Quando um vinho alcança o status de ícone, qualquer mudança drástica na maneira como ele é feito pode ser prejudicial. Não apenas para o resultado da bebida, mas para sua própria reputação. A fama de um grande rótulo é construída ao longo dos anos, por meio da consistência na qualidade, medida, entre outros métodos, pela nota da crítica especializada. E o consumidor que se acostuma a tomá-lo espera um certo perfil de sabor, que deve se manter apesar das óbvias diferenças de uma safra para outra.
Um exemplo é o Tignanello, produzido pela família Antinori, na região italiana da Toscana. Quando chegou ao mercado, em 1971, provocou uma revolução. Pioneiro entre os supertoscanos, vinhos produzidos com a tradicional uva italiana sangiovese, com variedades internacionais. Por estarem “sobre” as regras da produção da região de Chianti, ganharam o apelido, que vingou. Hoje há diversos
Desde o início dos anos 1970, o Tignanello, nome que faz referência ao vinhedo em que é produzido, é feito da mesma maneira. O blend leva sangiovese, cabernet sauvignon e cabernet franc, e ela faz estágio em barricas de carvalho francês e hungaro. Entre 50% e 60% das barricas são novas. Permanece cerca de um ano e meio nas barricas e mais um ano em garrafa antes de ser colocado à venda no mercado.
Agora, chega ao Brasil a safra 2020 do lendário rótulo. Apresentado em uma degustação vertical, quando são provadas várias safras do mesmo rótulo em sequência, ao lado das safras anteriores, 2019 (eleita uma das cinco melhores melhores compras do ano passado pela revista Wine Spectator), 2018 e 2017, fica claro que o vinho está cada vez mais “pronto” para ser consumido imediatamente. Há 10 anos, era preciso comprá-lo e guardá-lo na adega. Hoje, ele está ótimo agora, mas vai ganhar muito com o tempo. O 2017, com seis anos, já mostra sinais de evolução e apresenta o potencial daqui para frente.
Apesar de manter um padrão de vinificação há mais de cinquenta anos, isso não significa que adaptações não tenham sido feitas ao longo do tempo. “O processo de vinificação não mudou, mas melhorou. Passamos a usar tanques de inox, a fermentação é feita com controle de temperatura, para potencializar os aromas, e a extração hoje é mais suave”, afirma Stefano Leone, diretor comercial da Marchese Antinori. Trata-se de um delicado equilíbrio entre tradição e inovação. Mudanças se fazem necessárias, seja por conta do mercado ou das alterações climáticas.
“Nova soluções são necessárias. Já renovamos os vinhedos. Depois, renovamos a vinícola. Agora, estamos olhando para a questão do carvalho, que sempre usamos de forma muito precisa”, diz Leone. “No futuro, será o clima. Vamos precisar mudar o manejo, o uso dos herbicidas, cuidar do solo. Para manter o padrão do vinho, precisamos trabalhar muito”, conclui.
A família Antinori tem diversas outras propriedades tanto na Itália quanto em outras regiões do mundo. Estão em busca de inovação, estudam o potencial de novas regiões vitivinícolas e oferecem um portfólio variado. Mas com um rótulo clássico como Tignanello, a história é outra. Cuidado é fundamental.
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