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Especial Egito

Visitar o país que foi o berço e o palco de uma das mais importantes civilizações a que tivemos notícia até atualidade sem dúvida é uma enorme viagem na história, cheia de riquezas de informações culturais.

Breve Histórico

A civilização egípcia deixou impresso no curso do tempo incontáveis influências até a época atual, foram responsáveis por implementar inovadoras técnicas como o calendário, o arado, a escrita em papiros, arquiteturas monumentais, a medicina, a agricultura, dentre tantos outros traços que podemos constatar. Alguns detalhes interessantes desses povos e que impressionam é que detinham conhecimentos muito avançados de matemática, física e química e quando observamos a magnitude das suas obras, nos rendemos a uma frase muito dita do Egito em nossos tempos, “o homem teme o tempo e o tempo teme as pirâmides“. Uma civilização tão impactante que deixou um monumental legado a história da raça humana.

Estes povos foram relatados em diversas passagens da Bíblia, livro sagrado dos cristãos. Eles se instalaram na região do extremo nordeste da África por volta do IV milênio A.C., em uma área de desertos e na imensa e fértil planície do rio Nilo, a primeira dinastia deu-se por volta de 3.100 A.C.. Por esta civilização da antiguidade passaram muitos Faraós, figuras consideradas como “semi-deuses” que governavam com o poder absoluto.

O Vinho no Antigo Egito

Egiptólogos, arqueólogos e pesquisadores de diversas áreas da ciência estudaram e estudam o comportamento e hábitos culturais desta civilização. A partir de achados arquitetônicos e inúmeros objetos encontrados nos mais diferentes locais por onde eles viveram e se expandiram, na atualidade podemos conhecer detalhes significativos das suas crenças, dos seus hábitos e da sua história. Uma excelente herança desses povos foi a sua forma de tratar o vinho, chamado por eles de “irep“, elevaram o seu status e deixaram preciosas informações registradas através de pinturas, de hieróglifos e inúmeros objetos, os apaixonados pela cultura vínica hoje podem obter informações preciosas com essas várias riquezas encontradas desta civilização.

Sabe-se que o vinho não foi inventado pelos egípicios, mas eles presaram muito por essa bebida, considerada sagrada. O vinho era oferecido aos deuses como tributo pelos Faraós, também utilizado como tratamentos médicos e em rituais pelos sacerdotes egípcios. O seu consumo apesar de ser um hábito em festivais e no dia a dia, não era permitido para as classes mais baixas da população num certo período da história, só os Faraós e os sacerdotes podiam consumi-lo. Os bárbaros bebiam a cerveja, pois nas margens do rio Nilo eram cultivados vastas quantidades de cereais como cevada e o trigo, o que possibilitava a produção da cerveja em maior escala. Mas depois de um certo período histórico o vinho passou a fazer parte da alimentação diária da população juntamente com a cerveja, esta já consumida em grandes quantidades. Os egípcios das classes mais altas passaram a consumir vinhos comprados dos grandes comerciantes da história, os fenícios, e pagavam em ouro as amphoras de vinho trazidas da Fenícia. Na época esses vinhos tinham melhor qualidade comparado ao que eles produziam e claro que esses vinhos especiais eram os mais valorizados.

Um fato muito interessante é que quando algum Faraó morria, todos os seus luxuosos pertences eram colocados em suas tumbas, há informações de estudiosos que dizem que esses objetos colocados nas tumbas não eram os que eles já estavam em uso, eram sim objetos “novos” colocados para serem utilizados quando acordassem do sono da morte. Eles acreditavam na segunda vida após a morte e por isso imaginavam que precisariam de todos os seus objetos úteis e de grande riqueza para a passagem para a outra vida. Tesouros de valor imensuráveis e que na atualidade sabe-se que provavelmente foram saqueados pelos próprios sacerdotes que eram as únicas pessoas a conhecerem o caminho. Até hoje foram descobertos 67 tumbas e só uma estava completamente intacta, o túmulo de Tut Ankh Amun.

O Túmulo do Faraó Tut Ankh Amun

O único túmulo íntegro e intacto que foi encontrado (1922) foi túmulo de Tut Ankh Amun, o 11º Faraó da XVIII Dinastia do Novo Império, que não teve uma grande expressão durante a sua época de governo. Ele era uma criança quando chegou ao poder e faleceu com 19 anos. Mas a sua contribuição foi de forma magnífica para a ciência e hoje podemos obter tantas informações sobre os hábitos da época.

Diversas ânforas de vinho foram encontradas em muitos lugares onde viveram esta civilização, um dos locais e objetos mais famosos e importantes foram as 36 ânforas encontradas no túmulo do Tut Ankh Amun, em que em algumas continham até informações do tipo do vinho, onde ele era produzido, o proprietário do vinhedo e quem o produziu, evidenciando que detalhes tão preciosos e utilizados até os nossos dias contemporâneos já eram considerados importantes para esta civilização.

