E o Rio de Janeiro ganhou mais um ponto gastronômico na noite de ontem (27). Mariana Rezende, a Mari do Bar da Frente, acaba de inaugurar sua nova casa, agora em Copacabana. Em uma quinta-feira de clima agradável, a comerciante – como ela se define – começou mais um capítulo.
No coração do bairro, com sua boemia única, a nova empreitada mantém a alma do Bar da Frente: frituras irresistíveis – entre elas o delicioso Porquinho de Quimono -, atendimento acolhedor e a alegria contagiante da equipe. A expectativa é conquistar ainda mais cariocas que já se identificam com o estilo autêntico de Mari.
“Peguei um empréstimo para abrir esse bar. Bate aquele frio na barriga, mas, com muito trabalho, sei que vai dar certo”, conta com brilho no olhar.
Na Rua Barão de Iguatemi, na Praça da Bandeira, o Bar da Frente se tornou referência entre os botequins mais criativos e bem-humorados da cidade – uma verdadeira referência de sucesso.
A história de Mari é contagiante com seus recortes superação e inovação. Em meio ao turbilhão da pandemia, nos anos de 2020 e 2021, ela enxergou uma oportunidade onde muitos viram apenas crise: apostou no delivery, um modelo que foi considerado inovador. “Nunca vendemos tanto quanto na pandemia”, relembra.
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O que encanta no jeito Mari de ser é a autenticidade. Sem discursos rebuscados, ela diz com orgulho que não estudou gastronomia, mas se formou no Bar da Frente.
A coluna deseja muito axé! Salve Mari, salve o Bar da Frente!
Uma das tendências do momento no mercado do vinho no Brasil é a chamada “premiunização. Isto se traduz como uma sofisticação dos consumidores, que estão comprando vinhos de uma faixa de preço um pouco mais alta, situada entre o que chamamos de “baixo custo” e os de luxo. Além disso este consumidor está diversificando seu paladar, bebendo mais vinhos de outros tipos que não apenas tintos, como brancos e rosados, e descobrindo novas origens.
Este aparente amadurecimento do consumidor aponta para um crescimento dos vinhos do Velho Mundo. Esta é uma tendência que já vem de vários anos e cresce gradualmente. Muitos importadores estão focando, cada vez mais, em atender esta demanda, aumentando seus portfolios nestas origens.
O brasileiro está entendendo cada vez mais de vinho, faz viagens, e por conta disso começou a conhecer mais o vinho europeu. O consumidor está se afastando dos rótulos mais comerciais e conhecidos para explorar vinhos de regiões menos famosas, mas igualmente ricas em história e qualidade. Essa busca por autenticidade e novas experiências está abrindo portas para vinhos de pequenas origens europeias.
O consumidor se guiava pela uva, hoje em dia, depois das viagens, que retornaram com força no pós-pandemia, mais pessoas estão descobrindo as micro-regiões da Europa. Falo das menos conhecidas, como muitas do Rhône, ou centro-sul da Itália, Espanha fora de Rioja ou Ribera, ou outras que são conhecidas, mas não como deveriam, como Chianti e Chablis.
Na França, por exemplo, temos boas descobertas de sub-regiões como Faugères, Minervois, Saint-Chinian, Corbières ou Fitou (todas do Languedoc) Bandol (Provence); Cahors e Madiran (Sudoeste), Chinon, Saumur e Bourgueil (Loire); Gigondas e Vacqueyras (Rhône).
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Na Itália, um universo. Uns poucos exemplos: Etna (Sicilia), Gavi (Piemonte), Sagrantino di Motefalco (Umbria), Valtellina (Lombardia), Roso Conero (Marche), Collio (Friuli), Aglianico del Vulture (Basilicata), Vernaccia di San Gimignano (Toscana).
Na Espanha, inúmeras possiblidades novas se abrindo. Começando pelo nordeste com Bierzo, Ribeira Sacra, Rías Baixas, Valdeorras (Galícia); Montsant, Costers del Segre, Terra Alta (Catalunha); Toro e Cigales (Castilla y León); Campo de Borja (Aragón); Jumilla e Yecla (Murcia), Utiel-Requena (Valencia); além dos Vinos de Madrid.
Portugal, embora geograficamente menor e com vinhos já bem mais conhecidos dos brasileiros, ainda guarda descobertas, como Tejo, Península de Setúbal, Lisboa, Bucelas, Beira Interior ou Algarve.
