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Homenagem à Bairrada por Dayane Casal

O tempo tem aqui um ofício antigo.
É escultor de vinhos,
fiador de histórias,
guardião de segredos.
Na Bairrada, o tempo não corre.
Ele decanta.
Purifica.
Revela.
Cada vinha é um manuscrito vivo.
Cada planta, um verso que continua a ser escrito.
Cada garrafa, um capítulo em repouso.

Talvez seja o calcário.
Talvez seja o sopro do Atlântico.
Talvez seja a persistência humana, desde tempos imemoriais.
Ou talvez seja a soma de tudo isso,
mas aquilo que nenhum mapa traduz:
o espírito de um lugar.
A Bairrada é um território onde a natureza assume voz própria.
Uma voz firme, mas excepcionalmente generosa com quem sabe interpretá-la.

Entrar nas caves da Bairrada é entrar num templo.
Um templo onde a luz se ajoelha,
onde o ar é mais denso,
onde o tempo permanece suspenso, como se respirasse em perfeita
harmonia com as garrafas que repousam.
Cada garrafa guardada é um voto de confiança no futuro.
Uma promessa.
Um eco do que fomos,
e uma intuição do que ainda seremos.

No cenário majestoso do Palace Hotel do Bussaco,
as paredes parecem escutar.
A noite tem o brilho de um ritual antigo.
Os passos são solenes.
As palavras, firmes.
Os gestos, impregnados de simbolismo.
Cada entronização não é apenas um ato, é um compromisso.
Um pacto com a tradição.
Uma continuação da chama que ilumina a Bairrada há gerações.

O vinho da Bairrada é mais do que sabor, corpo ou aroma.
Ele é uma forma de pensar.
Uma forma de estar no mundo.
Uma metáfora silenciosa sobre paciência, transformação e verdade.
Cada fermentação é um renascimento.
Cada estágio, uma prova de maturidade.
Cada garrafa aberta, um reencontro com algo que não sabíamos que tínhamos perdido.

A Bairrada é um gesto. É uma memória. É um legado.
É um vinho que resiste ao tempo para nos lembrar que tudo
o que vale a pena exige cuidado, entrega e sobretudo verdade.
Este texto é uma homenagem a uma região que honra o passado, celebra o presente
e abraça o futuro com a mesma determinação com que cuida da vinha
que hoje alimenta o amanhã.
Que a Bairrada continue a inspirar.
Que os seus vinhos continuem a emocionar.
E que esta terra, eterna na sua simplicidade e grandiosidade,
siga a ensinar-nos que assim como o vinho a vida amadurece com paciência ,
mas ao mesmo tempo é preciso estar com os olhos atentos na evolução e no futuro.

Fonte:

Mundo de Baco por Dayane Casal