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Um brinde a Dionísio: rótulos gregos chegam ao Olimpo do mercado de vinhos

Assyrtiko, Agiorgitiko, Xynomavro. Esses nomes podem ser bem difíceis de pronunciar, mas, acredite, são bem fáceis de beber. A Grécia e suas 300 cepas nativas foram uma das grandes atrações da Prowine, uma das principais feiras para profissionais de vinho do país, que terminou na quinta, 5, em São Paulo. Os vinhos produzidos por lá ainda são pouco bebidos por aqui, o que se justifica diante de uma produção pequena: a Grécia toda produz menos vinho do que a região de Bourdeaux e de maneira muito mais fragmentada.

Hoje, são 1.200 vinícolas, espalhadas por todo território e os vinhedos têm em média 0.5 hectare, cada. Entre ilhas, regiões altas e baixas e de solos vulcânicos, elas somam 109 mil hectares de vinhas plantadas, contra cerca de 950 mil na Espanha, por exemplo. Mesmo assim, atualmente estão no décimo oitavo lugar no ranking de produção de vinho, com 210 mil litros por ano. Boa parte da produção é de vinhos brancos (apenas um terço é de tintos), que abastece elegantes adegas e restaurante nos Estados Unidos e Inglaterra. Agora, alguns importadores, como a Monte Dictis, pretendem torná-los mais populares aqui no Brasil.

Os vinhos mais elegantes, como o Xinomavro Reserve, da vinícola Alpha Estate, na região da Macedônia, que recebeu 94 pontos do americano Robert Parker em 2016, custa R$ 576,14. Produzido com uvas de vinhas de mais de 90 anos, a cerca de 700 metros de altitude, com colheita manual em pequenas caixas, ele passa 24 meses por carvalho francês novo. Trata-se de um vinho vivo, surpreendente em fruta e que o diretor da vinícola comparou a um Barolo, talvez pelo potencial de guarda.

Mas são os brancos um capítulo à parte nesse universo grego. Muito frescos, frutadíssimos, com acidez deliciosa, são perfeitos para nosso clima e gastronomia. Talvez por exigência de mercado, uvas internacionais como Sauvignon Blanc têm sido mais plantadas e até recebem prêmios. Mas o que realmente me surpreendeu foram os brancos e rosés de entrada, da vinícola Monopati, da região do Peloponeso. São deliciosos e valem R$ 105 e R$ 110, respectivamente.

Portanto, abandone a ideia do folclórico vinho Retsina. Antigamente, usava-se a resina do pinheiro de aleto para selar a garrafa e algumas pinhas eram colocadas no mosto para “perfumar” o vinho. Ele ainda existe e é característico de Atenas. Tire da cabeça também a história do vinho salgado (sim, é verdade que antigamente os gregos diluíam o vinho em água do mar para dar sabor e conservá-lo). Deixe para as páginas da literatura o vinho que se tomou na chegada de Homero a Ítaca, ou os das tertúlias filosóficas de Sócrates. A Grécia mudou muito no trato com os vinhos, de forma sábia.

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Para se ter uma ideia, até os anos 60, os vinhos feitos por lá não eram engarrafados. Eles acabavam sendo vendidos direto dos barris. Nas décadas seguintes os enólogos entram em cena e, nos anos 80, inicia-se o processo de renascimento do vinho grego. Portanto, apesar de ser o berço de Dionísio, o deus do vinho, e da humanidade, parece que agora finalmente a Grécia coloca suas vinhas na história e no mercado internacional de vinhos.

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Fonte:

Vinho – VEJA