Conquistar os bebedores de vinho de São Paulo, o maior mercado potencial do país. É essa a estratégia da vinícola Uvva, localizada em Mucugê, na Chapada Diamantina, região central da Bahia, e comandada pelo produtor rural, sócio-proprietário e CEO, Fabiano Borré. Nesta terça-feira (7), Borré desembarcou na capital paulista para mostrar, pela primeira vez, o que vem desenvolvendo em uma região nordestina dominada e relevante na produção de frutas, batata, mel, cachaça, cafés especiais, mas ainda uma novata em uvas e vinhos. Borré, herdeiro de um dos grandes projetos de produção de batatas na região, quer colocar suas uvas e vinhos no mapa do consumo.
“Quero abrir as portas do mercado paulista para que os rótulos cheguem em lojas especializadas e restaurantes”, diz ele. “É um mercado muito promissor. Nossa ideia é apresentar os produtos no Sudeste, para consumidores, apreciadores e críticos de vinho que influenciam o mercado.” Hoje, a vinícola possui 12 rótulos.
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O projeto, que nasceu em 2012, ganhou força e ritmo a partir de 2015. Em 2022, Borré realizou um feito para a região: inaugurou uma estrutura de quatro pavimentos, com 5 mil metros quadrados, para atrair turistas aos seus vinhedos e colocar o enoturismo na agenda regional. Por conta disso, hoje, a maior parte de suas vendas saem diretamente de casa. “Mas São Paulo é uma cidade que qualifica o mercado brasileiro, por isso, é de extrema importância estar aqui. Não temos um percentual definido de comercialização local, mas a projeção é que os rótulos ganhem espaço.”
Borré não está sozinho nessa corrida pelo consumidor paulista. A Horus, empresa de inteligência de mercado do setor, mostra que os produtores de vinhos têm buscado abrir novos pontos de comercialização no estado de São Paulo, que já é responsável por 39% do market share de vendas na categoria.
Há, também, uma virada do tipo de vinho consumido no Brasil e que é puxada por consumidores de maior poder aquisitivo. Em 2022, foram vendidos 438,8 milhões de litros de vinho no país, volume 4% acima do ano anterior. Desde 2020, por causa da pandemia, há um movimento contrário ao praticado até então, em relação à procura por bebidas de maior qualidade.
Em 2021, pela primeira vez, o volume de rótulos de vinhos finos foi maior que o de vinhos de mesa. Foram 217 milhões de litros contra 205 milhões de litros. Lembrando que os vinhos finos são aqueles feitos a partir de uvas Vitis vinifera, uma espécie de videira originária na Eurásia, enquanto o vinho de mesa pode vir de diversas outras uvas.
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Borré cultiva vitis vinifera das variedades cabernet sauvignon, cabernet franc, syrah, merlot, chardonnay, malbec, sauvignon blanc, petit verdot e pinot noir, com a primeira safra em 2018 quando foram fechadas 800 garrafas. A área de cultivo da vinícola é de 52 hectares de vinhedos, a uma altitude de 1.150 metros, o que proporciona uma amplitude térmica grande e favorável a vinhos de qualidade superior, daí a aposta de que as safras serão cada vez mais qualificadas. Hoje, a vinícola Uvva tem capacidade produtiva de 260 mil garrafas.
Na apresentação em São Paulo, o enólogo Marcelo Petroli, que está com a vinícola desde a sua criação, mostrou oito rótulos. Para ele, cada um deles têm a sua história e a sua personalidade como, por exemplo, o Diamã, nome que remete aos primórdios da língua portuguesa para a palavra diamante. “Esse é um vinho que foi elaborado com um corte especial de uvas. O blend é produzido em 12 meses no carvalho francês de primeiro uso e atingiu 92 pontos no Descorchados de 2023, um dos principais guias de vinhos que avalia rótulos da Argentina, Chile, Uruguai e Brasil”, afirma Petroli.
O desafio não é pequeno para a vinícola. Fato é que, na média, o brasileiro ainda consome pouco vinho, quadro que Borré acredita poder mudar e aposta suas fichas. O consumo médio per capita de vinho no país é de cerca de 2,4 litros por ano, muito longe de países como países como Portugal, França e Itália, com consumos per capita acima de 40 litros por ano, ou mesmo os Argentinos, com 23,8 litros per capita no ano passado, de acordo com a OIV (Organização Internacional de Vinhos). Sobre o que ocorre lá fora e para onde olha, Borré não titubeia na resposta: “Não tenho intenção de exportar os meus vinhos”, afirma. “Toda a concepção do projeto Uvva foi feita pensando no consumidor brasileiro.”
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