As uvas viníferas autóctones, ou seja, aquelas nativas de uma específica região produtora, são as que conseguem transmitir ao vinho os traços mais marcantes do terroir da origem. As castas brancas, ao meu ver, são as que têm o potencial maior para carrear as características do solo, em sobreposição ao clima. Trazer as uvas brancas nativas para solos estrangeiros têm sido uma experiência comum aos vinhateiros do Novo Mundo, entretanto tanto estes quanto os consumidores, devem estar cientes que os vinhos produzidos, a partir das castas exógenas, não são, e nem nunca serão, àqueles vinhos obtidos nos solos nativos das tais uvas. Não adianta “corrigir” a terra ou elevar o período de maturação na parreira que o vinho obtido será diferente do da origem, especialmente quanto aos vinhos brancos.
Há castas brancas que se destacam pela, quase, absoluta impossibilidade de se obter quaisquer traços de suas origens; e vou citar algumas que, ainda por cima, não são tão comuns nas mesas dos consumidores, mas que são merecedoras de especial atenção e busca.
A Verdicchio tem origem na região do Marche (Itália Central), sendo conhecida desde o século XIV e trata-se de casta de difícil manejo, dando origem a vinhos de alta acidez, com nuanças cítricas bem acentuadas, são excelentes companheiras para frutos do mar e, por aqui, um rótulo que entramos é o Umani Ronchi Verdicchio dei Castelli di Jesi Villa Bianchi, de paladar leve, saboroso, com agradável estrutura ácida e final amendoado.
A Viura, conhecida também como Macabeo, é uma variedade de uva branca amplamente utilizada na Espanha, tendo sua origem na Rioja. Trata-se de uma casta que, se colhida cedo, dá origem a vinhos frescos e fáceis de beber e, se colhidas mais maduras, entregam vinhos brancos com boa estrutura, com aromas de mel e noz-moscada. Um varietal desta casta disponível por aqui é o Valdemoreda Blanco Viura, que é perfeito para acompanhar peixes, mariscos, ostras, queijos frescos, pratos leves.
A uva Arinto é originária de Bucelas, dentro do Conselho de Lourdes, próximo a Lisboa, e seus vinhos contam com alta acidez, excelente estrutura e um caráter mineral marcante. No nariz, revelam aromas frutados, como de maçã verde e pêssego, além de notas cítricas, como de limão e maracujá. Os vinhos desta casta, da sua região nativa, são detentores de fama, que remonta desde o antigo Império Romano. Sugiro que provem o Bucellas Arinto DOC Enoport, que acompanha bem queijos frescos e embutidos portugueses, inclusive alheiras fritas ou assadas.
A Encruzado é outra casta portuguesa de alto prestígio e que tem sua terra natal nas colinas do Dão. Seus vinhos, especialmente do Dão, são encorpados, ricos e com aromas frutados, muitas vezes, que pendem para o floral, sendo muito apreciados e que envelhecem muito bem, por anos. O Dão, Quinta da Ponte Pedrinha Branco, é um excelente exemplar da Encruzado, guardando toda a tipicidade que um vinho pode ter e é um branco que acompanha bem um bacalhau leve, por exemplo feito com grão de bico e servido frio.
Obeidy é uma uva branca originária e cultivada no Líbano. Historicamente, Obeidy nunca foi considerada adequada para a produção de vinho, sendo preferida como uva de mesa e para a produção de Arak, aguardente vínica libanesa. Ela apresenta boa acidez, é fresca e leve na boca, com aromas de frutas e flores exóticas, o que garante a complexidade de sabores dos vinhos produzidos. Com base nessas características e variedade, os vinhos são ótimos para harmonizar com peixes gordos, frutos do mar refogado na manteiga ou azeite, risotos, queijos gordos e pratos típicos da culinária árabe, especialmente os frios, como as pastas tradicionais, a exemplo do hommus (pasta de grão de bico) e do babaganuche (pasta de berinjela), vai bm com os enchidos, abobrinha ou tomates recheados. Um excelente rótulo encontrado por aqui, e que guarda todo terroir libanês, é o Ishtar Obeidy, da Ishtar Winery, que, vindo da região de Koura – Darbechtar, é seco, encorpado, com acidez equilibrada e teor alcoólico educado.
A uva Aligoté é uma variedade de uva branca vinífera da Borgonha (França), usada para produzir o vinho Bourgogne Aligoté. Produz vinhos secos, de média leveza e com bom potencial de envelhecimento (em que pesem opiniões contrárias). Seus vinhos são de cor de palha com tons cítricos. Possuem aromas de maçã, pêra e um toque de manga. Minha sugestão, para esta casta é o La Chablisienne Bourgogne Aligoté, que é bem estruturado e, ao mesmo tempo, delicado, cheio de fruta e mineralidade, com grande potencial gastronômico.
Este panorama de vinhos brancos, ditos diferentes, deve levar o consumidor a viagens por sabores bem interessantes, recomendo as descobertas. Salut!
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