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Depois da esbórnia vem a ressaca, e não dá para fugir desta lei

Depois da esbórnia vem a ressaca; e não dá para fugir desta lei, é imutável, não cabem discussões ou negociações, no máximo a prévia moderação. Noé (sim o da arca), dizem, experimentou o primeiro porre da civilização: “Um dia Noé bebeu muito vinho, ficou bêbado e se deitou nu dentro da sua barraca. Cam, o pai de Canaã, viu que o seu pai estava nu e saiu para contar aos seus dois irmãos. Então Sem e Jafé pegaram uma capa, puseram sobre os seus próprios ombros, foram andando de costas e com a capa cobriram o seu pai, que estava nu. E, a fim de não verem o pai nu, eles fizeram isso olhando para o lado.” (Gênesis 9:21-23). Bem, se nem Noé, que tinha um “acordo” com o Criador, não soube lidar com o porre, o que dirá nós, pobres mortais pecadores? A verdade é que a Lei da “causa-consequência” tem sua maior comprovação nos excessos do corpo, especialmente alimentares.

Se vinho é alimento, também é inebriante, quando em excesso, e danoso, quando desmedido muito além do excesso. O Dr. Antonio Carlos do Nascimento diz que “cada pessoa tem sua própria interpretação para consumo moderado. Para alguns, meia garrafa por refeição, para outros 100ml. Contudo, ainda que sujeito a algum erro, pode-se dizer que um homem pode beber perto de 300ml por dia, e a mulher, metade deste valor, que corresponde a 150ml.” (p. 44, Vinho Saúde e Longevidade, SP, 2004, 1ªed.). Para aqueles que bebem vinho sempre, estes limites quase nunca são respeitados, ainda que seja recomendável, e aí ao excesso é um pulo.

O vinho moderno tem uma variação de teor alcoólico, de região e produtor, considerável. Um Amarone, vinho de mesa italiano, pode apresentar 17% de AbV (álcool por volume) e um vinho tinto alemão pode ter, apenas, 9% de AbV; claro que a regra de consumo, assim, deve ser relativizada. Mas nosso foco é o “pós-beber”, aquele momento que Noé experimentou de modo tão profundo, provavelmente após consumir doses industriais do vinho, então produzido nas encostas do Monte Ararat. Devemos esclarecer que o termo “ressaca”, para descrever o mal-estar após o consumo de álcool, tem origem no espanhol “resaca“, que significa “rebentação das ondas”.

Essa analogia é usada para descrever a sensação de agitação e mal-estar que pode ocorrer após uma noite de consumo excessivo de álcool. E o consumo excessivo de vinho, por ser um fermentado de peso, potencializa a ressaca, fazendo seus sintomas se acirrarem de sobremaneira. A sensação de mal estar é bem prolongada, e vem junto com a mesma que se tem após o consumo exagerado de, digamos, uma feijoada com uma garrafa de cachaça. Exala-se álcool, o estomago parece preenchido com tijolos e a cabeça roda e dói como se tivessem batendo com uma bigorna nela, dentro de uma canoa em correnteza. A coisa é feia mesmo. E não há “remédio pronto”, o que se combate são os sintomas (analgésico para a dor de cabeça, antiácidos para os males do estomago, probióticos para os intestinos, etc).

O vinho, de verdade, tem alguns agravantes da ressaca; segundo o Prof. Dr. Edmundo Lopes, coordenador da disciplina de gastroenterologia da Faculdade de Medicina do Recife da UFPE), “a sensação da ressaca ser pior relaciona-se diretamente à uva, que irrita a mucosa digestiva, provoca fermentação, náuseas, dor no estômago e vômitos. Ele comenta que existem pessoas com hipersensibilidade a alguns componentes do vinho, como o tanino, polifenóis e outras substâncias que geram desconforto em casos específicos, mas a ressaca não é necessariamente pior. Algumas bebidas utilizam em sua composição produtos químicos, frutas e raízes, por exemplo, que agravam a ressaca pela junção desses componentes. “Quem já tem disfunções digestivas, como refluxo gastroesofágico ou gastrite, vai sofrer muito mais, sobretudo com as fermentadas”. (https://www.uol.com.br/vivabem

A verdade é que o autoconhecimento e a moderação devem andar juntos. Alguns cuidados podem ser tomados, como só beber em refeições ou com o estomago cheio, consumir água em igual litragem que o vinho e, sempre, se hidratar muito durante a ressaca. Entretanto, por mais sombrio que possa parecer o quadro, cabe a lição de Plutarco (46-120 d.C.): “O vinho é das bebidas a mais recomendável, dos medicamentos o mais saboroso e dos alimentos o mais agradável.” Salut!!!

Fonte:

vinho – Jovem Pan