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UVVA, o vinho de um novo Brasil

Nova vinícola da Chapada Diamantina-BA chega com alto padrão ao mercado

 

Por Marcelo Copello

 

Em se plantando tudo dá, disse Caminha. Batatas, café, cebolas, tomates e por que não, uvas para vinhos finos. Assim fez a família Borré, ao migrar do Rio Grande do Sul para a Chapada Diamantina-BA nos anos 1980 e fundar a Fazenda Progresso,.

 

Em 2012, s Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia, visitou a fazenda, já à época um grande player do agronegócio, junto com representantes de entidades de Bordeaux e da Champagne. A proposta era criar um centro de pesquisas para desenvolver o cultivo de uvas para vinhos finos na região. O projeto oficial não foi adiante, mas a ideia foi plantada e levada a cabo de forma independente pela família Borré, que em 2012 plantou suas primeiras vinhas de forma experimental. Nesta fase o apoio da Embrapa Uva e Vinho de Petrolina-PE foi fundamental, em especial de Giuliano Pereira, técnico com doutorado em Bordeaux e pós-doutorado na Califórnia.

O ano de 2018 foi um divisor de águas no projeto ainda nascente. Das muitas experiências feitas na Embrapa, com vários tipos de uvas, um Cabernet Sauvignon de alta qualidade encantou a todos naquela safra. Foi o sinal verde para partirem com uma nova empresa, focada na alta qualidade e não no volume, com vinhos de alta gama, restaurante e hotel. Tudo top nos mínimos detalhes.

<span class=”hidden”>–</span>divulgação/Divulgação

Montaram então um plano detalhado, contratando profissionais do primeiro time, a começar por Vajna Hertcert (https://arqvanja.com.br/). A arquiteta brasileira participou do projeto desde a escolha da área para a construção de vinícola, batizada de UVVA.

 

“Queremos criar um novo marco para a região e contribuir para uma identidade diferenciada para o vinho brasileiro”, afirma Fabiano Borré, CEO da UVVA. “Estamos quebrando paradigmas, fazendo vinho em um local onde isso nunca foi pensado”, completa. Fabiano visitou cerca de 10 regiões vinícolas para idealizar o projeto. Foi ao Chile, Argentina, Bordeaux, Provence, Toscana e África do Sul.

 

Hoje a UVVA conta com 52 hectares plantados, 70% com uvas tintas, 25% brancas e 5% com uvas para espumantes. A produção ainda é mínima, mas esperam chegar a 300 mil garrafas em 2024.

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O clima da região é quente e árido, com chuvas no verão, o que dificultaria produção de bons vinhos. O problema foi resolvido com a consultoria do mineiro Murillo Regina, especialista na dupla poda. Esta técnica move a data da colheita do verão quente e chuvoso (ruim para a qualidade), para o inverno, mais fresco e seco. A amplitude térmica diária passa dos 20oC no inverno (algo como 8oC a noite e 30oC de dia), o que é muito bom para as uvas.

 

No que diz respeito ao estilo dos vinhos, segundo Borré: “queremos ter nossa identidade local, focando em elegância e complexidade. Não queremos ser mais um vinho igual no mercado e queremos mostrar que no Brasil podemos fazer vinhos tão bons quanto de qualquer lugar do mundo”, completa.

 

Para além dos vinhos a UVVA acaba de inaugurar um restaurante de cozinha contemporânea, mas com raízes nos ingredientes locais. Chama-se Arenito, em homenagem ao solo local. O hotel, que começará a ser construído este ano, deverá ser inaugurado em 2025.

 

Parte do plano é gerar cerca de 200 novos empregos na região. Há também um aspecto que dá outra dimensão ao projeto – a valorização do que há de melhor no design brasileiro. Nos interiores há peças de nomes como Jader Almeida, Sergio Rodrigues, Carlos Mota, Arthur Casas. Além disso, acaba de ser aberta uma exposição de arte na vinícola, em um local criado especialmente para dar espaço aos artistas locais.

<span class=”hidden”>–</span>Divulgação/Divulgação

Marcos Zacariades, artista revelação da Chapada, que teve obras expostas no aniversario da bomba de Hiroshima, mostra em suas obras a essência da chapada e do garimpeiro.

 

Provei em primeira mão seis vinhos da UVVA, todos de variedades francesas: Sauvignon Blanc, Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, e dois blends tintos, chamados Cordel e Diamã, que incluem também Malbec, Merlot e Cabernet Franc.

 

Os vinhos mostram claramente a linha mestra da proposta: elegância e complexidade. O destaque foi o Microlote Cabernet Sauvignon 2019, com 12 meses de estágio em barricas novas de carvalho francês, com 13,5% de álcool. Cor rubi violácea escura, aroma fresco elegante, com notas de cassis, amora, madeira, alcaçuz, chocolate. Paladar seco, de bom corpo, com taninos finos e boa acidez. Este Cabernet tem finesse e complexidade, e ainda vai evoluir em garrafa, mostrando bom potencial de guarda. Nota 92 pontos.

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Fonte:

Comer & Beber – VEJA RIO