Posted on

O vinho que mudou

Em 2014, o Atelier Tormentas, uma vinícola “boutique” gaúcha, depois de uma sequência de sucessos ofertados ao mercado consumidor de vinhos, ofereceu o seu branco monocástico “Sauvignon Blanc”. À época, eu comprei diretamente do produtor duas caixas de seis garrafas cada. Muitos outros apreciadores dos vinhos do Tormentas também adquiriram suas garrafas. Passados alguns meses, começamos a abri-las em ocasiões diversas e a voz dos que provaram era unânime: “vinho ruim”, “cheio de arestas”, “desequilibrado”, “cheiro ruim” etc. Sei que muitos enviaram suas garrafas às respectivas cozinhas e outros simplesmente as largaram e ponto final. Eu, entusiasta do vinho nacional, especialmente os naturais, resolvi guardar as minhas e esperar pelo menos uns cinco anos para ver o que o tempo faria ao vinho que eu, particularmente, havia classificado de “desequilibrado”.

Veio 2019 e eu me esqueci de abrir, pandemia, etc, só me lembrei do mesmo há algumas semanas. Pois bem, tomei uma garrafa, a pus para refrescar e resolvi abrir. Me deparei com aromas bem interessantes, de um cítrico bem bacana. Ainda o abacaxi da primeira vez, mais a maçã verde. Na boca, acidez e leves nuances oxidativas que em nada comprometiam a “palatividade” do vinho. Ao contrário, fazia lembrar grandes vinhos brancos que aprecio demais (Tondonia, Buçaco e Musar). Claro, com as devidas proporções. De tudo isso vem a reflexão: há que se dar uma chance a um vinho que apresenta desequilíbrio quando vem de um produtor consagrado. E sim, o tempo faz bem ao vinho e ao homem, melhora o vinho e apura o paladar do segundo. Troquei algumas mensagens com o produtor e ele me disse que sequer na Tormentas deveria haver mais garrafas deste vinho, de rótulo lindo e evolução incrível (talvez até “revolução” fosse mais apropriado…). Àqueles que ainda as têm: bebam! A safra é 2013. E aos que guardaram como eu, movidos um pouco pela fé e um tanto pela curiosidade: congratulações! Salut!

Fonte:

vinho – Jovem Pan
Posted on

Freira que bebe uma taça de vinho por dia é agora a pessoa mais velha do mundo

O Guinness World Records reconheceu na segunda, 25, quem é agora a pessoa mais velha do mundo, após a morte da japonesa Kane Tanaka, que tinha 119 anos e 107 dias de vida. O título ficou com a freira francesa Lucile Randon, nascida em 11 de fevereiro de 1904, tendo, portanto, 118 anos e 73 dias de idade.  Na juventude, Randon trabalhou como professora, governanta, e cuidou de crianças durante a Segunda Guerra Mundial; também passou 28 anos atuando com órfãos e idosos em um hospital em Vichy, antes de iniciar a vida religiosa em 1944 e passar a ficar a serviço da Igreja Católica.

Hoje, a irmã Lucile vive em uma casa de repouso na cidade de Toulon, no sudeste da França. Ela é parcialmente surda e usa cadeiras de rodas, mas gosta de manter a mente ativa. “Eles me acordam às 7 da manhã, me dão meu café da manhã e me colocam na minha mesa, onde fico ocupada com pequenas coisas”, relatou a freira ao Guinness World Records. A equipe de cuidadores do lar de idosos contou que ela ainda recebe uma taça de vinho todos os dias. “Sua taça de vinho a mantém e talvez isso seja seu segredo de longevidade. Eu não sei, eu não encorajo as pessoas a beberem uma taça de vinho todos os dias” disse um funcionário. O assessor da irmã Lucile, David Tavela, já afirmou que ela pretende superar a pessoa com a vida mais longa já registrada, a também francesa Jeanne Louise Calment, que viveu 122 anos e 164 dias e faleceu em 1997.

Fonte:

vinho – Jovem Pan
Posted on

Moscatel é vinho ‘de sobremesa’ que cai bem com cocada e com sorvete

A uva Moscatel, presente em toda a Ibéria, encontra o solo que, ao meu ver, nos entrega os melhores vinhos moscatéis que podemos encontrar, na Península de Setúbal, em Portugal. Setúbal é uma DOC (denominação de origem controlada), de onde vêm dois tipos de vinhos, o Moscatel de Setúbal e o Moscatel Roxo, este um pouco mais raro. Como disse Amarante, com várias subvariedades, a família de uva Muscat é bem viajada, podendo encontrar uvas em diversos países ao redor do mundo. A Muscat de Alexandria foi uma das primeiras variedades da família e originou-se ao redor da cidade de Alexandria, na borda do rio Nilo, no Egito.

