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A maioria das pessoas que viaja à Espanha por causa do vinho costuma visitar sempre os mesmos destinos: Rioja, Jerez e, às vezes, a Catalunha, por conta do cava. A Espanha continua sendo um dos países mais influentes na produção de vinho, com a maior área de vinhedos do mundo e a terceira maior produção da União Europeia, atrás apenas da França e da Itália.
Em 2024, o consumo doméstico de vinho alcançou 9,76 milhões de hectolitros, um aumento de 1,3% em relação ao ano anterior, impulsionado, em parte, pela estabilidade nos preços e pela retomada do turismo, que beneficiou o consumo em restaurantes e hotéis. Ainda em 2024, o setor de enoturismo no país foi estimado em US$ 4,1 bilhões (R$ 24,6 bilhões), representando 11% do mercado europeu.
Quase 3 milhões de pessoas visitaram a Espanha em 2023 com foco no turismo do vinho, um crescimento de 18,2% em relação ao ano anterior. Embora grande parte dessa atividade se concentre em centros tradicionais como La Rioja e Ribera del Duero, a expansão do setor reflete o interesse crescente pela cultura vinícola espanhola – inclusive em regiões menos conhecidas que vêm ganhando destaque por seus métodos de produção específicos e variedades de uvas próprias.
Fora dos grandes nomes, um movimento mais discreto está moldando a nova fase da produção vinícola no país e atraindo um tipo diferente de visitante, à medida que o turismo desacelerado e silencioso conquista mais adeptos.
“Aos viajantes mais exigentes ou colecionadores, a região vinícola de Málaga oferece achados bastante únicos”, afirma Nicky Lloyd, fundadora e CEO da Rootz Wine Tours. “Em Axarquía e Manilva, vale procurar vinhos aromáticos de moscatel que refletem a pureza e frescor da paisagem mediterrânea. Os vinhos de altitude de Ronda possuem uma mineralidade e elegância distintas, com boa capacidade de envelhecimento. Já em Antequera, a produção com foco em variedades locais e métodos tradicionais permite vislumbrar o passado da região.”
Essas 5 regiões pouco conhecidas vêm despertando o interesse de quem busca experiências fora do convencional. Confira a seguir o que elas têm de mais especial:
Antequera
Localizada em um ponto de encontro na Andaluzia, Antequera tem uma história milenar, mas sua produção vinícola permaneceu à margem das grandes rotas. Produtores locais trabalham com uvas cultivadas nas proximidades e se dedicam a produções de pequena escala, com características próprias.
O clima e a altitude da região permitem flexibilidade nos métodos de vinificação, mas a produção segue limitada. O que a região oferece é acessibilidade e um ambiente mais tranquilo, fora dos circuitos turísticos principais. Situada entre Sevilha e Málaga, Antequera é de fácil acesso, mas ainda pouco explorada, proporcionando um ritmo mais lento e uma experiência mais próxima com os vinhos.
Lloyd destaca que há um movimento forte em direção à viticultura sustentável. “Diferente de outras regiões vinícolas espanholas mais industrializadas, os produtores de Málaga geralmente são pequenas operações familiares que priorizam a sustentabilidade como forma de preservar a terra para as próximas gerações”, afirma. “As práticas orgânicas e biodinâmicas vêm se tornando cada vez mais comuns, especialmente em locais como Ronda e Antequera, onde o terreno e o clima favorecem a agricultura de baixa intervenção. Os produtores se dedicam a reduzir o impacto ambiental, utilizando fertilizantes orgânicos e métodos naturais de controle de pragas.”
Axarquía
A leste de Málaga, Axarquía ocupa encostas tão íngremes que inviabilizam o uso de máquinas.
“Axarquía ainda é uma região muito tradicional na produção de vinhos”, afirma Lloyd. “As técnicas antigas continuam moldando o caráter dos vinhos. A poda e a colheita das uvas ainda são feitas à mão. Eles ainda usam mulas para arar entre as videiras nas ladeiras.”

Frigiliana é uma vila da província de Málaga, localizada em Axarquía, uma comarca – ou distrito – da Andaluzia, no sul da Espanha
Lindsay Gregory, fundadora e diretora da Luxury Villa Collection, aponta a escassez de chuva como um fator determinante. “Eles precisam usar variedades autóctones e métodos que exigem menos água por causa disso. Além disso, muitas das vinícolas são biológicas ou orgânicas, o que exige sintonia total com a terra.”
