Em perigrinação rumo à Santiago de Compostela atravessei dentre tantas terras lindas espanholas, um lugar mágico, rico em paisagens majestosas, cheias de mistérios e com um vasto patrimônio histórico-cultural e vínico centenários. A região de Bierzo localiza-se a oeste da Província de León e a “Rota do Vinho de Bierzo” está cravada entre os limites da Galícia e da Austúria e o Caminho de Santiago de Compostela cruza esse terroir fantástico, passando por inúmeras cidades como a linda Ponferrada, Camponaraya, Cacabelos e Villafranca de Bierzo, onde pude vivenciar experiencias incríveis em visita com lupa a este terroir.
El Bierzo está ligado a cultura vínica desde a época do processo da implantação de romanização na península ibérica. Por onde o império romano passou em suas conquistas territoriais eles inseriam seus hábitos, a sua cultura religiosa, as suas arquiteturas, a sua gastronomia e claro que o cultivo da Vitis vinífera para produção de vinho foi algo completamente arraigado em cada nova conquista territorial e em El Bierzo eles encontraram um terroir extremamente favorável para vitivinicultura.
Senti uma enorme emoção ao adentrar a pé esta belíssima região vínica, pedi a um peregrino que também estava no caminho captar uma imagem minha em El Acebo ao lado de um banco que dizia “O Primeiro Banco de Bierzo Vista Panorâmica”. Sem dúvida eu estava adentrando uma terra muito especial e ainda pouco desbravada no circuito do mundo dos vinhos. A vista sobre a montanha já me dava pistas que nessas terras fenômenos geológicos muito antigos ditaram a importância do clima e solo para a produção da Vitis vinífera dos romanos até a atualidade.
Há autores que caracterizam El Bierzo como uma espécie de buraco tectônico por onde percorrem vários rios e é praticamente cercado por cadeias montanhosas que o protege e que em sua geografia o demarca. Percorrendo a região pude perceber a implantação da viticultura concentrada em minifúndios espalhados nas encostas das montanhas em altitudes de 450 a 1000 metros acima do nível do mar e nos vales geralmente próximo aos inúmeros rios que cruzam a região, um local cheio de contrastes e sobretudo tornando este terroir muito peculiar.
O clima para a produção da Vitis vinífera não apresenta grandes flutuações durante o ano e é influenciado pelo clima Atlântico vindo da região da Galícia e pelo clima Continental vindo da região da Astúria. No solo existem parcelas e fragmentos muito variados alguns com mais piçarras, outros mais franco-argilosos com pedras de quartzo e outros mais arenosos.
Quanto as castas produzidas na região demarcada a tinta Mencía reina com 75% da produção da região e torna o vinho produzido neste terroir vínico com características únicas. A origem desta casta já despertou muitas controvérsias pois acreditava-se que era originada de alguma mutação da Cabernet Franc, trazida por algum peregrino francês em tempos remotos. Através da análise de DNA na atualidade sabe-se que é a mesma casta autóctone portuguesa, a Jaen. Outras castas tintas também são produzidas com a Alicante Bouchet, Garnacha Tinta, Merenzao e a Estaladiña. Já nas brancas a Godello representa 5% da produção demarcada e apesar de ser pouco produtiva atualmente tem se aumentado a produção devido a características enológicas de dar mais corpo ao vinho. Também são produzidas Palomino, Doña Branca e Malvasía de brancas na região.
No meu caminho estava o “Centro de Interpretación de la Vid y el Vino de Camponaraya (CIVI)”, um lugar que engloba o passado, o presente e o futuro da viticultura de Bierzo. Também o “Consejo Regulador de la Denominación de Origen Vino del Bierzo (D.O.Bierzo)” ao qual fiquei sabendo através do mapa vitivinícola de Bierzo que há 73 Bodegas , 1094 Viticultores e uma área de 2450 ha plantados de Vitis. A Denominação de Origem Bierzo foi reconhecida em Novembro de 1989. Um belíssimo Lagar de Vinho utilizado no século XVIII e IXX estava em exposição na rua na saída de Cacabelos. E o Palácio de Canedo ao qual fiz visita em loco em todas as suas parcelas distribuídas em 30 ha em encostas de colinas tendo a oportunidade de obter umas imagens magníficas desta região linda.
No percurso do meu caminho de peregrinação pude obter um verdadeiro Master Class com um tradicional viticultor da região demarcada de Bierzo (Juan Jesús Castellano González) que também é Engenheiro Agrônomo e especialista em viticultura, que gentilmente me forneceu inúmeros e interessantes detalhes desta região enriquecendo ainda mais meus conhecimentos em terroirs espanhóis.
Por fim os vinhos produzidos nesta região podem ser brancos, rosés e tintos. Nos brancos a Godello predomina podendo está em varietal ou dominar os blends brancos, já nos rosés e nos tintos a Mencía está sempre presente imperando as suas características de aromas de cereja, framboesa, morango, possui corpo médio e tem textura leve em boca. Os vinhos são muito agradáveis sem dúvida, produzidos nestas terras ao noroeste da Espanha ao qual tive o enorme prazer em desbravar em meu caminho de peregrinação à Santiago de Compostela espero poder continuar degustando-os e aumentando meu leque de prova ainda mais deste terroir incrível.
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