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O mercado de vinhos no Brasil está em um momento de descobertas. O interesse pelas pequenas DOCs europeias é um reflexo de um consumidor mais informado e exigente, que busca autenticidade, qualidade e novas experiências sensoriais.
Não sei se foi a goleada no dia anterior, mas encarar um novo Brasil x Argentina só foi bom porque reunia craques da mixologia. Foi assim a minha noite de ontem (26/03) no badalado Elena (Rua Pacheco Leão, 758 – Jardim Botânico), quando Alex Mesquita e sua escudeira Taynah de Paula receberam Andrés Rolando e Victoria Etchaide, do Nicky Harrison, um dos mais disputados bares de Buenos Aires, para uma noite especial.
Entre drinques e comidinhas do chef Itamar Araújo, que completaram com maestria a experiência, um bate papo informal com Alex acabou trazendo algumas informações sobre suas próximas apostas para o local. Tive a chance de experimentar o Discovery (Glenlivet Founders Reserve, Jerez Fino, Campari, Paragon Palo Santo e bitter de Laranja) que em breve entrará na carta.
Discovery, que estará em breve na carta de drinques, foi apresentado ontemTavinhu Furtado/Veja Rio
Mesquita me contou ainda que pretende homenagear bares pelo mundo onde experimentou drinques que considera especiais. E o primeiro deverá ser justamente o argentino que invadiu o Elena ontem. Uma releitura do Tropical Tea Punch (Havana 3 anos infusionado com chá tropical, brandy, damasco, coco, limão e maracujá), criado por Victoria, deverá ser apresentado em breve.
Mas pra quem acha que não há espaço no ambiente para quem não curte ou está evitando álcool, em breve haverá uma carta de mocktails. Afinal, sentar no balcão do Elena é uma experiência que tem que agradar a todos.
O restaurante Coco Bambu chega em dose dupla à Barra da Tijuca, no complexo de gastronomia do New York City Center, anexo ao BarraShopping. A marca original, que estreia no bairro da Zona Oeste, vem junto com o Vasto, do mesmo grupo, no mesmo espaço do centro comercial.
O Vasto tem filiais em cidades como Brasília, São Paulo e Recife, e tem a cozinha especializada em carnes nobres como prime rib, o bife ancho e a costela do dianteiro, mas também oferece gastronomia japonesa com sushis e rolls, assim como frutos do mar grelhados.
O Coco Bambu divide o mesmo espaço com famosos pratos como os de camarão, a moqueca e a carne de sol. Os sócios anunciam investimento de R$ 15 milhões na área de 1.865 metros quadrados do New York City Center.
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A Páscoa anda uma barra, no melhor dos sentidos. No rastro de doces vindos do Oriente Médio que viraram febre na internet, como a barra de chocolate recheada no estilo Dubai, que rendeu mais de 1,6 milhão de exibições no TikTtok, as confeitarias investem nos tabletes bem recheados.
No caso dos orientais, onde a Fix Dessert Chocolatier virou uma sensação a nível mundial com seus recheios, é notável a presença do pistache, que também está por todos os cantos nas confeitarias brasileiras, ao lado do Knafeh, sobremesa oriental feita com camadas finas de massa filo, aquela do tipo cabelinho de anjo, que empresta uma bela crocância aos recheios chocólatras.
No Café Cultura, é lançamento novo a barra de chocolate com recheio de pistache (R$ 32,00), inspirada no chocolate de Dubai que viralizou. Ela é feita com chocolate meio amargo, reheio de pistache e massa filo. @cafecultura
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Café Cultura: pistache e massa filo com inspiração em Dubai./Divulgação
Biscoitos e oleaginosas também garantem aquele ‘croc’ na mordida, assim como os caramelos irresistíveis. A Dianna Bakery preparou sua barra de chocolate (R$ 39,00) com casquinha de chocolate meio amargo envolvendo um recheio de praliné de amendoim, caramelo salgado e ganache de chocolate meio amargo. @diannabakery
E a Gamô Confeitaria, por sua vez, tem barras como a Nuts (R$ 25,00), que combina chocolate meio amargo e um mix de nuts; e a Biscoff (R$ 30,00), preparada com chocolate branco assado e biscoito estilo belga Biscoff. @gamoconfeitaria
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A Brigaderia, marca do grupo Cacau Show, capricha na coleção de Páscoa com barras como as recheadas com creme de frutas vermelhas (R$ 72,90), ou caramelo e flor de sal (R$ 72,90). @brigaderiaoficial
Dom Casero: recheio de caramelo no envelope de carta./Divulgação
E a Dom Casero traz na Cartinha Feliz de Páscoa uma barra de chocolate ao leite com recheio de caramelo (R$ 39,90), numa embalagem em formato de envelope de carta. @domcasero
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Enquanto o mundo negocia um acordo entre os dos países, a paz entre Rússia e Ucrânia foi selada em Ipanema. Famosa pelo bolo russo, que conquistou o título de melhor bolo no VEJA RIO COMER & BEBER 2024, a confeitaria O Medovik agora traz um bolo ucraniano para os cariocas conhecerem.
