Um estudo feito pela Universidade de Tel Aviv e de Haifa, em Israel, encontrou antigas sementes de uvas locais em sítios arqueológicos do Deserto de Neguev. As variedades revelam a tradição vinícola da região. Descobriu-se uma semente quase idêntica geneticamente à variedade Syriki, que hoje é usada em vinhos de alta qualidade feitos na Grécia e no Líbano, enquanto outra semente pode ser considerada uma parente próxima de uma variedade de uvas brancas chamada Be’er, que ainda cresce em vinhedos desertos de Palmachim, em Tel Aviv.
As escavações no Neguev ajudaram a revelar uma proeminente indústria do vinho entre os impérios bizantino e árabe (por volta de 900 d.C). Além das sementes de uva, os arqueólogos encontraram grandes jarros, onde o vinho era exportado para Europa e as sementes de uvas permaneceram por milhares de anos. Esse comércio foi sendo paulatinamente desmontado após a conquista muçulmana, no século VII, pois a tradição islâmica proíbe o consumo de bebidas alcóolicas. A cultura vinícola da região, no entanto, foi sendo recuperada a partir de 1980. O comércio atual, porém, depende diretamente de variedades de sementes importadas da Europa.
As espécies milenares foram encontradas em diferentes estágios de conservação. Em 11 amostras, a qualidade do DNA recolhido não permite conclusões definitivas sobre as espécies. Três amostras trouxeram resultados promissores e puderam ser identificadas como pertencentes a variedades locais. As duas amostras com material genético mais preservado entre as espécies encontradas datam do século IX, e são ancestrais de espécies que ainda existem na região.
A descoberta traz a semente Syriki, uma variedade comum no Oriente Médio e com longa história de cultivo no sul do Levante e em Creta, até hoje usada na produção de vinhos. Acredita-se que o local de origem dessas sementes seja a região de Nahal Sorek, um riacho de colinas na região da Judéia. Os pesquisadores suspeitam que essa variedade foi mencionada na Bíblia, no livro de Gênesis, na ocasião da bênção de Jacó a seu filho Judá e no livro de Números, onde um cacho de uvas trazido pelos enviados de Moisés, também pode ser um exemplar ancestral da espécie encontrada.
A semente da variedade Be’er, por sua vez, ainda cresce no sul de Tel Aviv, próxima ao Mar Mediterrâneo, em remanescentes de vinhedos abandonados em meados do século XX. Pela primeira vez, pesquisadores foram capazes de usar o material genético de uma espécie de uva para determinar sua cor. Descobriu-se ser uma uva branca, o exemplar mais antigo dessa variedade já identificado. A uva Be’er é uma variedade local única, endêmica de Israel, e usada ainda para fazer um vinho branco próprio da região.
Curiosamente, essas pequeninas sementes possibilitam a reconstrução histórica da indústria vinícola em parte do Oriente Médio, que vem desde o período bizantino, há mais de mil anos, e perdura até os dias de hoje. As descobertas podem se tornar significativas na produção local moderna. Isso porque na crescente indústria israelense, as bebidas são produzidas a partir de uvas estrangeiras, que não são completamente adaptadas às especificidades da região. A descoberta de variedades locais propícias para a produção de vinho abre novos caminhos para restaurar e melhorar antigas variedades e para a criação de espécies de uvas mais adequadas para condições climáticas desafiadoras, como altas temperaturas e pouca chuva.
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