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O Vinho na Jordânia

Na jornada de conhecimentos sobre a cultura vínica a região do Levante onde se encontra a Jordânia, tem uma grande importância na história da Vitis e do Vinho, sendo um dos locais onde a Vitis sylvestris sofreu domesticação há milhares de anos atrás e teve uma importância histórico-cultural para várias civilizações que nestas terras habitaram desde o período Paleolítico. O país faz fronteira com a Palestina, com Israel, com a Síria, com a Arábia Saudita e com o Iraque, passou por diversas transformações ao longo do tempo. Quando o Império Otomano dominou a região dizimou com a cultura vínica que havia, devido a sua religião muçulmana ser aversa ao consumo de bebidas alcoólicas.

1. Dados Atualizados Sobre a Produção de Vinhos na Jordânia

Segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV,2021) existem na atualidade 3.253 ha de vinhedos plantados na Jordânia, seus dados de produção nem são mencionados estando zerados, o seu consumo de vinho representa 0,0% ficando na posição 153° a nível mundial, a importação de vinho representa 0,1% ficando na 66° posição do mundo e apresenta a exportação de vinhos que fica na 82° posição do globo.

Dados explicados de forma prática devido hoje cerca de até 98% da população seja muçulmana, lembrando que uma porcentagem destes, não são praticantes a semelhança do que acontece na religião católica onde diversas pessoas se denominam católicos, mas não seguem os ritos da religião ao pé da letra, o que nos leva a pensar que além de produzirem uma pequenina quantidade de vinho para a exportação e para o turismo local, algum início de introdução a tentativa de consumo de vinho pela população está acontecendo de forma ainda muito inexpressiva.

2. Petra a Capital dos Nabateus

A cidade de Petra localizada no Sul é o destino turístico mais visitado do país, o local foi a capital dos Nabateus, povos que habitavam a região desde 1200 a.C.. A linda cidade foi esculpida toda em rochas de pedras arenito e era um trajeto obrigatório para comerciantes que atravessavam o deserto para chegarem ao porto de Gaza onde a partir dali enviavam suas mercadorias para outros locais como a Europa, a cidade estava estrategicamente localizada numa intercessão de várias rotas comerciais como a do incensos, a dos perfumes, das especiarias e a da seda.

Os Nabateus eram especialistas em recolher e transportar água de incríveis distâncias usando aquedutos esculpidos nas rochas e também armazenar-la, criando assim um verdadeiro oásis e um local seguro para as caravanas descansarem. Mas não se enganem com as pretenções, pois todos que usavam das mordomias da cidade tinham que pagar uma espécie de pedágio, inclusive os animais que bebiam a água armazenada. E foi assim eles dominaram a disputada das rotas comerciais e acumularam uma riqueza extraordinária, tornando o território onde localiza-se a Jordânia um dos maiores centros comerciais do Oriente Médio. Hoje a sua moeda é a quarta moeda mais forte do mundo, o Dinar Jordaniano que vale 1,45 dólares e cerca de 1,33 euros.

3. Cultura Vínica e os Nabateus

Os Nabateus decoravam suas estruturas arquitetônicas ao modo clássico, mas usavam de criatividade para colocar elementos distintos ao seu próprio estilo. A cidade de Bayda nas proximidades de Raqmu-Petra, era a área de maior produção de vinho para esse povo e nesta cidade adornavam molduras das portas como o exemplo da peça exposta no Museu em Petra que pertencia a um grande salão de uma residência nabateia com imagens de Vitis e com a cabeça de Dionísio, o deus do vinho para os gregos e para os nabateus associavam ao seu deus chefe Dhu Shara. Outras peças vínicas como ânforas também foram encontradas no sítio arqueológico de Petra e podem ser visualizadas no Museu de Petra.

Outro detalhe interessante que associa os Nabateus ao Vinho era o fato que eles tinham o hábito de higienizar seus mortos com vinho antes de coloca-los em suas tumbas, buracos cravados nas rochas da região. Eles acreditavam que ao limpar os defuntos, eles o purificavam de todo o pecado antes de adentrarem ao paraíso.

4. A Árvore de Madaba

A cidade de Madaba na Jordânia é conhecida pelos seus magníficos mosaicos e um dos mais tradicionais e populares é o da Árvore de Madaba, que diz a lenda que foi batizado por esse nome devido na história antiga a árvore produzia cachos de uva tão grandes que eram necessários dois homens para carregar um de cada vez. É uma excelente lembrança da história e do local, inclusive por essas terras está no caminho para a Terra Santa mencionada diversas vezes na bíblia.

5. Monte Nebo

O Monte Nebo encontra-se bem próximo a Madaba e este local foi onde Moisés avistou a Terra Santa prometida por Deus, lá existem mosaicos da era bizantina que também contém a Vitis presente, evidenciando o quão importante essa planta e seus frutos eram para a região. No local se encontra um museu com peças de diversas épocas inclusive ânforas que armazenavam e transportavam vinho. Do topo do monte pude avistar em meio ao deserto um pequeno produtor de vinho que utiliza tecnologia de transporte de água para produzir a Vitis na atualidade.

6. Considerações Finais

Sem dúvida foi um grande prazer visitar in loco todos esses locais e poder constatar esses detalhes da cultura vínica presente nas evidências históricas da região, e também como as culturas mudam mediante as normas impostas pelos que dirigem as leis de um país, de uma região e até no mundo como estamos tendo a oportunidade de vermos na atualidade com a globalização, muitas vezes utilizando como plano de fundo vários argumentos, como por exemplo deste país o fundamentalismo religioso para justificar as suas atrocidades realizadas contra culturas milenares dos locais, como a cultura vínica.

Desejo boas provas a quem conseguir ter o privilégio de provar os vinhos jordanianos que na atualidade são produzidos em pequena escala com castas francesas em maioria. Uma sugestão é o produtor J.R. River que já está enviando seus vinhos para República Tcheca e que dispõem ao consumo de turistas nos restaurantes e hotéis em Amã, capital da Jordânia.

Saudações Báquicas!!!

Fonte:

Mundo dos Vinhos por Dayane Casal