Posted on

Novas fronteiras dos vinhos portugueses unem o respeito pelas castas autóctones e terroirs únicos com práticas modernas

Portugal vive uma verdadeira revolução silenciosa no mundo do vinho. Embora o país seja historicamente associado a vinhos tradicionais e ao emblemático Vinho do Porto, uma nova geração de viticultores, enólogos e produtores está transformando o panorama vitivinícola português. Essa “nova viticultura” une o respeito pelas castas autóctones e terroirs únicos com práticas modernas, sustentáveis e, em muitos casos, minimalistas.

A nova viticultura portuguesa está fortemente alicerçada em três pilares: sustentabilidade, precisão e autenticidade. No campo, há uma adoção crescente de agricultura regenerativa e práticas biodinâmicas, especialmente em regiões como o Dão e o Alentejo. O uso de drones e sensores de solo para monitorar o estado hídrico das vinhas permite intervenções mais pontuais, reduzindo o uso de água e defensivos. Sistemas de mapeamento por GPS, estações meteorológicas locais e softwares de gestão agrícola estão se tornando cada vez mais comuns.

No cultivo, há uma valorização do plantio em altitude e em solos pobres e pedregosos, com espaçamento entre videiras adaptado ao microclima e ao tipo de solo, visando equilíbrio entre vigor e rendimento. A colheita, muitas vezes manual nas vinhas mais antigas ou de encostas íngremes como as do Douro, é feita em horários mais frescos do dia para preservar os compostos aromáticos das uvas.

Na cave, a utilização de barricas de carvalho passou a ser mais criteriosa. Muitos produtores optam por barricas usadas ou por foudres (tonéis maiores), buscando preservar a expressão do terroir e evitar o excesso de madeira nos vinhos. Além disso, materiais alternativos como ânforas de barro (inspiradas nas talhas alentejanas) e ovos de cimento têm sido incorporados à vinificação de tintos e brancos, oferecendo micro-oxigenação controlada e fermentações mais suaves.

Portugal também se destaca no cenário internacional dos vinhos naturais — aqueles produzidos com mínima intervenção, sem adição de sulfitos (ou com adições mínimas), fermentações espontâneas e nenhum uso de leveduras industriais.

No Alentejo, produtores resgatam a milenar técnica romana da vinificação em talhas, resultando em vinhos complexos, texturizados e com forte ligação à terra. Já no Douro, algumas pequenas quintas apostam em vinhos naturais a partir de vinhas velhas em socalcos, com fermentações em lagar e uso mínimo de tecnologia. O Dão, com seu clima mais fresco e granitos, tem atraído jovens enólogos que valorizam o frescor natural das uvas e o uso mínimo de madeira. Em Trás-os-Montes, região ainda pouco explorada comercialmente, há um movimento crescente de vinificação natural em altitude, aproveitando o isolamento e a biodiversidade local. Esses vinhos, muitas vezes não filtrados, turvos e vivos, têm conquistado consumidores em feiras internacionais, lojas
especializadas e cartas de restaurantes voltados à gastronomia contemporânea e consumidores atentos aos naturais.

Nos últimos anos, os vinhos portugueses vêm ganhando cada vez mais espaço nos mercados internacionais. Países como Estados Unidos, Brasil, Reino Unido, Canadá e Alemanha são grandes consumidores de rótulos portugueses — desde os tradicionais (Porto, Vinho Verde, Alvarinho, Touriga Nacional) até os mais contemporâneos, como blends orgânicos e naturais. Segundo dados recentes do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), as exportações portuguesas ultrapassaram 1.000 milhões de euros nos últimos anos, com um crescimento
consistente tanto em volume quanto em valor. Esse avanço se deve à combinação de qualidade, autenticidade e preços competitivos. Além disso, o país tem investido fortemente na promoção internacional, com presença em feiras como ProWein, Vinexpo e Wine Paris.

Há grandes ícones desta modernidade toda que valem a pena serem conhecidos e provados, e começo sugerindo o Esporão Reserva Tinto, vinho orgânico, proveniente de vinhas próprias, da Herdade do Esporão, com mais de 20 anos, sendo um corte de castas tradicionais e com estágio de 12 meses em barricas. Outro vinho que une a modernidade à tradição, até pelo corte de Alicante Bouschet e Syrah, é o Monte dos Cardeais Reserva Tinto, da prestigiada Costa Boal, de cor rubi profunda, notas de frutos vermelhos com alguma compota, fumo e especiarias. E merece menção o João Portugal Ramos – Alvarinho – Vinho Verde, um branco seco, com aromas cítricos e florais, elegante, boa acidez e final prolongado; sua maturação é de duas a três semanas, com 10% do mosto fermentado em barricas novas de carvalho francês.

As perspectivas para o futuro são promissoras. A nova geração de produtores aposta em vinhos com identidade própria, sustentabilidade ambiental e forte vínculo com a origem. A valorização das mais de 250 castas nativas e a diversidade de solos e microclimas posicionam Portugal como uma das regiões vitivinícolas mais empolgantes e inovadoras do mundo atual. Salut!

Fonte:

vinho – Jovem Pan