Até meados dos anos 1980, a Alemanha era conhecida principalmente como produtora de rótulos baratos de vinho branco doce. O “Liebfraumilch”, cuja tradução – errada, diga-se – “leite da mulher amada” pegou e se espalhou pelo mundo. Feitos com castas locais, como a Müller-Thurgau e a Sylvaner, tinham teor alcoólico baixo e dulçor bastante perceptível. Faz tempo, no entanto, que a situação mudou. Há anos uma verdadeira revolução fez com que a nobre Riesling, casta de origem alemã que também é bastante plantada na região da Alsácia, na França, assumiu o protagonismo, dando origem a vinhos finos muito cobiçados e capazes de atingir valores extremamente altos no mercado. “A Alemanha nunca produziu vinhos tão bons como agora”, afirma Leonhard Meese, enólogo da vinícola Wittman, em visita ao Brasil.
Hoje, há cerca de 103 mil hectares de vinhas na Alemanha, a oitava maior área do mundo, divididos em 13 regiões distintas, como Mosel, Pfalz e Rheinhessen, a maior delas. A Riesling domina 23% dos vinhedos, seguida por outras variedades, como a Müller-Thurgau, a Spatburgunder (como é conhecida a Pinot Noir por lá), a Dornfelder e a Grauburgunder (ou Pinot Gris). Há também uma indicação de qualidade, a VDP (sigla para Verband Deutscher Prädikatsweingüter, ou associação de propriedades vinícolas alemãs de qualidade), que determina quatro categorias de qualidade dos vinhos, de Gutsweine, para vinhos de entrada, até Grosse Lage, para os mais vinhos de maior qualidade. Hoje, a associação tem 200 membros, que precisam respeitar regras rígidas de qualidade e de boas práticas agrícolas. “Houve uma mudança de perspectiva do vinho doce de baixa qualidade para rótulos de alta qualidade, focados em terroir”, diz Meese.
A Weingut Wittmann é uma dessas vinícolas que hoje produz vinhos finos. De longa tradição, há menções à viticultura dos Wittman em documentos de 1663. A produção de rótulos próprios, no entanto, é mais recente, de 1921. Produzem todas as uvas de forma orgânica desde 1990, e adotaram a agricultura biodinâmica, ainda mais sustentável, em 2004. “Percebemos um melhor rendimento das vinhas, além da boa saúde das plantas e da riqueza de microrganismos disponíveis no solo”, afirma Meese. Sua produção está concentrada na região de Rheinhessen, em cerca de 30 hectares, ao redor de Westhofen, com 75% de Riesling, 20% de variedades da família Pinot e 5% de outras variedades. Segundo Meese, a região produz vinhos mais elegantes, com notas de especiarias.
Especialistas costumam dizer que a Riesling está entre as castas que mais refletem o terroir onde foram plantadas. Por isso, no caso da Wittman, o processo de vinificação para todos os vinhos é o mesmo. As uvas são colhidas manualmente e a sedimentação dos vinhos é feita por meio da gravidade, o que permite que os vinhos sejam mais delicados. Cada parcela é fermentada individualmente, e a fermentação acontece em barris de carvalho bastante antigos, técnica que favorece a microxigenação sem o aporte de sabores provenientes da madeira. Por fim, eles são envelhecidos em contato com as lias (ou borras) por alguns meses, o que garante complexidade e estrutura. Na hora de engarrafar, os enólogos fazem blends, no caso de vinhos de entrada, ou focam em denominações específicas.
A diferença no sabor é perceptível. Os vinhos secos de entrada, por exemplo, são mais frutados e acessíveis. Os rótulos de designações específicas são mais elegantes, com uma evolução na taça. Segundo Meese, são feitos para serem tomados entre seis e oito anos após a colheita, quando então terão ganhado ainda mais complexidade.
O momento é interessante para a Alemanha. As mudanças climáticas fizeram com que o país ainda fosse considerado frio para a produção de vinhos, mas a temperatura aumentou o suficiente para que as uvas atinjam a maturidade ideal. Antes, isso nem sempre era possível, de acordo com Meese. Por isso, há um interesse crescente em promover os bons rótulos fora da Europa. A visita de Meese, que incluiu jantares harmonizados, degustações dos vinhos e participação na Feira Naturebas, focada em vinhos naturais, faz parte dessa estratégia de ampliar a percepção dos brasileiros pelo vinho alemão. “Estamos vendo como os consumidores estão buscando vinhos únicos. A Europa sempre foi um mercado importante, mas estamos importando para a América Latina cada vez mais. Para o Brasil, claro, mas também para México e Colômbia, dois novos mercados que nos deixam muito animados”, conta Meese.
Por aqui, no Brasil, os rótulos da Wittman são importados pela Weinkeller.
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