A Borgonha, como sabido, é o berço dos vinhos mais caros e icônicos do mundo, como o Romanée-Conti, os Chablis e por aí afora. No mundo do vinho, impulsionado por Robert Parker e outros formadores de opinião, os vinhos desta região francesa sempre foram tratados como “vinhos de campesinato”, enquanto os de Bordeaux são revestidos com ares de nobreza. Tal ótica muito se deve aos tintos e brancos da Borgonha serem, de modo geral, vinificados a partir de uma única casta e por pequenos produtores que, muitas vezes, não têm mais que algumas “ruas” de uvas plantadas. A pluralidade do solo e métodos de produção bem objetivos e específicos, especialmente quanto a utilização de barricas, completam tal quadro.
Por conta desta visão, muitos consideram que os vinhos da Borgonha entregam mais ao consumidor quando bebidos mais novos. Vale lembrar que o envelhecimento do vinho é um processo natural que ocorre dentro da garrafa. Durante esse período, os componentes presentes na bebida evoluem, se harmonizam e adquirem novas características. O resultado é uma bebida mais complexa e equilibrada, com aromas e sabores mais refinados. Claro que isto vale para vinhos com alguma estrutura e qualidade, vinho ruim, quando envelhece, se transforma em vinho ruim envelhecido. Para os tintos da Borgonha, geralmente o envelhecimento pode variar de cinco a vinte anos, dependendo do produtor, da safra e do estilo do vinho. Fundamental é destacar que os vinhos Borgonha são conhecidos por sua elegância e sutileza, e não pela sua potência ou robustez, ao contrário dos vinhos de Bordeaux. Portanto, um tempo de envelhecimento mais longo pode não ser benéfico para muitos estilos de vinhos tintos, já que os taninos e a acidez podem se tornar muito suaves e a bebida perderá suas características distintas. Vinhos da Borgonha, com algumas exceções, tendem a ficar homogêneos com o envelhecimento.
Os brancos Borgonha são conhecidos por sua incrível capacidade de envelhecimento. Alguns dos melhores vinhos brancos da região podem durar décadas, ganhando complexidade e profundidade com o tempo. No entanto, é importante observar que nem todos os brancos têm essa capacidade. Alguns vinhos brancos de Borgonha são feitos para consumo imediato e devem ser apreciados jovens para aproveitar ao máximo sua frescura e vivacidade; exemplo clássico são os Petits-Chablis, que entregam um frescor incrível e uma minerabilidade a toda prova quando mais jovens (consumidos em até três anos do engarrafamento). Em suma, para se balizar a possibilidade e o tempo de envelhecimento dos vinhos da Borgonha — ou de qualquer vinho — deve-se levar em conta o estilo, a safra, o produtor e as preferências pessoais do consumidor. E esta última variável, ao meu ver, é a mais importante. Salut!
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