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O Pequeno Príncipe e o Vinho

O livro O Pequeno Príncipe  (Le Petit Prince) nunca saiu de moda, mas voltou a ganhar a mídia, desde 2023 com a celebração dos 80 anos de sua publicação e no ano passado com os 80 anos da morte de Antoine de Saint-Exupéry, seu criador.

 

Muito mais que um livro infantil, o teor poético e filosófico da obra conquistou adeptos de todas as idades. Com cerca de 500 edições, é o livro francês mais vendido no mundo (mais de 80 milhões de exemplares) e um dos mais traduzidos da história (180 línguas).

 

*O Pequeno Príncipe* já foi adaptado para quadrinhos, cinema, TV, teatro, ópera, rádio, e até um asteróide foi batizado com seu nome. O mais importante, contudo, são as ações sociais que o livro inspirou: hospital, fundação, faculdade e um instituto de pesquisas. A obra é sucinta (pouco mais de 90 páginas), mas contém infinitas entrelinhas, já analisadas sob diversas perspectivas do conhecimento humano. Por que não enxergar estas páginas através de uma taça de vinho?

 

A história começa com um aviador contando sobre seu primeiro desenho na infância: uma jiboia digerindo um elefante. Ao mostrar o desenho para os adultos, todos achavam que retratava um chapéu… Essas mesmas pessoas provavelmente veriam no vinho apenas uma bebida alcoólica ou um mero suco de uva fermentado.

 

Já adulto, o aviador faz um pouso de emergência no Saara. Sozinho no deserto, conhece o principinho, que morava em um asteróide e veio visitar a Terra. O pequeno pede ao aviador que desenhe um cordeiro e só fica satisfeito quando o desenho mostra uma caixa. A mensagem é “abstração”, essencial na arte e na degustação de vinhos, sem a qual não reconheceríamos aromas de frutas ou flores. Assim como a caixa guarda um cordeiro imaginário, o vinho é um líquido dentro de uma garrafa. A emoção está em cada um de nós. Um mesmo vinho evocará poesia aos poetas, componentes químicos aos cientistas ou memórias aos amantes.

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No livro, o asteróide do príncipe foi descoberto em 1909 por um astrônomo turco, que só foi levado a sério após apresentar sua descoberta em 1920, usando uma elegante casaca. Todo produto é vendido também por sua embalagem, e o vinho não é exceção. O principinho também diz que “as pessoas grandes adoram os números”. Ele está certo, pois muitos apreciam seus vinhos por notas, preço, safra, teor alcoólico…

 

O pequeno narra ao aviador sua saga por diversos planetas, onde encontra personagens curiosos. Um deles é o “acendedor de lampiões”, que segue regras dogmaticamente, acendendo e apagando lampiões como uma máquina. Não há como não pensar nas mil regras que os “especialistas” impõem aos enófilos, esquecendo que o que há para ensinar não são regras, mas como navegar na complexidade do vinho.

 

Os rituais, por outro lado, valorizam o vinho, como a raposa lembrou ao príncipe: “É preciso ritos”. Os ritos tornam especial cada garrafa aberta. Até mesmo o respeito ao terroir o livro nos ensina. A personagem do rei nos lembra que “é preciso exigir de cada um o que pode dar”. É preciso buscar em cada terroir e em cada vinho o que ele pode nos oferecer. Não adianta tentar produzir no Brasil um Cabernet chileno, nem buscar complexidade em um Beaujolais Nouveau.

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As analogias entre a obra e o vinho são tantas que não cabem aqui. Antoine de Saint-Exupéry e o vinho nos mandam mensagens semelhantes: autoconhecimento, partilhar, amar o próximo e simplesmente ser feliz.

 

Para acompanhar a leitura deste texto, sugerimos alguns rótulos.

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Fonte:

Comer & Beber – VEJA RIO