O Kiev, receita que combina camadas crocantes de merengue com nozes assadas e trituradas, intercaladas com creme charlotte amanteigado e aerado, enriquecido com conhaque e cacau, faz tanto sucesso que até mesmo os russos continuam se rendendo a ele. “Um amigo acabou de voltar da Rússia e disse que é quase impossível passar por uma confeitaria sem ver alguém se deliciando com ele”, comenta a sócia-fundadora Raissa Copola.
A origem do bolo tem diferentes versões, mas há um consenso: ele se tornou uma espécie de moeda valiosa. Devido a sua generosa quantidade de creme à base de manteiga e oleaginosas nos discos de merengue, o bolo remetia a um símbolo de prosperidade socialista da antiga URSS no qual Rússia e Ucrânia faziam parte.
Para experimentar essa iguaria que une ucranianos e russos os cariocas podem passar na loja em Ipanema – Rua Visconde de Pirajá, 156, sobreloja 203. O valor da fatia é R$ 30 e o bolo inteiro, sob encomenda, sai por R$ 330.
A região do Douro, em Portugal, é uma das mais fascinantes entre todas aquelas que produzem vinho no mundo. Foi a primeira a receber uma demarcação, em 1756, relacionada à qualidade do cobiçado vinho do Porto, estilo fortificado que só pode ser feito ali, às margens do rio Douro. Tem uma imensa diversidade de castas autóctones, variedades que se desenvolveram ali e raramente são encontradas em outros lugares do mundo. E é lá, também, que estão alguns dos vinhedos mais antigos do planeta. Nas palavras de quatro dos principais produtores, é uma região que tem o “luxo do tempo”.
Tomás Roquette, da Quinta do Crasto, Francisco Olazabal, da Quinta do Vale Meão, José Teles, da Niepoort, e João Álvares Ribeiro, da Quinta do Vallado, estiveram no Brasil nesta semana para mostrar como o Douro é capaz de produzir não apenas grandes vinhos, mas principalmente vinhos longevos.
Juntos, os quatro formam os Douro Boys, grupo formado em 2003 com o objetivo de fomentar a produção de vinhos de mesa tintos e brancos secos. Hoje, com tantos vinhos do Douro disponíveis nas prateleiras dos mercados e adegas, não parece uma façanha tão grande. Mas durante séculos a região foi conhecida pelo vinho do Porto, estilo fortificado e doce. Mais do que isso, queriam transformar a região do Douro em referência internacional.
Os Douro Boys, grupo de produtores que passaram a divulgar o Douro para o mundo-/Divulgação
Em Portugal, passaram a produzir grandes vinhos, sempre feitos com castas autóctones. O vinho que leva o nome da Quinta do Vale Meão, por exemplo, é feito no vinhedo original em que era produzido o hoje lendário Barca Velha. A Quinta do Crasto produz os espetaculares Vinha da Ponte (feito a partir de um vinhedo muito antigo de apenas 2 hectares) e o Maria Teresa (feito em um vinhedo muito antigo, mas bem maior, uma verdadeira raridade). A Quinta do Vallado faz o Reserva Field Blend, uma surpreendente mescla de variedades locais. Segundo João Alvares Ribeiro, a vinha é um terroir próprio, dada suas características únicas. E a Niepoort produz o ícone Batuta, outro field blend (ou seja, uma mistura de castas do próprio vinhedo) de grande elegância e complexidade.
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Passaram também a viajar o mundo levando seus vinhos na bagagem. Foram para Alemanha, Suíça, Polônia, Angola, Estados Unidos, China, Japão e outros destinos. O trabalho deu resultados. Individualmente, as vinícolas envolvidas expandiram seus negócios. De acordo com um relatório interno, cada produtor tem de duas a sete vezes mais mercados do que tinha em 2002. Também ajudaram a reforçar o potencial do Douro como uma das grandes regiões vitivinícolas do país.
