzidos pela minha família há 100 anos e estou fazendo vinhos que só serão consumidos quando eu estiver enterrado, cuidar do solo e do que deixamos para as futuras gerações faz todo sentido”, conta.
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Os vasilhames dos Portos mais envelhecidos da Ramos Pinto também estão passando por uma leve mudança de identidade. “Eles são inspirados na nossa garrafa mais antiga, de 1815, mas com algumas gramas a menos”, afirma. O peso das garrafas é uma campanha forte de uma entidade da região chamada Porto Protocol, que visa emitir menos CO2 na atmosfera com o transporte desse vinho que é mandado para os quatro cantos do mundo. A madrinha dessa campanha é a inglesa Jancis Robinson, uma das mais importantes especialistas em vinho da atualidade. Mas não se preocupem: continua intocável a garrafa de 500 ml de um Tawnys (estilo envelhecido em madeira entre quatro e seis anos), que é famoso internacionalmente e ganhou apelido de Adrianinho, em Portugal. Outra campanha extra-oficial de Rosas é o tamanho das taças onde normalmente são servidos os Portos. “Aquelas pequeninas de licor ou as ISO que têm a boca mais estreita não nos permitem sentir todos os aromas de um vinho que leva anos para estar pronto para ir à mesa”, diz.
Duas recomendações para quem aprecia um bom Porto para finalizar as refeições, fumar um charuto ou apenas degustar lendo um livro e olhando a paisagem. A primeira: deixe a garrafa na adega ou na porta de geladeira. Resfriado, esse vinho é muito mais prazeroso de se tomar. A segunda dica: abandone as tacinhas, conforme a recomendação de Jorge Rosas. Uma taça de vinho branco é bem mais adequada ao Porto e vai descortinar um universo de aromas e sabores. Garante a colunista aqui que vos escreve e teve a oportunidade de degustar com Jorges Rosas um Tawny de 10 anos da Quinta Ervamoira e o Adrianinho: isso faz toda diferença.
Bem que avisou o microbiólogo escocês Alexander Fleming (1881-1955), que salvou inúmeras vidas ao descobrir o primeiro antibiótico, em 1928: “A penicilina cura, mas o vinho faz as pessoas felizes”. E as melhores garrafas, reza a sabedoria enófila, são aquelas consumidas em boa companhia. Uma prova disso é a multiplicação das salas e espaços reservados em bares e restaurantes dedicados a encontros nos quais a bebida é a protagonista. O aprendizado sobre um assunto vasto, cercado de detalhes, traz autonomia para a escolha nas prateleiras e ainda impulsiona a vida social. “As amizades proporcionadas são diferentes e ricas. É um mundo de descobertas, envolvendo todos os sentidos”, opina Ana Maria Magalhães, 69 anos, funcionária pública aposentada que bate ponto em eventos deste tipo toda semana. “Não tem ninguém sozinho, são sempre grupos, amigos ou casais”, concorda Ettore Amêndola, 54 anos, dono do Sabrage, animado bar em Copacabana que promove encontros quinzenais.
Mercearia: eventos se esgotam em menos de 48 horasSousa/Divulgação
A pandemia — sempre ela — fez o interesse pelos vinhos saltar no país. Entre 2019 e 2022, o crescimento do consumo foi de 50%. Agora, o barato parece estar não mais na busca de uma uva ou estilo específico, mas na exploração do que há de novo. De preferência ao lado de quem fabricou a bebida. “É praticamente uma aula quando há a presença de um representante da vinícola”, diz a produtora de eventos Adriana Costa, 49 anos, que frequenta os jantares com amigas. O advogado aposentado Luis Spalding, 69, já participou de mais de dez reuniões na Vinho S’il Vous Plaît, loja em Ipanema dedicada aos brasileiros de pequenos produtores. “Cada encontro traz novas conversas e histórias, mas o importante é que ficamos por dentro das novidades”, afirma. Os encontros didáticos e divertidos oferecem um novo caminho de faturamento para os empreendedores. Na Mercearia da Praça, também em Ipanema, as vagas para degustações com rótulos portugueses se esgotam em 48 horas. “Vendemos de vinte a trinta garrafas ao final de cada jantar. Todos querem levar para casa o que ex perimentaram”, comemora o sócio Fábio Bastos.
