O mercado brasileiro de gastronomia não tem outro assunto nos últimos dias: só se fala no caso da Operação Bordeaux, da Receita Federal, que, na última quarta, 7, bateu às portas do TUJU, um dos melhores restaurantes de São Paulo (duas estrelas no Guia Michelin), apreendendo um lote valioso de vinhos franceses às vésperas de dois jantares exclusivos com ingressos unitários vendidos a quase 15 000 reais, mais 15% de taxa de serviço. Os rótulos em questão seriam as estrelas dos eventos batizados de “O melhor dos Estados Unidos”. A ideia era justamente destacar aos clientes a oferta de grandes vinhos, todos eles com avaliações acima da média assinadas pelo célebre crítico Robert Parker. As bebidas harmonizariam com um jantar de dez tempos a cargo do conceituado chef Ivan Ralston.
Os vinhos escolhidos para esses eventos faziam parte de um lote de 352 garrafas recolhidas pela fiscalização no restaurante. Segundo a Receita, o estabelecimento integra um grupo que, entre outros negócios, tem uma importadora, a Clarets, e uma distribuidora de bebidas (em nota enviada à coluna, o TUJU negou fazer parte dessa holding, embora o restaurante tenha como um dos sócios Guilherme Lemes, responsável pela Clarets). A estimativa é de que o valor da mercadoria recolhida no ato, ou seja, as tais 352 garrafas, é de aproximadamente 1 milhão de reais. Após a batida da fiscalização, esses vinhos foram enviados a um depósito no bairro do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo. Ao final do processo, podem ser destruídos ou leiloados.
A Receita Federal iniciou a investigação a partir de uma denúncia feita por uma associação do setor. “Há quinze anos todo o mercado sabe o que acontecia na Clarets”, contou um empresário dessa área, sob a condição de anonimato. “Era claro para todos que a operação não era regular, com valores declarados de vinhos importados chegando em alguns casos a um quarto abaixo do valor real”, completou essa mesma fonte.
LOTE DE 6 MILHOES DE REAIS
Para a Receita Federal, também não há dúvidas sobre irregularidades. Segundo os responsáveis pela Operação Bordeaux, o lote de 352 vinhos apreeendidos no TUJU foram importados de forma irregular. “Entre outros fatores, não constavam nas garrafas a rotulação obrigatória do Ministério da Agricultura para esse tipo de produto”, explicou à coluna AL VINO o auditor-fiscal Alan Towersey, chefe da Divisão de Vigilância e Repressão ao Contrabando e Descaminho (Direp) da Receita Federal em São Paulo.
Há uma considerável possibilidade de que o problema seja ainda maior. Ao final da ação realizada na última quarta, a fiscalização colocou sob suspeita um total de aproximadamente 4 000 vinhos do mesmo grupo. A mercadoria é avaliada em 6 milhões de reais. Durante a operação, os fiscais se surpreenderam ao encontrar quatro malas de viagem num dos endereços do grupo, todos elas com etiquetas do aeroporto Charles de Gaulle, de Paris, na França.
Vale a pena recapitular o saldo da Operação Bordeaux: ela teve como alvo um total de 4 000 vinhos, sendo que os fiscais tiveram certeza no ato de que 352 deles eram frutos de contrabando. O restante dos rótulos, ou seja, a grande parte do lote, segundo a Receita, contém indícios também de importação irregular.
Procurada pela coluna para comentar a operação da Receita, a assessoria de imprensa do TUJU respondeu por meio de uma nota, dizendo que o estabelecimento tem todas as notas fiscais referentes ao pagamento dos 352 vinhos, segundo o restaurante, “adquiridos no Brasil do acervo pessoal de um dos sócios do restaurante, que também figura no quadro societário de uma importadora de vinhos”. Ainda de acordo com a mesma nota, “parte das garrafas era destinada a uma degustação privada da referida importadora (nota da redação: a Clarets), sendo que o TUJU havia sido apenas contratado para operacionalizar tal jantar, que foi cancelado em virtude do ocorrido”.
Segundo a assessoria de imprensa da Clarets, foram fiscalizadas na sede da empresa “todas as garrafas do estoque e do showroom, e nenhuma irregularidade foi constatada”. Falta ainda combinar isso com a Receita Federal. De acordo com o órgão, a Clarets tem um prazo de cinco dias para apresentar a documentação atestando que os milhares de rótulos colocados sob suspeita na Operação Bordeaux não são fruto de contrabando. A Clarets promete responder no prazo. Os responsáveis podem ser processados pelo crime de descaminho e outros correlatos.
A seguir, a íntegra da nota enviada pela Clarets à coluna AL VINO:
“A Clarets esclarece que recebeu os fiscais da Receita Federal em 7 de agosto de 2024 nas dependências da sede da empresa e no restaurante Tuju, do qual o fundador da empresa, Guilherme Lemes, é um dos sócios. Na sede da Clarets, foram fiscalizadas todas as garrafas do estoque e do show room, e nenhuma irregularidade foi constatada. No Tuju, foram fiscalizadas aproximadamente 5.700 garrafas, e não foram encontradas irregularidades na adega. Foram apreendidas 352 garrafas, e não 4 mil, como erroneamente publicado por alguns veículos. Todas as garrafas apreendidas pertenciam ao acervo pessoal de Guilherme Lemes e foram vendidas ao Tuju, com as devidas notas fiscais. Em posterior fiscalização na sala do CEO Guilherme Lemes, também foram retidas 90 garrafas de sua adega pessoal, que não tinham propósito comercial, como presentes de produtores e amostras para provas, garimpadas ao longo dos seus 12 anos no setor. Estas garrafas foram apreendidas pela fiscalização para apresentação de maiores informações”.
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