Os Douro Boys já estiveram aqui antes, em 2011 e depois em 2012, todos juntos, como parte dessa turnê de divulgação do vinho duriense. Depois, voltaram apenas individualmente, para promover os lançamentos de suas próprias vinícolas. Fazia tempo que não se reuniam por aqui. Dessa vez, trouxeram na bagagem 26 vinhos, alguns bastante antigos. “Foi um pesadelo logístico, como podem imaginar”, disseram.
Apresentaram uma Masterclass chamada “Luxury of Time“, ou seja, “luxo do tempo”. O objetivo era mostrar tanto vinhos jovens, como os quatro rótulos frescos, de 2023, que reforçam a capacidade do Douro de produzir grandes brancos, quanto vinhos mais velhos. A Quinta do Vallado, por exemplo, trouxe um Vallado Tinto, vinho de entrada, vendido por aqui abaixo dos R$ 200, da safra 2010. Sem passagem por barrica, mostrou muita vivacidade, apesar dos sinais de evolução. Outros, como o Maria Teresa, ícone do Crasto, da safra 2019 ainda estão muito jovens, mas mostravam enorme potencial.
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Trouxeram também algumas garrafas de vinho do Porto, já que todos produzem grandes rótulos dentro do estilo. É surpreendente ver como são longevos e mantém vivacidade e potência após tantos anos. Um vinho da safra de 1987, por exemplo, ou um Tawny 50 anos (cujo blend, de acordo com a legislação, precisa ter, na média, 50 anos) mostram enorme complexidade.
Além dos trabalhos individuais de cada vinícola, os quatro produzem rótulos exclusivos Douro Boys, em tiragens extremamente limitadas. Cada enólogo seleciona alguns de seus melhores vinhos e o blend é feito em conjunto. As garrafas são leiloadas e tornam-se itens de colecionador.
Nesta quinta-feira, 27, o quarteto está no Rio de Janeiro para apresentar a mesma Masterclass.
Tartare de atum com creme de burrataBruno Calixto/DivulgaçãoRisoto de abóbora com queijo de cabra, rúcula e semente de girassolBruno Calixto/Divulgação
Bife Wellington com salada verde e risotoBruno Calixto/DivulgaçãoSalada NiçoiseBruno Calixto/DivulgaçãoSalmão curadoBruno Calixto/Divulgação
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Dezoito anos passam voando, ainda mais dentro da cozinha, onde tudo parece andar a passos galopantes, num ritmo acelerado. Há 18 anos, quando o Brasil passou a ouvir dizer da chef carioca Roberta Ciasca e o Leblon já dava os primeiro sinais de polo cultural e gastronômico, Manoela Zappa dava as primeiras pitadas do que viria a ser um marco na história da culinária brasileira: a criação do prosa na cozinha, nome sugerido pela irmã, minha colega de boas mesas e amiga jornalista Carol Zappa. “A intenção era transformar a cozinha em algo maior, no sentido de ser um espaço que agregue todos, em qualquer assunto possível”, conta Manu, que responde a cinco perguntas da coluna sobre o aniversário da marca.
Que tal antes do Prosa?
Fui morar em Londres e trabalhei por dois anos na cozinha do Hilton. Quando voltei, fui pra São Paulo, e minhas amigas começaram a pedir umas dicas e umas aulas. As meninas do Rio ficaram com ciúmes; então comecei a ficar na ponte aérea. Morava 15 dias em SP e 15 no Rio, onde dava aulas na casa da minha mãe, que ficava sem jantar, esperando o que sobraria das aulas (risos).
Que tal já com o Prosa?
Dava aulas na minha casa em SP e, no Rio, na casa da minha mãe. No início, eram recém-casadas que queriam aprender a fazer uma receita ou outra. Com o passar do tempo e com a gastronomia cada vez mais em alta, mais e mais gente foi chegando, até que tive que alugar um espaço só pra gente. Com isso, eu já não conseguia mais fazer aulas todos os dias e comecei a convidar os chefs amigos, e o Prosa passou a ser uma vitrine para novos talentos e também para quem já tinha seu nome feito no mercado.
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Em que o Prosa te situou como chef?
A ideia do nome foi da minha irmã, Carol Zappa, também para associar a cozinha a outras formas menos óbvias de entretenimento, já que partimos da premissa de que gastronomia é cultura. O Prosa me reafirmou que a cozinha pode e deve ser um lugar para todos, e que cozinhar não é um bicho de sete cabeças. Um dos nossos maiores trunfos é desmistificar a culinária. Estar na cozinha passa a ser prazeroso e enriquecedor, onde a família ou o casal se reúne. Isso, por si só, é um momento de prazer e afeto.