A arte de celebrar entre taças é milenar, vide a passagem bíblica em que Jesus Cristo transforma a água em vinho ou os simpósios da Grécia Antiga, regados ao líquido dionisíaco. Quem se aventura em uma dessas salas fechadas nota que o público é formado, em maioria, por mulheres acima dos 50 anos, mas os organizadores garantem que o público vem rejuvenescendo. Atrair quem bebe em cadeiras de praia é um desafio comprado pelos adeptos dos chamados naturais. “Vamos conseguir trazê-los porque são curiosos e interessados. As salas estão mais abertas a falar, por exemplo, dos orgânicos e dos laranjas”, atesta a sommelière Maíra Freire, sócia do Libô, com charmosa cave subterrânea no casarão do século XIX, em Botafogo. Há 18 anos vivendo entre garrafas, a sommelière Elaine de Oliveira diz que os restaurantes já entenderam que se trata de um filão, tanto que criou uma confraria na Casa Horto. “Podemos viajar pelo mundo sem sair do lugar”, opina. Para todos os envolvidos, vale a máxima bem-humorada que subverte uma frase famosa: “Com o passar dos vinhos, os anos ficam melhores.”
Roteiro para degustar./Veja Rio
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No esquema tradicional dos botecos da cidade, o Jurubeba oferece agora um prato diferente para cada dia da semana. No cardápio do chef Elia Schramm, o baião-de-dois sai às segundas, com feijão-de-corda, carne-de-sol, queijo-de-coalho, bacon, pimenta-biquinho, coentro e castanha-de-caju picada (R$ 54,00), e o arroz marítimo leva lula, camarão, mexilhão e peixe, coroado por saladinha de tomate e cebola-roxa (R$ 64,00), servido na quinta.
Sexta tem feijoada (R$ 52,00 ou R$ 98,00, para dois), e o esquema permanece no fim de semana com o escalopinho ao molho madeira e arroz à piemontese (R$ 79,00 ou R$ 155,00), e a bacalhoada (R$ 82,00 ou R$ 158,00), respectivamente, no sábado e no domingo. O chope Brahma (R$ 10,50) refresca, e a batidinha de curau de milho (R$ 9,00) esquenta, com a cara da estação.
Rua Real Grandeza, 196, Botafogo (40 lugares). 12h/0h (dom. até 23h). @jurubeba.bar
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Não tem outra história: quem visita a Bienal do Livro – que começa nesta sexta (13) e vai até 22 de junho, no Riocentro – precisa reservar uma verba extra para comer e beber enquanto passeia pelos 130 000 metros quadrados de corredores abarrotados de obras e atrações. Afinal, o maior festival de literatura, cultura e entretenimento do país
convida o público para um programa de dia inteiro, e seu endereço, a 35 quilômetros do Centro do Rio, concentra dezenas opções para quem tem mais do que fome de ler. Nesta 22ª edição, os visitantes poderão escolher desde clássicos cariocas a novidades, do café da manhã ao jantar.
Para beber, já fica a dica: vale levar uma garrafinha para abastecer nos bebedouros, pois o a de 500ml está à venda por R$ 10. Em média, as bebidas custam mais ou menos o mesmo preço em todos os lugares. O mais barato é o guaraná natural, a R$ 8. O mate sai por R$ 10 e a cerveja Heineken, a R$ 18. Para comer, há opções que cabem em todos os bolsos, em barraquinhas e food trucks de marcas como Geneal, Bob’s, T.T. Burger e Rei do Mate. Também tem empanadas argentinas, pratos da culinária asiática com o Asian Food e o Home Sushi, além crepes franceses. Sem contar brigadeiros artesanais da Rainhas do Brigadeiro, donuts, balas de coco, tortas e bolos de pote.
