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Vinho com cannabis, um barato com tendência de alta no mercado

Há pouco mais de dez anos começaram a surgir experiências de produção de vinhos com cannabidiol, a substância retirada da planta da maconha e usada como remédio, mas que não causa efeitos psicotrópicos. A maior parte das iniciativas costumavam vir do liberal estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Enganou-se quem imaginava que essa tentativa de harmonização era só fumaça. Nos últimos tempos, não param de surgir indícios fortes de que esse casamento está longe de ser uma maluquice. Pelo contrário: é uma tendência que irá movimentar bastante o mercado. Com um número cada vez maior de países liberando o uso recreativo da cannabis, o interesse em criar rótulos com infusão da planta em sua fórmula vem crescendo e a categoria de produtos já tem até um nome: cannawine.

Até os produtores de Bordeaux, na França, uma das regiões vinícolas mais tradicionais do mundo entraram no barato. Lançado recentemente por lá, o rótulo Burdi W tem uma receita mantida em segredo. Sabe-se apenas que é um 100% Petit Verdot que recebe 250 miligramas de cannabidiol, sendo que está contido ali uma pequena concentração de THC (tetrahidrocanabidiol), a substância responsável pelos efeitos psicoativos da maconha. Por questões legais, ao receber essa infusão, o Burdi W não pode mais ser considerado vinho — passa a ser chamado de “bebida aromatizada à base de vinho”. Segundo o responsável pela bebida, a ideia é adicionar às propriedades do álcool o efeito relaxante da cannabis. Como a lei francesa autoriza apenas o cultivo e a comercialização das fibras e grãos de cânhamo em seu território e proíbe a exploração de folhas e flores, ele é cultivado em terras bordolesas, colhido e enviado para Alemanha, onde é feita a extração do CBD, que também tem essa prática proibida na França.

A experiência de Bourdeaux avança algumas casas em relação ao que é feito pelos pioneiros americanos. Por lá, ainda é proibido vender bebidas alcoólicas com THC, por isso os cannawines americanos são vinhos convencionais (alcoólicos) com infusão de CBD. Ou seja, o cannawine made in USA não dá o mesmo “barato” que o exemplar francês. Mesmo assim, especialistas garantem que os cannawines americanos se transformam em remédios naturais que podem auxiliar em distúrbios do sono, no alívio de dores e no relaxamento. Uma das marcas californianas de maior sucesso é a Rebel Cost, que promete entre os efeitos positivos de seus drinks de vinho com CBD o fim da ressaca. O público-alvo são adeptos de esportes e pessoas que buscam uma vida mais saudável, acredita a marca.

Aqui no Brasil, o paulistano Stefan Aquilino, é um dos sócios da Cannabwine, empresa que acaba de colocar no mercado a primeira safra de um coquetel frisante que leva 20% de vinho branco (uva Niágara) ou tinto (uva Isabel), proveniente de Caxias do Sul, com terpeno, uma substância sedativa que existe na casca das plantas. “É uma bebida relaxante, saborosa, com leve efeito sedativo. Optamos pelos terpeno, porque a utilização de CDB ainda não é autorizada para estes fins no país”, disse à coluna Aquilino. No entanto, eles estão buscando parceiros para exportar para o Uruguai, onde será possível acrescentar CBD na fórmula. “Eu provei em Portugal um vinho canábico com THC e achei uma ‘pancada’”, conta Aquilino. Não esperem esse efeito nos produtos da Cannabwine. Um deles, o Guara Wine, combina vinho branco frisante, guaraná e notas de laranja, provenientes do terpeno Limoneto. A garrafa de 600 ml custa R$ 30,90 e promete, no máximo, a tal sensação de relaxamento.

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Em recente entrevista ao site Wine Enthusiast, a californiana Jamie Evans, conhecida no mercado como “sommelier de erva” e criadora da Herbacée, que produz drinks de vinho rosé de uvas Grenache, Mourvèdre e Cinsault com infusão de cannabidiol, afirmou que quanto mais a indústria do vinho zero álcool crescer, mais a categoria de bebidas à base de vinho com infusão de cannabis deve subir. Para ela, é apenas uma questão de tempo, como rege o mantra dos grandes vinhos.

Em tempo: esta colunista ficou curiosa, mas ainda não teve oportunidade de brindar com um legítimo cannawine.

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Fonte:

Vinho – VEJA