Qual salto de 18 anos para cá?
Começamos apenas com aulas, e hoje o Prosa é um hub gastronômico. A gente faz eventos, jantares, feiras, encontros, viagens, ações em barco, shows, encontros, buffets e tudo o que possa ser feito através do eixo central da gastronomia.
Que tal a maioridade? Qual o sabor dos 18 aninhos?
Todos os principais chefs, restaurantes e produtores do Rio de Janeiro já passaram pelo Prosa. Além disso, importantes produtores de vinhos naturais do mundo estão sempre por aqui, para degustações, aulas ou jantares harmonizados.
Depois da abertura, em 2024, da cervejaria Vírus, instalada no casarão de número 55, o projeto da Rua da Cerveja se fortalece com mais duas inaugurações. A Rua da Carioca recebe nesta semana a Martelo Pagão e a Piedade, nos números 74 e 76, que começam a funcionar na quinta (27), em evento aberto a partir das 18h.
A Martelo Pagão se destaca pela produção de hidromel, além das cervejas, e tem petiscos típicos de botequim como pastéis e coxinhas. A cervejaria Piedade tem defumados de fabricação própria e 17 torneiras para cervejas. Haverá DJs e dose dupla de chope pilsen na casa, até as 19h, durante a inauguração.
O projeto Rua da Cerveja é parte da Reviver Centro, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, que prevê subsídios e apoio ao comércio. Os novos inquilinos receberão até R$ 200 mil, além de subsídio de R$ 75,00 por metro quadrado, até o limite de R$ 15 mil, ao longo de 30 meses, prorrogáveis por mais 18.
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“Vinhos são eternos”, ouvi de um professor antes de uma degustação emblemática. Será que eles são tão eternos quanto os diamantes do famoso filme do James Bond? Uma vez aprovada pelos paladares mais exigentes, a bebida resistiria ao tempo, feito um imutável monolito etílico? Os vinhos que recebiam 100 pontos do ilustríssimo crítico americano Robert Parker nos anos 1990 receberiam a mesma pontuação hoje?
Tenho minhas dúvidas e o movimento de alguns produtores reforçam essa suspeita. São vinicultores que acreditam que o sucesso do passado não garante a medalha de ouro da permanência do produto no topo das preferências. É uma turma que, em nome da busca incessante pela atualidade, não tem medo de renovar algo considerado extremamente bom, quase perfeito. São produtores corajosos que levam a sério a máxima cunhada pelo escritor italiano Giuseppe di Lampedusa (1896-1957), segundo a qual “para seguir fazendo o mesmo, tudo precisa mudar”.
Um exemplo de quem aceitou de renovar para dar conta do desfio de melhorar ainda mais o que já é ótimo é o da centenária vinícola espanhola Marquês de Murrieta. Nessa incansável busca pela excelência, os responsáveis por ela simplesmente tiraram do mercado uma das joias da coroa da empresa, o Gran Vino Pazo Barrantes, 100% Albariño, deixando cerca de 100 países órfãos.
Essa autêntica revolução começou com um freio no volume da produção do vinho. Depois disso, mudaram a garrafa, atualizaram estudos sobre o solo e o resultado foi a safra 2019, que tive a oportunidade de provar recentemente em degustação na Casa La Pastina, em São Paulo. Deu para atestar no paladar que o esforço foi bem-sucedido. O Gran Vino Pazo Barrantes 2019 mostrou-se um branco fresco, complexo e com um preenchimento de boca inigualável.
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OS SEGREDOS DE RIOJA
Nessa busca por atualidade, o parisiense Artur de Lencquesaing teve um papel fundamental. O francês faz parte da oitava geração de produtores de vinho em Bordeaux, proprietários do Château Pichon Longueville Comtesse de Lalande. Lencquesaing saiu de casa para estudar finanças em Hong Kong, teve um wine club em Xangai e trabalhou por oito anos no grupo Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH), responsável por algumas das marcas mais caras de desejadas de vinho do mundo.
Muito antes de se ligar profissionalmente à Murrieta, o que ocorreu em 2019, o profissional já tinha uma curiosa história pessoal relacionada a essa vinícola. Certa vez, quando quis impressionar a sogra, deixou de lado a opção francesa mais óbvia. No caso, seria um Château Pinchon, o rótulo que, segundo uma outra máxima do mundo dos vinhos, é o ideal para pedir a esposa em casamento ou fechar um grande negócio. Contrariando o senso comum, Lencquesaing levou para a ocasião um Marquês de Murrieta. Com o quarto filho prestes a nascer, ele hoje dirige a empresa responsável pelo surgimento de uma das regiões vinícolas mais importantes e peculiares do mundo.
