O ser humano, especialmente o ocidental, tem uma tendência absurda a posse e a acumulação. Junto com esses traços, veio o conceito de sucessão e herança. Em que pese ter sido encontrado, em Tel Kabri, um sítio arqueológico de Israel, 40 ânforas de cerâmica com restos do vinho mais antigo do Oriente, com cerca de quase 4 mil anos, o hábito de adegar vinhos vem das antigas Cidades-Estados italianas e de certas regiões gaulesas que, desde a Idade Média, por um lado, tinham monastérios que produziam vinhos e guardavam a produção para consumo próprio, trocas e pequeno comércio. Por outro lado, senhores feudais, chamados de suseranos, que adquiriam vinhos e os estocavam (adegavam) para fins de preservação e, também, herança.
Na primeira metade do século XX, os aristocratas, especialmente banqueiros e industriais, passaram a ter em suas residências espaços (salas), destinados a armazenar grandes quantidades de vinhos para conservação, herança e bom consumo. As Grandes Guerras fizeram com que tal prática ficasse mais acirrada e passasse a ser encarada como necessária. As escolas arquitetônicas, já nos anos 40 do século XX, incorporaram os estilos de adegas a seus projetos. A adega passou a ser um “cômodo relevante” das grandes casas urbanas. Hoje nos deparamos com apartamentos de dimensões não tão grandes que oferecem em suas plantas espaços destinados a elas. Entretanto, ouso afirmar que ninguém precisa guardar mais que 30 e poucas garrafas de vinhos para “ser feliz” (e olhe lá!).
A verdade é que os vinhos estão acessíveis às necessidades de consumo do cidadão comum, seja pela abundância de rótulos, seja pela paleta de preços e estilos à disposição, até em supermercados. As importadoras, especialmente no Brasil, passaram a atender o consumidor final através do comércio eletrônico ou mesmo em suas lojas físicas. Assim é muito fácil escolher vinhos para cada ocasião, sem a necessidade de “grandes estoques”. Uma adega climatizada ou um local mais fresco em casa são suficientes para guarda do consumo de vinhos.
Ter seis tintos leves na adega (Pinot Noir, Gamay, Bonarda etc.), seis tintos mais pesados (Malbec, Cabernet Sauvignon, Tempranillo, etc.), seis brancos leves (Sauvignon Blanc, Verdejo , Loureiro etc.) , seis brancos mais encorpados (Chardonnay, Chenin Blanc, Rieslings etc.), três espumantes (Champagne, Prosecco, Cremants, três rosês (Cinsault, Syrah, Rufet), três vinhos de sobremesa (O Porto, Madeira, Marsala, Late Harvest) e algumas “garrafas especiais” (um Bordeaux mais especial, um grande Malbec argentino, um Chablis Premier Cru, um ícone da Califórnia etc.), são suficientes para o enófilo, como eu, se divertir e, porque não, ampliar seu leque de conhecimento e gosto? Se houver uma ocasião especial (churrasco, aniversário, etc), o mercado oferece bons rótulos e estilos para todos os bolsos e gostos. O importante é brindar com alegria e saúde, sem tornar o vinho algo chato e pesado de ser carregado. Salut!
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