A Atualidade da Cultura Vínica no Egito

Na atualidade a produção é quase insignificante, concentrada praticamente na iniciativa de pequenos produtores que tentam ressuscitar essa cultura e vislumbram através do turismo dar a conhecerem ao mundo um pouco da história dos seus antepassados.

A cultura vínica foi praticamente extinta no Egito há 1500 anos atrás quando o Islã passou a ditar as normas religiosas e culturais ao qual abominam o consumo de qualquer bebida alcoólica. Até a chegada do poder do Presidente Abdel Nasser na década de 70, a pequena industria do vinho era administrada por estrangeiros, entretanto com a postura de nacionalizar todos os setores produtivos, o setor entrou em decadência, tendo como último golpe fatal a restrição através do governo de limitar o consumo local de álcool e a venda nas lojas. E só após o ano 2000 começou um pequeno movimento para retornar a produção de vinhos, essa ação muito voltada a atender o setor do turismo e os cristãos que vivem no país.

Pasmem quando um turista adentra o Egito, ele tem 48 horas para efetuar alguma compra de uma bebida alcoólica em alguma loja de Duty-free, isso uma ou no máximo duas garrafas de vinho ou de outra bebida que contenha álcool, essa informação é anotada manualmente no passaporte sobre o visto de entrada, impossibilitando que o turista compre mais garrafas. O consumo está liberado em cafés, restaurantes e hotéis onde possam eventualmente comercializar essas bebidas.

Segundo dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho OIV(2021) o Egito está na 88º posição de consumidor de vinho do mundo com a marca de 0,1 L per capta, e na 58º posição de produtor, dados praticamente zerados em porcentagem a nível global, mas possui uma área de 91 633 ha dedicados a produção de uvas de mesa e a uvas passas, ficando assim na 21º posição mundial de produção de Vitis. A maioria dos vinhos egípcios são produzidos com uvas de vinhedos da região de Alexandria, um exemplo de produtor nesta área é o Gianaclis Vineyards e também se produz na região do Egito Médio na área do El Gouna, particularmente o produtor Koroum do Nilo.

Os Raros Vinhos Egípcios

Não é algo fácil encontrarmos vinhos do Egito a venda pelo mundo, e isso ocorre devido a pouquíssima produção e as inúmeras dificuldades que a pequena indústria enfrenta para retomar esse setor produtivo no país. As principais castas utilizadas para os vinhos tintos são a Cabernet Sauvignon, a Syrah, a Grenache, a Bobal e a Tempranillo, enquanto Sauvignon Blanc, Viognier, Chardonnay, Vermentino e Muscat são usados para vinhos brancos.

A Koroum do Nilo, uma vinícola baseada em El Gouna, cultiva uma variedade de uva indígena conhecida como Bannati que é usada em seu vinho branco Beausoleil.
Hoje, as marcas de vinho popular no país incluem Omar Khayyam, Ayyam, Shahrazade, e Beausoleil, que são servidas em muitos hotéis do Egito, resorts e cafés em alguns dos bairros mais superiores do país.

Um Pequeno Relato Pessoal da Visita ao Egito Atual

Visitar o Egito foi uma das experiências mais incríveis de viagem que já fiz, uma magnífica imersão nas pegadas de uma das civilizações mais importantes no curso da humanidade. Conectar esta civilização com a cultura vínica me fez ter muito mais certeza da importância de ter estado in loco neste cenário milenar.

Poder fazer uma viagem tão especial, tão rica em momentos incríveis, repleta de aprendizados e descontração só foi possível por estar ao lado de um grupo extraordinário de pessoas das mais diferentes idades e que a vida estava reservando de presente para mim conhecê-los, e que agora se tornaram a minha nova FAMÍLIA egípcia.

Percorrer tantas distâncias dentro do país de avião, de ônibus, de barco e tantos outros meios alternativos de transportes, partindo do Cairo e chegando quase na fronteira com o Sudão, entrando em tantas cidades, inúmeros monumentos e locais históricos, navegando sobre o Nilo, o maior rio do mundo, andando de balão e visualizando a beleza da paisagem e o nascer do sol, são lembranças que jamais sairão da minha memória.

Gostaria de fazer um agradecimento especial ao egiptólogo e guia Bassam el Stefie, um egípcio que tanto se dedicou nesses dias que estive em sua terra para que a experiência fosse a mais completa possível.

Espero que você leitor Bacolover tenha gostado desta partilha sobre esta civilização tão especial para a história do vinho, que possamos estar sempre conectados para a troca de conhecimentos multiculturais e podermos aprender com a história a não repetirmos os mesmos comportamentos cíclicos que dizimam a cultura de um povo. Desejo excelentes provas e novas descobertas vínica. Saudações báquicas!
Sahhaha !
Saúde! Cheers! Santé !

Contato do Guia Bassam el Stefie
e-mail : bswefi@yahoo.com
WhatsApp: +201005682780
@bassamelwefi

Fonte:

Mundo dos Vinhos por Dayane Casal