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5 Curiosidades Sobre o Vinho na Grécia Antiga

A Grécia representa a base da cultura para a civilização europeia e ocidental. Os gregos Aristóteles, Platão, Sócrates, Pitágoras e Hipócrates foram figuras importantes e que mantiveram-se até a atualidade como referências de pensadores que mesmo vivendo em tempos tão remotos, suas palavras continuam marcar a civilização contemporânea. A importância desta civilização para a humanidade passa por diversas áreas, e o vinho sem dúvida esteve presente sempre, pois representava não só um hábito cultural, mas sobretudo um símbolo de civilidade para este povo. Neste artigo partilho cinco importantes curiosidades sobre o vinho na vida dos gregos antigos.

1.Filosofia Grega e o Vinho

O vinho esteve intimamente ligado ao desenvolvimento cultural como um todo, inclusive da filosofia grega. Imagine você que nesta civilização viveram praticamente na mesma época da história Sócrates, Aristoteles, Platão, Hipócrates e estas célebres figuras históricas ressaltaram a importância do vinho e os seus efeitos. Usavam as propriedades do vinho para estimular o raciocínio e a troca de ideias em vários momentos do cotidiano, mas sobretudo nos famosos simpósios.

O filósofo grego Platão dizia que o vinho era uma ótima maneira de testar o caráter e a índole de um homem, submetendo-o às paixões despertadas pela bebida como a raiva, o amor e a ambição. Nesta época houve uma das primeiras elevações de qualidade do vinho e o mesmo foi citado por inúmeros filósofos que o correlacionavam com os diversos benefícios para a saúde do corpo e da alma. Platão associava a importância do vinho com o ato de falar, as pessoas se soltavam mais na oratória, nesse período surgem os sofistas, que eram os pensadores da Grécia Antiga que viajavam de cidade em cidade realizando discursos públicos.

Jacques-Louis David, pintura neoclássica (1748-1825) com representação de Sócrates num Simpósio Grego

Sócrates proferiu “O vinho humedece e ameniza o espírito, e acalenta as preocupações da mente, adormecendo-as … Faz renascer as nossas alegrias e é o combustível que alimenta a chama moribunda. Se bebermos com moderação, em pequenos tragos de cada vez, o vinho destila em nossos pulmões qual dulcíssimo orvalho da manhã … Assim, o vinho não violará a nossa razão, antes nos convidará, prazenteiro, a gozar de agradável alegria“, segundo o compilado sobre a Grécia citado no livro História Universal do Vinho de Hugh Johnsons’s publicado pela editora Litexa em 1999.

No livro Neuroenology escrito por Gordon M. Shepherd e publicado pela editora Columbia em 2017, o autor argumenta que degustar um bom vinho envolve mais o cérebro do que qualquer outro comportamento humano, devido o vinho quando ingerido moderadamente desencadeia uma série complexa de interplays, impulsos e conexões cerebrais. Envolve o cérebro profundamente ativando todos os sentidos levando a um maior afinco mental e procurando maximizar a produtividade.

Os filósofos gregos mesmo não tendo acesso aos avançados centros de pesquisas neurológicos da atualidade pareciam já conhecerem bem todas essas ações do vinho consumido de forma moderada e que os tornavam ainda mais capazes de formular pensamentos tão valiosos.

2.Simpósios na Grécia Antiga e o Vinho

Segundo a obra de Standage, era o vinho que ditava o ritmo nos simpósios e festas em que os participantes partilhavam uma grande taça rasa chamada “kylis” abastecida a partir das ânforas que os gregos chamavam de “pithos“. Sabe-se que durante os debates regados da bebida, os pensadores antigos tentavam superar um ao outro por meio da inteligência na formação dos seus discursos, dos seus pensamentos e das suas argumentações. Curioso que o significado da palavra simpósio é “beber em conjunto“, e que na época contemporânea perdeu-se esse contexto e só a usam para a troca de informações e debates de temas escolhidos para o evento entitulado atualmente de simpósio que na verdade se trata de uma conferência.

Pintura representando uma cena em um Simpósio.
Fonte: Ancient Hoplitikon

Os simpósios gregos eram semelhantes em alguns aspectos as reuniões regadas de vinho que aconteciam muito antes deste período na Geórgia, só que por lá geralmente esses encontros eram à mesa com maravilhosos banquetes, onde o uso da “tamada” a taça milenar dos georgianos produzidas a partir de cornos de animais eram enchidas e o anfitrião proferia longos poemas e brindes, em seguidas todos tinham que beber de uma vez o vinho que estava dentro do recipiente e em suas mãos.

Na Grécia Antiga alguns dos simpósios ocorriam após os jantares onde os homens estendiam a conversa em salas onde se reclinavam em cadeiras mais confortáveis semelhantes aos divãs, degustavam mais vinhos e trocavam ideias, pensamentos e impressões sobre determinados temas. Lembrando que neste período o vinho possuía maior teor alcoólico e alguns casos era muito mais concentrado e viscoso, portanto eram diluídos em água o que permitia consumirem mais da bebida sem entrarem em estado de embriaguez.

3.Medicina Grega e o Vinho

Os médicos gregos foram um dos primeiros a prescreverem o vinho como medicamento, incluindo Hipócrates, considerado mais tarde o pai da medicina e que proferiu o celebre frase.

“Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio”

 Esta frase foi dita por Hipócrates há mais de 2400 anos atrás e na época ele desenvolveu vários tratamentos com diversos tipos de vinho diferentes para curar algumas doenças como ferimentos, caquexia, como diurético e anti-térmico, naquele momento histórico ele já acreditava que “o vinho era apropriado para a humanidade, tanto para o corpo saudável quanto para o corpo doente”, na atualidade sabemos que pelo menos os egípcios antigos já usavam o vinho para tratar algumas enfermidades. O vinho entrava em quase todas as receitas prescritas por Hipócrates e a seguir compartilho um breve resumo das suas indicações terapêuticas, observando que aqui ele tinha uma atenção especial ao sistema digestivo do ser humano.

Os gregos também aprenderam a adicionar ervas e especiarias ao vinho para disfarçar a deterioração. São os gregos que reforçaram a implantação das vinhas realizadas pelos fenícios e são os responsáveis pela introdução de vinhas e produção de vinhos em suas colônias do Sul da Itália, conhecida como “Oinotria” ou “terra do vinho” , designado mais tarde pelos romanos de Enotria. As vinhas eram vitais para o que os gregos acreditavam ser importante para a saúde.

Muitos são os relatos sobre a medida ideal para o consumo de vinho, o Eúboulos, que em grego significa “bom conselho”, escreveu 375 A.C. uma síntese do que deveria ser seguido, para os moderados 3 taças, uma para saúde que eles esvaziam primeiro, a segunda para o amor e o prazer e a terceira para um bom sono, e complementa que quando se bebe esta terceira, os sensatos voltam para casa. Os gregos sempre exaltaram o consumo com moderação do vinho, pois era a bebida símbolo de civilidade. Há historiadores que dizem que Platão dizia que o consumo do vinho não deveria ser feito por juízes ou por pessoas que desejassem procriar, e que era bem recomendado aos idosos pois agia contra a “rabugice”, recobrando a juventude.

Imagem do Símbolo da Medicina – Peça Exposta no Museu da Acrópole em Atenas,Grécia.

4.Dionísio, o Deus do Vinho para os Gregos

Os gregos eram politeístas, adoravam muitos deuses e o Dionísio era o deus do vinho para essa civilização. Na verdade, ele era um semideus, pois tinha sangue humano e divino em suas veias. A sua história mitológica romana tem inúmeros episódios. Ele era filho do deus Zeus com a mortal a princesa tebana Sêmele, fruto de uma relação extraconjugal e quando sua esposa Hera soube tratou de persuadir a rival a pedir que o deus se mostrasse a ela em todo o seu esplendor, sabendo que isso mataria a mortal, mas o que Hera não sabia era que Sêmele estava grávida, então na história mitológica o registro é que Zeus pegou o bebê e o costurou em sua cocha para concluir a gestação. 

Estátua de Dionísio, deus do vinho para os gregos.

Os gregos o adotaram, como muitas de suas divindades. Era o deus do vinho, da natureza, das festividades, da alegria, dos excessos, do prazer, da fertilidade, do teatro, do lazer e da folia. Foi com os primeiros contatos com a agricultura que Dionísio, já adulto, apaixonou-se pela vinha, descobrindo uma forma de extrair o suco da uva e transformá-lo em vinho, dizem que ele havia enlouquecido e viajava errantemente por muitas terras. Designada como “mãe dos deuses”, Cibele, cuja origem era a Frígia, iniciou Dionísio em seus ritos religiosos. Depois de recobrar a sanidade e curado pela deusa, ele viajou até a Ásia disseminando a cultura da vinha. Assim, o rapaz ficou conhecido como (Dionísio para os gregos e para os romanos Baco), o deus do vinho.

5.As Bacantes e as Festas de Bacanal

Na civilização grega algo interessante de pontuar também foi o papel das Bacantes, mulheres que saiam de casa livremente, geralmente no inverno e que participavam de cerimônias próximas ao Monte Parnaso que fica atrás da cidade histórica grega de Delfos. Neste local elas executavam danças selvagens em homenagem a Dionísio, nessas cerimônias elas riam, se divertiam, e davam vazão aos seus instintos e abandonavam todas as suas inibições, lembrando que inicialmente só participavam mulheres e que nessas cerimônias prevalecia uma atmosfera completamente feminina, há historiadores que dizem que nesses momentos elas faziam piqueniques, dançavam, riam, coisas sem grandes consequências igual ao realizado por diversos grupos de amigas do vinho na atualidade, mas como faziam isso sozinhas a imaginação dos homens as transformavam em monstros, em bruxas e especulavam que elas iam fazer sexo, orgias, comer carne crua. O brinde que as bacantes faziam em homenagem ao Dionísio era a palavra “Evoé”.

Fica outra curiosidade é que desses rituais das Bacantes também foram dado origem aos primórdios atos teatrais e que o deus Dionísio representava tudo que era delicioso, e por isso também se tornou o deus das alegria, das festividades e do teatro. Mas tarde os homens começaram a participar dessas cerimônias, a princípio utilizando máscaras. E deu-se origens aos verdadeiros “Bacanais”.

Espero que você leitor tenha gostado dessas curiosidades apresentadas entrelaçando o vinho à Grécia Antiga. A importância desta civilização para o mundo dos vinhos não poderia ficar restrita a um único artigo neste blog, portanto fica o convite a você leitor que ainda não leu, ler os outros dois artigos publicados anteriormente “O Vinho Grego, do Passado à Atualidade” e o “O Milenar Terroir Grego, Santorini PDO” e obter mais conhecimentos sobre a Grécia e seus vinhos, meu intuito é buscar contribuir com o aumento cultural no universo do vinho de todos que tem interesse neste delicioso tema.

Saudações Báquicas! Saúde, Santé, Cheers, Salute!  
Yia Mas!
A última saudação é o brinde dos grego e significa, ”aqui está a saúde!”

Fonte:

Mundo dos Vinhos por Dayane Casal