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Sustentabilidade e terroir: como vinhos brasileiros ganham reconhecimento

Quando o espumante brasileiro Casa Perini Moscatel foi eleito um dos cinco melhores rótulos do planeta pela Associação Mundial de Jornalistas e Escritores de Vinhos e Licores, em 2017, a Casa Perini, de Farroupilha, no Rio Grande do Sul, já era uma das mais tradicionais do país. Acumulava inúmeros prêmios conquistados mundo afora principalmente graças a seus espumantes de alta qualidade e preço acessível. Mas a notoriedade ajudou a alavancar ainda mais o nome da vinícola. Hoje, quase seis anos depois, são 60 rótulos em um portfólio com os já conhecidos espumantes e uma crescente variedade de vinhos tranquilos.

“Cada novo rótulo é criado a partir de dois fatores principais”, conta Pablo Perini, representante da nova geração da família responsável pelos negócios. Além de sommelier, cuida também do marketing da vinícola. “Ou identificamos uma lacuna de mercado que pode ser preenchida, ou algo da nossa produção foi tão excepcional que justifica um rótulo novo”, diz. Foi assim que surgiram novidades como o rosé Drella (R$ 110), um corte de cabernet franc, merlot e barbera, ou o Benildo Perini Vintage Blend (R$ 350), de alta gama, elaborado com cinco castas (cabernet sauvignon, tannat, alicante bouschet, cabernet franc e merlot) de cinco safras diferentes.

A Perini também lançou uma nova linha, Crudo, de vinhos de baixa intervenção. “São vinhos fora da curva. Não são biodinâmicos, nem orgânicos, mas autorais”, diz Pablo Perini, que também assina a arte individual de cada garrafa. Hoje, são dois rótulos: Trebuono (R$ 186), feito com a uva de origem italiana Trebbiano, e Nero di Bianca (R$ 230), um inusitado corte de merlot, uma uva tinta, e moscato, uma uva branca. Recebeu 91 pontos no guia Descorchados, voltado para os vinhos da América do Sul. São opções que interessam principalmente aos fãs dos vinhos naturais e autorais, uma tendência crescente.

A vinícola também vem se tornando referência em sustentabilidade. Nos vinhedos, mesmo antes das certificações mais rígidas criadas pelo governo, a família já adotava uma série de boas práticas. Cuida dos afluentes e reduz o uso de defensivos agrícolas por meio de técnicas mais modernas, como o chamado TPC (Thermo Pest Control), um jato quente usado nas videiras para protegê-las das pragas, e adota ainda a cobertura verde, que promove o desenvolvimento das uvas e aumenta a complexidade do terroir.

Mais recentemente, a Perini também vem explorando alternativas às tradicionais garrafas de vidro. Alguns dos rótulos da Arbo, uma das linhas da Vinícola, são oferecidos no modelo bag-in-box, a caixa com 3 litros que mantém o vinho fresco por mais tempo. São quatro opções, três tintos (tannat, merlot, cabernet sauvignon) e um branco (moscato).

As iniciativas de sustentabilidade também incluem a retirada das cápsulas de alguns de seus rótulos, como o espumante rosé Aquarela, um dos mais vendidos. “Tornamos as embalagens mais minimalistas, mais limpas, como forma de valorizar o produto. E tem dado certo”, conta Perini.

Quase toda a produção é destinada ao mercado interno, e a variedade de opções é também uma estratégia para atrair um público apreciador de vinho que vem crescendo, especialmente depois da pandemia, mas cujo potencial ainda é enorme. Para ter ideia, dados da Ideal Consulting apontam que cada brasileiro bebeu, em média, 2,64 litros em 2021. O consumo per capita da Argentina é de 30 litros e dos portugueses, os maiores bebedores de vinho do mundo, é de 69 litros. “O mercado doméstico é muito grande, já que a população é muito grande”, diz Perini. Por isso, poucos rótulos são enviados para o mercado externo.

“Mas embora o volume exportado seja pouco, a aprovação do público, técnico inclusive, é surpreendente”, afirma o empresário e sommelier. A quantidade prêmios conquistados pelos rótulos brasileiros e da própria Casa Perini é um indicativo. “Queremos mostrar que o consumidor não tem necessidade de comprar um Prosecco, um Cava ou um Champagne“, diz ele, citando algumas das mais tradicionais indicações de origem de espumantes. “Não queremos ser Champagne. Aqui é o Brasil, temos terroir e produtos sofisticados, de grande valor agregado”, conclui.

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Fonte:

Vinho – VEJA