O diretor da vinícola, o parisiense Artur de LencquesaingDivulgação/VEJA
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A trajetória da vinícola Marquês de Murrieta se confunde com a história de Rioja, região norte da Espanha, responsável por vinhos que por vezes seguidas são eleitos os melhores do mundo pela prestigiada publicação norte-americana Wine Spectator e que recebem 100 pontos de críticos como James Suckling e Robert Parker. Rioja tem a Denominação de Origem mais antiga da Espanha, possui cerca de 600 vinícolas, 14.800 viticultores, em cerca de 5.000 quilômetros de terra e o maior parque de barricas do mundo.
Nesse terroir único marcado pelos climas Atlântico e Mediterrâneo, o peruano Luciano Francisco Ramón Murrieta fundou sua vinícola usando técnicas que levou de Bordeaux. O seu primeiro vinho, do lendário vinhedo Igay, foi produzido em 1852. Recebeu o título de nobreza do rei espanhol Amadeo de Sabóia e tornou-se marquês por ter estabelecido naquele país o conceito de “château”, que consiste em ter na mesma propriedade as vinhas e a vinícola. Descendentes do marquês conduziram a vinícola até 1983, até que a família Cebrián-Sagarriga assumiu o controle em 1983. Atualmente, Vicente Sagarriga, atual Conde de Creixell, e sua irmã Cristina, são responsáveis por uma incansável e perceptível busca pela perfeição.
Os vinhos da Murrieta já foram muito comparados aos de Bordeaux, quando queriam lhe atribuir qualidades, como no caso do Gran Reserva 2015, que é elaborado somente em safras excepcionais, 80% Tempranillo, 9% Graciano, 9% Mazuelo e 2% Garnacha, com envelhecimento de 27 meses em barricas de carvalho americano e mais 36 meses em garrafa. Com o passar dos anos, a percepção de delicadeza de seus blends como o Marqués de Murrieta 2020 (um D.O.C Rioja, 82% Tempranillo, 8% Graciano, 7% Mazuelo, 3% Garnacha, com 21 meses de passagem em barricas de carvalho americano) fizeram com que passassem a ser comparados a Borgonha, região centro-leste da França, onde é produzido o lendário Romanée-Conti. “Hoje, temos a certeza e convicção que não há comparação, somos Rioja, temos um vinho que recebeu por 18 vezes 100 pontos, como Castillo Igay. A Espanha tem gastronomia e cultura únicos e inigualáveis, temos humildade, mas cada vez mais confiança na qualidade que nos posiciona entre os melhores do mundo”, contou-me Lencquesaing.
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O castelo da vinícola é um dos edifícios industriais mais antigos da Europa e tornou-se museu em 2019. Os vinhedos são centenários e os tintos só são colocados no mercado com média de 10 anos de envelhecimento, sempre produzidos em escala limitada. Tudo isso gera desejo e valor: o mais simples custa cerca de R$ 500 e aqui no Brasil o mais caro gira em torno de R$ 15.000, todos trazidos pela World Wine.
Como todo mercado de vinhos de alta gama, que tem os Estados Unidos como principal comprador, os responsáveis pela vinícola estão apreensivos agora com a ameaça do presidente americano Donald Trump em tarifar em 200% os rótulos europeus. A saída que já está sendo posta em prática é repartir ao máximo a distribuição. “Para diminuir a dependência dos Estado Unidos, passamos fazer abertura de novos pequenos mercados. Assim, caso a tarifa se confirme não seremos prejudicados”, explicou Lencquesaing. Hoje, 35% da produção da vinícola permanece na Espanha, o que é uma política deles, depois segue para os Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e Suíça, como principais compradores. Agora, Nepal, Marrocos e Turquia fazem parte da distribuição nos vinhos, somando 102 compradores da Murrieta pelo mundo.
Mais forte do que qualquer estratégia para não sofrer com a ressaca das políticas de Trump, há a confiança de que os investimentos feitos na vinícola para atualizar os produtos vão manter sempre em alta o interesse pelos rótulos da Murrieta. “Na hipótese de entrada em vigor das tarifas, sinto mais pelo intercâmbio cultural riquíssimo que certamente será interrompido”, disse Lencquesaing.
Afinal, os diamantes engarrafados da Murrieta seguem cada vez mais frescos e preciosos.