E tudo pode acabar em pizza numa experiência oferecida pela Intrínseca, em parceria com a Forneria Original, que recria a pizzaria Freddy Fazbear’s, da série de videogames e livros Five Nights at Freddy’s. Lá as mais em conta são muçarela e marguerita (R$ 18 a fatia e R$ 89,90 a redonda de 30cm de diâmetro para compartilhar). Também tem opções mais turbinadas, como catupiresa e frango com catupiry (R$ 22 e R$ 119,90).
Confira alguns preços
Mini comidinhas
Picadinho carioca, com arroz e farofa brasileira: R$ 38
Feijoadinha, com arroz e farofa brasileira: R$ 37
Massa a bolonhesa: R$ 28
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Nasaj, de culinária árabe
kibe e esfirra: R$ 15 cada
Geneal
Cachorro-quente com batata chips e uma bebida: R$ 30
Biscoito Globo: R$ 8
Lecadô
seis unidades de pão de queijo: R$ 11
Coxinha (de frango ou costela com cram cheese), quibe ou pastel de frango: R$ 16 cada
bolos de pote: R$ 25
Tem combos com salgados, refrigerante e brigadeiro
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Especializada em fermentação natural, a Doc Bakery acaba de abrir uma charmosa unidade no Leblon. Menor que a matriz no Recreio, o novo endereço mantém o alto padrão da casa, conhecida por dedicar 48 horas a cada fornada de sourdough, base das tartines francesas do menu.
Viennoiserie: o suprême, croissant circular recheado, sabor pistache (R$ 27,00)Frederico de Souza Filico/Divulgação
A vitrine, de dar água na boca, destaca viennoiseries como o suprême — croissant circular recheado — disponível nas versões chocolate (R$ 24,00) e pistache (R$ 27,00), além do cinnamon roll com caramelo salgado (R$ 19,00).
Entre as pedidas salgadas, brilham o sanduíche Balthazar (R$ 46,00), feito com costela assada, rúcula, picles e mel no pão à escolha, e o roll benedict (R$ 45,00), que leva salmão, ovo e molho hollandaise. Rua General Venâncio Flores, 300, Leblon. Diariamente, das 7h45 às 20h (40 lugares). doc.bakery.
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Rua General Venâncio Flores, 300, Leblon. 7h45/20h (40 lugares). @doc.bakery.
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Após quase três décadas dedicadas ao delivery, a confeitaria Atelier dos Sabores, da chef Claudia Lisboa, acaba de inaugurar sua primeira franquia, agora no Shopping Tijuca.
Atelier dos Sabores: a torta Maravilha de Pistache custa R$ 215,00, a inteira, e R$ 25,90, a fatiaStudio Cromo/Divulgação
A marca, que abriu sua primeira loja física apenas no ano passado, em Copacabana, oferece tortas doces e salgadas servidas em fatias generosas, ideais para acompanhar um cafezinho passado na hora (R$ 10,90, o expresso longo).
Entre os sabores mais pedidos, destacam-se a maravilha de pistache (R$ 25,90 a fatia), feita com massa de pão-de-ló, e a bem-casado de morango (R$ 23,90 a fatia), que segue a mesma base.
Em um casarão charmoso de Botafogo, o Chora Café vem conquistando público fiel com seu brunch autoral, que mistura referências internacionais e ingredientes brasileiros. Um dos hits é o sanduíche de salmão defumado (R$ 55,00), servido no croissant com creme azedo, endro e raspas de limão.
Rosbife au ton é versão do clássico italiano vitello tonnato. Acompanha batata frita e saladaGiovanna Carelli/Divulgação
Outro destaque é o rosbife au ton (R$ 71,00), releitura do clássico italiano vitello tonnato, acompanhado de molho de atum e alcaparras, batata frita, ovo e saladinha.
A panqueca de banana brûlé (R$ 32,00) é destaque entre as sobremesas do Chora CaféGiovanna Carelli/Divulgação
Para adoçar, a pedida é a panqueca de banana brûlé (R$ 32,00), finalizada com castanha-do-pará caramelizada e creme de cumaru.