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Especial Priorat

1. Uma Breve História da Região Priorat

Priorat, março 2013, por Dayane Casal

1.1. Colônia Romana

Essa área espanhola da Catalunha já produz Vitis vinífera há mais de 2000 anos, com inúmeras provas que evidenciam que a cidade Tarragona, capital da província, localizada a Este da região demarcada de Priorat foi uma colônia romana denominada Tarraco e de enorme importância ao qual a UNESCO em 2000 declarou todo o conjunto arquitetônico como Patrimônio Mundial da Humanidade.

1.2. Ordem Religiosa dos Cartuxos – Scala Dei

No início do século XII os monges da Ordem Religiosa dos Cartuxos implantaram um monastério num local onde foram informados que os anjos subiam através de uma escada até os céus, foi chamado de Scala Dei, “a escada de Deus”. No local começaram a cultivar vinhas e a produzir o néctar de Baco, o vinho, logo os Priores deste monastério tornaram-se muito importantes pela venda do vinho e por laços estreitos de amizades com os reis de Aragão, por consequência a região em torno do convento foi denominada de Priorat, que significa “um convento dirigido por um Prior”.

1.3. Ressurgimento Histórico entre as Décadas de 70 e 80

Após as grandes crises com os adventos da filoxera, guerra civil e guerras mundiais surge na região um novo “Prior” René Barbier, que nada tem ligado ao monastério, mas trás em sua origem genética francesa a arte de produzir vinhos, é um heróico e destemido catalão nascido em Tarragona, que vislumbrou nesta região inóspita produzir um vinho impar, que pudesse traduzir ao mundo características únicas dessa região que ele tanto ama, o Priorat.

2. Os Pioneiros do Ressurgimento

René Barbier em 1979 foi o pioneiro, recuperando vinhas antigas de Cariñena e implantando novas na região iniciando assim a história que iria circular o mundo através do seu bravo trabalho no Clos Mogador, elevando assim o vinho espanhol em qualidade e repercussão internacional. Mas como o ditado popular diz “uma andorinha só não faz verão”, em 1989 ele convenceu alguns amigos como Álvaro Palacios (L’Ermita, Finca Dofí), Carlos Pastrana (Clos de L’Obac), José Luis Pérez (Clos Martinet), Daphne Glorian (Clos Erasmus) a seguirem a jornada de juntos cultivarem vinhas e transformarem a região em algo único no setor vitivinícola.

A tenacidade e bravura logo os fez abrir suas próprias bodegas, com características individuais mas preservando acima de tudo o DNA do terroir. O trabalho desses homens ganhou fama internacional para a região que possui uma pequena produção mas cheia de qualidade. Em 2001 receberam “Denominación de Origen Calificada” DOCa Priorat“, somente essa região e a da Rioja possuem tal distinção na Espanha.

3. Características do Terroir

Localizado na região sudeste da comarca da Catalunha, possui uma área de 17.629 ha distribuídas em 9 municípios, na atualidade possui uma superfície plantadas com vinhas com 2.163 ha, com 513 produtores e 114 bodegas, segundo o Consell Regulador DOQ Priorat. A região tem um relevo montanhoso com grandes diferenças de altitudes e inclinações, onde se destacam ao norte a serra Montsant, a oeste a serra La Figuera, a leste a serra Molló e ao sul segue o curso do rio Siurana com seus afluentes e a bacia do rio Ebro.

Apresenta um clima mediterrânico e temperado, o índice pluviométrico anual é baixo com cerca de 380 mm e apresenta por volta de 3000 horas de luz sol por ano, os ventos fortes são amortecidos praticamente por todas as áreas da região pelas cadeias de montanhas, salvo algumas exceções de áreas. O seu solo é um dos fatores que o distingue de qualquer outra área vitivinícola, é pobre de matéria orgânica e com uma fração importante denominada “licorella“, uma rocha com tons marrom-escuro a acinzentado que tem características peculiares e que permite que a viticultura seja possível nesta região tão seca e agreste. Um detalhe importante explicado de forma simples e pedagógica por René Barbier é como se a licorella fosse uma “camada de plástico” que com o calor faz suar a parte de baixo formando pequenas gotículas e que juntas se convergem nas frestas dos fragmentos de pedras, assim as raizes das videiras que buscam água conseguem absorve-la. Outro detalhe é que são uma espécie de “mica”, onde a sua superfície brilha com os raios solares, refletindo e absorvendo o calor contribuindo assim para a maturação fenólica dos bagos de uva.

A Garnacha é a principal casta cultivada na atualidade e faz geralmente par com a Cariñena formando o blend mais típico da região, também são autorizadas as castas tintas Tempranillo, Picapoll Negre, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Pinot Noir, Merlot e Syrah. Já nas cepas brancas estão autorizadas a Garnacha Blanca, Macabeu, Pedro Ximénez, Chenin Blanc, Moscatel de Alejandría, Moscatel de Grano Menudo, Blanquilla, Picapoll Blanc e a Viognier.

Crédito de Imagem : Clos Mogador, Priorat

Sem dúvida o que compõe o conceito terroir completando tudo o que foi dito anteriormente é a bravura dos homens que além de todas as decisões tomadas na viticultura, vinificação e estágios, não se acovardam com as dificuldades do terreno e sobretudo do mercado. Trabalham diariamente com o objetivo de produzirem vinhos únicos como fator de diferenciação frente ao consumidor cada vez mais exigente.

4. Características do Vinho

Num local com um cenário tão difícil de produzir vinhos, claro que a quantidade de vinhos produzidos neste terroir é baixa, sendo a maioria tintos. Os vinhos de Priorat de modo geral se caracterizam por serem vinhos diferentes, o açúcar das uvas acumulam níveis altos e seus graus alcóolicos variam de 14 a 15%, são menos ácidos e mais concentrados, com uma mineralidade evidente conferida pelo solo licorella, em sua vinificação na grande maioria são utilizadas as leveduras autóctones. Os aromas são de frutas madura e seca, não são marcados por madeira como grande parte dos vinhos espanhóis.

5. Clos Mogador

Fundado em 1979 por René Barbier, o Clos Mogador está localizado no coração de Priorat no município de Gratallops, possui 60 ha de vinhas plantadas principalmente com as castas Garnacha, Cariñena, Cabernet Sauvignon e Syrah nas tintas e nas brancas Garnacha branca, Macabeu e Picapoll Blanc. A Bodega está num local com uma visão panorâmica lindíssima para os vinhedos, onde fica claro através da própria vista a filosofia de trabalho da família com o compromisso de serem biodinâmicos, com uma agricultura regenarativa, com muita biodiversidade presente. Além dos vinhos especiais o Clos Mogador produz azeite de olivas e também um mel delicioso.

Em 2006 o Vinho Clos Mogador recebeu a classificação diferenciada de “Vinho de Finca” que se soma ao status de ser produzido na D.O.Ca. Priorat. Essa designação que foi concedida pela primeira vez na Espanha garante que todas as uvas da parcela Clos Mogador sejam utilizadas para a sua exclusiva elaboração pelo menos nos últimos cinco anos comprovados com o trabalho de rastreabilidade, e também são concedidos com base na existência de um reconhecimento nacional e internacional do vinho nos últimos dez anos.

Espero que você leitor tenha gostado deste compilado de informações curiosas sobre a região vitivinícola espanhola icônica Priorat, desejo que possas ter despertado o uma vontade de degustar um vinho deste terroir tão especial do mundo dos vinhos.
Boas provas e saúde!

Clos Mogador
+34 977 839 171
closmogador@closmogador.com

Fonte:

Mundo dos Vinhos por Dayane Casal