Em recente visita a Argentina tive a honra de ser jurado no IV Concurso Nacional del Torrontés Riojano e de degustar e aprender muito sobre esta que é a única uva/casta original da terra do tango.
Enquanto a malbec, cepa mais famosa por lá, é de origem francesa, a torrontés nasceu na Argentina, fruto de um cruzamento natural entre a muscat de alexandria com a criolla chica (também chamada de mission, na Califórnia).
Esta uva branca tem algumas variantes: a torrontes riojano (original da província argentina de La Rioja), a torrontes mendocino (original de Mendoza) e a torrontés sanjuanino (de San Juan).
Embora os rótulos dos vinhos normalmente tragam apenas o nome “torrontés”, na maioria das vezes trata-se de torrontés riojano, que responde por 80% da área plantada, e quase toda uva se destina a produção de vinho, enquanto as variações sanjuanino (15%) e mendocino (5%) são mais usadas para consumo in natura. Confusão se faz, pois os vinhos da uva torrontés riojano, não são feitos apenas em La Rioja, sua província de origem, mas em todo o país.
Os brasileiros amam torrontés. Nosso país é o principal destino das exportações, com 15% do total, seguido por Suécia (12%) e EUA e Canadá (8% cada).
O que encanta nesta casta é seu perfil perfumado, fresco e alegre, com notas típicas de rosas, cítricos e lichias. Normalmente falamos de vinhos leves, varietais brancos secos principalmente, mas também blends com outras brancas, rosados (com pequena adição de tintos), espumantes brancos ou rosados, meio-doces e vinhos de sobremesa.
Poucos sabem que o torrontés deu uma guinada a partir do início dos anos 2000. Até então, a qualidade, e principalmente o estilo do torrontés riojano, feito em todo o país, era altamente irregular. Quem virou este jogo foi Rodolfo Griguol, enólogo da cooperativa La Riojana e primeiro argentino a ter o título de PhD em Enologia. Ele liderou um profundo trabalho de pesquisa das leveduras nativas encontradas nas uvas torrontés, realizado no Brasil, na Universidade de Caxias do Sul, selecionando e testando mais de 23 mil clones, até conseguir a levedura ideal, que gerava vinhos de qualidade consistente e com um estilo único, sem amargores, aromático e com a tipicidade que se espera de um bom torrontés riojano. Esta levedura, batizada de LRV 945 (o LR se refere a La Riojana), foi patenteada e hoje é utilizada em todo o país, dando identidade e estilo ao vinho.
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