Entrei em 2025 cheia de esperança.
Eu sei, eu sei… Depois de tantos anos entrados e saídos, o tempo ensina que esperança pode ser mais cara que caviar.
Assim, numa semana de janeiro que poderia ser como as outras, me vi carregada de um otimismo improvável, capaz de encarar uma hora e meia de trânsito até Itacoatiara, só para voltar a um restaurante.
Nunca firmo uma opinião antes de três visitas, e lá ia eu, pela terceira vez, ao Pitanga, que agora se chama Calma. Já explico.
O restaurante fica ao ar livre. Eu sei… é Verão (!!!), mas nunca senti calor. Graças à localização, o ar ali, é mais livre. Leve um babador para a vista panorâmica das montanhas, de um entorno feito de coqueiros, bananais, árvores nativas, uma pequena horta e um tanto de mato. Naquele sábado de sol, barraquinhas coloriam a pequena faixa de areia. Em cima da pedra, corajosos se esturricavam para admirar o mar. Pensei na sorte de observá-los da sombra, com um copo de vinho nas mãos, escolhido da carta feita de orgânicos, biodinâmicos e naturais.
A chef Jessica Hulme é preocupada com cada detalhe, e faz pequenos gestos que me encantam. Faz manteiga com porco nativo (Porco Alado), muda o cardápio de acordo com a estação, investe em treinamento de equipe (que é toda muito simpática), usa ingredientes ali da horta, como salsinha, hortelã, uns tomatinhos ou o manjericão roxo, que vai nas sobremesas. Já que a horta não cobre todo o volume da casa, compra o resto de agricultores familiares cadastrados no Forum de Economia Solidária. Muita coisa vem da horta da Tânia ou da Clarice, que ficam em Maria Paula, bairro entre Niterói e São Gonçalo. E isso é lindo.

Como é normal em qualquer restaurante, gostei de uns pratos, mais que outros. Fui feliz com a esfiha de hortelã (feita com massa phylo); com a etapa de pães com a manteiga de nduja; com o namorado em ‘tiradito’ com uva verde, macadâmia, flor de sal, água de tomate e uma folhinha de endro e, também, do polvo com arroz meloso, curry tailandês, farinha de uarini e coentro. A pré-sobremesa de sorvete de iogurte com farinha de pecã também estava saborosa.
Depois de tantos anos visitando restaurantes profissionalmente, a palavra qualidade foi mudando de lugar na cabeça. Já busquei SÓ originalidade, descobrir novos lugares, sabores, texturas, ingredientes, cultura. Não basta. O equilíbrio também é fundamental. De nada adianta um cardápio criativo sem tirar o melhor de cada ingrediente. O fim deve ser harmônico e há muita técnica por trás.
Hoje, o que chamo de qualidade é um equilíbrio entre originalidade, técnica e consciência. Não consigo mais, dissociar o prazer de comer do que acontece nos bastidores: do papel do restaurante na valorização da sazonalidade e da biodiversidade local – que só alavanca a economia; da parceria com produtores; do tratamento das pessoas; do impacto ambiental dos fornecedores. Não consigo esquecer aquilo que sei, mas é claro que de nada adianta servir comida ruim, ainda que cheia de bons propósitos.
Conseguir esse tripé não é fácil. Acertar na técnica é dificílimo; desenvolver fornecedores dá muito trabalho e pouca gente faz.
Jessica anda conseguindo tudo isso aos poucos, com paciência e muita Calma. Viva ela.
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