A região é conhecida pelos vinhos doces de moscatel, embora as uvas tintas romé, nativas da área, também sejam amplamente utilizadas. Com mais de 2.200 hectares plantados, Axarquía integra a denominação Málaga e Sierras de Málaga e abriga diversas vinícolas de pequeno porte.
A vizinha Frigiliana é considerada uma das vilas mais bonitas da Andaluzia, e as degustações costumam ser acompanhadas por visitas às pequenas cidades brancas das colinas. Embora pouco visitada, Axarquía é a principal subzona vinícola da região de Málaga, de fácil acesso para quem deseja sair do roteiro tradicional.
El Puerto de Santa María
Parte do Triângulo do Jerez, na província de Cádiz, El Puerto de Santa María costuma ser deixada de lado em favor de Jerez de la Frontera. No entanto, essa cidade menor abriga bodegas históricas que produzem vinhos de alta qualidade, com raízes profundas na tradição local.
Os produtores da região se dedicam a variedades de jerez como manzanilla, palo cortado e amontillado, geralmente utilizando métodos transmitidos entre gerações. As operações familiares estão espalhadas pelas ruas estreitas da cidade e proporcionam experiências de degustação mais intimistas do que as oferecidas em centros urbanos maiores.
El Puerto de Santa María é uma das três principais cidades produtoras de jerez e, apesar da menor visibilidade, segue sendo essencial para a identidade da região. As bodegas tradicionais e instalações de envelhecimento seguem ativas, algumas delas com restaurantes no próprio local que servem pratos típicos da região.
Ronda
Situada no alto de um desfiladeiro no sul da Espanha, Ronda se consolidou como destino vinícola relevante, com foco em pequenos produtores independentes.
“Málaga é uma região curiosa. Tem 49 vinícolas, sendo 28 em Ronda”, observa Lloyd. “No entanto, a área plantada está igualmente distribuída entre Axarquía, Antequera e Manilva. A maioria das vinícolas em Ronda são butiques orgânicas, com produção inferior a 15 mil garrafas por ano. Enquanto as regiões costeiras de Axarquía e Manilva produzem principalmente vinhos doces e secos de moscatel e Pedro Ximénez, Ronda se concentra mais em tintos encorpados e envelhecidos.”
Essas vinícolas boutique trabalham com variedades como petit verdot e malbec. Muitas salas de degustação ficam nos arredores da cidade, com vistas para o campo e as montanhas. Algumas das vinícolas mais conhecidas funcionam em prédios históricos restaurados, como um mosteiro do século XVI.
“Ronda vem se firmando como destino vinícola por mérito próprio”, comenta Gregory. “O ‘Triângulo do Jerez’ já está consolidado graças a iniciativas como a International Sherry Week, criada por Chelsea Anthon há 12 anos, com apoio crescente de educadores de jerez que falam inglês.”
Lloyd também destaca o crescimento da infraestrutura turística local. “A região conquistou uma base sólida ao longo da última década, com vinhos bem elaborados, consistentes e frutados, com bom potencial de envelhecimento. O clima é ideal para a vinificação, com primaveras e verões consistentemente quentes, o que favorece a maturação perfeita das uvas.”
Somontano
Aos pés dos Pirineus, na região de Aragão, Somontano tornou-se um polo de experimentação e modernização. O nome da região significa “aos pés da montanha”, e sua topografia diversa permite o cultivo de uvas nativas e internacionais.

Alquézar, Somontano de Barbastro, Huesca, uma comunidade autônoma de Aragão, Espanha
Os produtores trabalham com variedades como moristel, parraleta, syrah, gewürztraminer e merlot. A produção local ganhou força no final do século XX, com muitas vinícolas combinando infraestrutura moderna com técnicas tradicionais. Vinícolas como Sommos e Viñas del Vero ajudaram a construir a reputação da região como centro de inovação.
Com menos visitantes e proximidade de vilas históricas e parques nacionais, Somontano atrai quem busca destinos mais tranquilos. Os vinhos são variados, com brancos frescos e tintos estruturados, e a paisagem oferece um contraponto aos destinos mais movimentados da Espanha.
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