A Moscatel de Setúbal (ou simplesmente Moscatel) tem origem nesta casta mítica egípcia. Pelo Velho Mundo, encontramos Moscatel dando origem a vinhos nas mais diversas localidades, por exemplo em Pantelleria, na Sicília; Setúbal, em Portugal; e em Málaga, na Espanha. Estas regiões produzem vinhos doces com a Muscat of Alexandria. No Novo Mundo, encontramos vinhos fortificados de ótima qualidade na Argentina, Rutherglen, na Austrália e no Brasil e, por aqui, há espumantes da casta Moscatel que vão muito bem com doces e frutas, pelo seu dulçor e acidez.

Focando em Portugal, o vinho Moscatel é, injustamente, considerado um “primo pobre” dos chamados vinhos de sobremesa lusitanos, onde reina o Porto e, logo em seguida, o Madeira. Eu penso que isso é um pouco injusto, pois o Moscatel tem características diferentes e um espaço todo especial na mesa portuguesa. É um típico vinho “digestivo” ou “de sobremesa”, licoroso e longevo à beça. Tem toque doce, claro, mas acidez marcante. Penso que tomá-lo refrescado é o ideal, mesmo em temperaturas mais amenas. Ele acompanha bem várias sobremesas, especialmente um sorvete de baunilha ou o tiramisú e outras que levem café ou cacau puro em suas receitas. E, por quê não, nossas sobremesas com coco e amendoim? Uma boa cocada mole baiana e uma taça de Moscatel parecem perfeitas uma para a outra. Um bolo de amendoim e uma taça de espumante Moscatel, vai muito bem.

Por aqui encontramos ótimos Moscatéis; exemplos: Thasos Moscatel de Setúbal Rosé, Vinho Licoroso Bacalhôa Moscatel de Setúbal, Moscatel de Setúbal Casa Ermelinda Freitas, Quinta do Cadeado Moscatel de Setúbal, dentre outros. Vale a pena provar, sempre lembrando que, por tratar-se de um vinho fortificado, apresenta teor alcoólico mais elevado. Salut!

Fonte:

vinho – Jovem Pan
Posted on

Como combinar o tradicional bacalhau da Sexta-feira Santa com vinhos

Saudosos amigos portugueses, a exemplo dos mestres – Manuel Garcia, Armando Reis e Emídio Dias (todos ligados a tradicional eno-gastronomia lusitana) respondiam em coro à pergunta: “bacalhau é peixe ou carne?” E a resposta era: – Nem uma coisa, nem outra, bacalhau é bacalhau. E isso é verdade até para a escolha do vinho para acompanhá-lo. Há alguns estigmas que têm que ser afastados: bacalhau tem que ser acompanhado do vinho verde é um deles. Na verdade, temos que levar em consideração que o bacalhau é um peixe gordo e ponderar sobre o preparo. Se for o tradicional bacalhau ao forno, com batatas, cebolas, temperos e muito azeite, não vejo como fugir de um tinto encorpado do Douro ou um bom vinho da Bairrada; se quiser sair de Portugal, opte por um Barbera do Piemonte.

O Bacalhau a Brás – aquele servido em lascas com batatas, cebola e azeitona, tudo misturado – eu iria com um tinto menos encorpado, por exemplo um vinho do Alentejo com graduação alcoólica não superior a 13,5% AbV. Para uma salada de bacalhau desfiado misturado ao grão de bico, salsinha e cebolinha (nada de alho cru, por favor!), eu optaria por um vinho Riesling da Alsacia, bem seco e jovem. Um que sugiro é o Hugel Classic Riesling, que deve ser servido bem gelado. E o meu preferido, Bacalhau nas Natas, eu o comeria acompanhado de um branco ácido, um Chablis novo e sem madeira ou um Sauvignon Blanc australiano ou neo-zelandês ou, mesmo (aí sim), um vinho verde do Minho, fosse branco ou tinto, pois, no caso, o que importará é a acidez do vinho. 

Agora, persistindo qualquer dúvida, sempre teremos um excelente coringa para o bacalhau: o champagne, que daí sugiro que seja extra brut, zero dosage ou mesmo rose brut. Deve ser servido bem resfriado e em taças “iso” ou de vinhos brandos, para possibilitar a dispersão dos aromas. A escolha do champagne, neste caso, deverá seguir o orçamento do almoço, assim o leque pode ir desde uma Champagne Montaudon Brut até a fantástica Champagne Fleury Boléro Extra Brut. Esta é um boa oportunidade para fugirem dos champagnes planos e de produção industrial, como a Moet-Chandon ou a Veuve Clicquot, que, pelo preço de mercado, oferecem muito marketing e pouca qualidade, hoje se caracterizando como o pior custo-benefício no setor de espumantes e afins. A todos os leitores, desejamos uma abençoada Páscoa e Salut!

Fonte:

vinho – Jovem Pan