O cenário bucólico tem suas raízes fincadas no início do século XIX, quando foi criado por dom João VI o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cujas centenárias árvores se debruçam por cima das grades que separam o parque da Rua Pacheco Leão. São elas a moldura natural para a renovada cena de sabores do tranquilo bairro do Horto. No ano marcado pela recuperação do setor de restaurantes, com o número de inaugurações alcançando o de endereços fechados na pandemia, um trecho de pouco mais de 1 quilômetro na região, somado às ruas vizinhas Lopes Quintas e Visconde de Carandaí, abraça mais de quinze endereços do primeiro time da boa mesa, incluindo recentes aquisições que já movimentam a área.
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Na alternância geográfica dos investimentos, que fizeram de Ipanema a sensação dos garfos em 2022, este naco verde da Zona Sul, que descansa aos pés da Floresta da Tijuca, virou o epicentro das novidades gastronômicas. “Os cardápios se apresentam com requinte e personalidade. Há desde restaurantes premiados, como o Grado, até novatos promissores, como o Elena”, diz o músico Dado Villa-Lobos, que tem um estúdio no Horto.
A curiosidade faz com que a vizinhança, e gente para além dela, garimpe a área atrás de um bom prato. Foi a bordo de sua scooter, enquanto trafegava por aquelas bandas, que Dado viu nascer o asiático Elena, instalado num casarão histórico de dois andares que ganhou parede lateral de vidro e um terraço de cinema com vista para o Cristo Redentor. O local foi arquitetado para se converter em um centro de entretenimento sob a curadoria do festejado artista visual Batman Zavareze, com projeções de videoarte no bar, que traz de volta à cidade o consagrado mixologista Alex Mesquita, e menu do chef Itamar Araújo, ex-executivo do oriental Mee no Copacabana Palace.
Naquele quarteirão, e já com fila na porta, a Absurda Confeitaria conta na cozinha com o confeiteiro prodígio Henrique Rossanelli, e com Carlos Henrique Schroder, o ex-diretor-geral da Rede Globo, à frente do negócio (literalmente, aliás, já que costuma aparecer no balcão). Na esquina ao lado, está em obras a taberna lusitana Mar Salgado, prevista para o fim do ano. O empresário Ipe Moraes, gestor do grupo paulistano que toca a empreitada (o mesmo da Adega Santiago), avalia: “A onda anterior de restaurantes era para atender o público local. Esta agora vem com investimentos maiores e o potencial de fazer do bairro um grande destino”.
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A geopolítica gastronômica da cidade foi alterada no cenário pós-pandemia, quando, segundo recente pesquisa do Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio), 22% dos estabelecimentos em funcionamento no país foram inaugurados. E abriram-se esses pontos em todo canto, descortinando áreas antes menos exploradas. “O Horto e adjacências não configuram uma área populosa, ambiente que justamente contribui para a atração de restaurantes e bares mais autorais, com personalidade e conceitos próprios”, observa Fernando Blower, presidente do SindRio.
A Casa 201 incorpora bem a ideia — é um empreendimento singular de João Paulo Frankenfeld, de longa estrada internacional e base profissional forjada em técnicas francesas, com passagem pela prestigiada escola Le Cordon Bleu do Rio. Na vizinha Lopes Quintas, ele recebe os comensais com menus degustação para no máximo vinte pessoas por noite. “A área é perfeita para o que imaginamos, propícia a projetos intimistas e artesanais como este”, diz o chef.
Na trilha autoral, em que os pratos ganham um toque inconfundível do criador, o bar asiático Katz-Su, do chef Bruno Katz, está provocando um vaivém inédito na Rua Von Martius, mesclando locais a clientes de outros bairros. “O Horto concentra ateliês, estúdios e negócios da economia criativa, além dos artistas que moram por lá”, ressalta Rodrigo Vasconcellos, sócio no empreendimento, que ganhará mais vizinhos muito em breve.
Tudo indica que é apenas o começo de uma efervescente fase de investimentos. Após mais de dois anos fechado no Horto, o Borogodó vai voltar em junho, e grupos de peso, a exemplo do Gitan, com cinco restaurantes em Ipanema (entre eles Spicy Fish, Pici Trattoria e Bisou Bisou), estão à procura de pontos nas redondezas.
Para o espaçoso imóvel onde funcionou o famoso quilo Couve Flor, há o projeto de uma steak house dos donos da hamburgueria Hell’s Burguer, o que ajudará a conferir diversidade à paisagem gastronômica, que já conta com chefs estrelados como Roberta Sudbrack (Sud, o Pássaro Verde), Nello Garaventa (Grado), Ricardo Lapeyre (Escama) e Ludmilla Soeiro (Malkah).
Criadora de um pequeno restaurante na área, Joana Carvalho, do Jojô Café Bistrô, deixa a dica para os recém-chegados. “O Horto é o último lugar da Zona Sul com esse clima bucólico, e é isso que o torna especial. Tem de vir devagar, respeitando a cultura e os moradores antigos”, enfatiza, com autoridade conquistada em mais de uma década de boa mesa numa das calçadas mais agradáveis da cidade, exatamente defronte às árvores debruçadas sobre o gradil do Jardim Botânico. A paz verde certamente conspira a favor de viagem por sabores únicos.
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Especialidade da casa
O que provar nos endereços recém-chegadas à região
Casa 201
(Rua Lopes Quintas, 201)
O chef João Paulo Frankenfeld recebe apenas vinte comensais por noite, servindo ele próprio os pratos que saem da cozinha aberta, com menus sazonais utilizando produção local em ingredientes como queijos e charcutaria.
Elena
(Rua Pacheco Leão, 758)
Os destaques do chef Itamar Araújo vão da merluza-negra ao bife ancho, assados no forno a carvão e com guarnições como o coreano kimchi. Do bar, a cargo de Alex Mesquita (à esq. na foto com Itamar), sai o drinque cajueiro, com xarope de caju, maracujá fresco, suco de abacaxi e cachaça.
Absurda Confeitaria
(Rua Pacheco Leão, 792)
Na casinha cheia de charme, janelões de madeira e área aberta no interior, o pavê de cookies é o grande sucesso do confeiteiro Henrique Rossanelli, mas não se deve perder também o carrot cake aí da foto.
Katz-Su
(Rua Von Martius, 325-F)
Boteco oriental descontraído, onde o chef Bruno Katz visita paisagens culinárias de países como Tailândia, Coreia do Sul e Japão. Aposte no atum picado com farelo de tempurá, furikake, óleo de gergelim, cebolinha e pimenta gochugaru.
Mar Salgado
(Rua Pacheco Leão, 780)
Ancorada na gastronomia portuguesa, a casa vai apostar em sabores como ostras, mariscos e tartares. Destaque para os bacalhaus e a série de arrozes, que é marca dos cardápios dos restaurantes do grupo.
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