É chegada a hora tão esperada pelos produtores de uvas destinadas a produção vínica, a hora de vindimar suas frutas após um ano de imensos trabalhos percorrendo todo o ciclo da videira até a sua finalização. A escolha do dia de vindimar não depende de um fator só, mas de diversos parâmetros de avaliação nos bagos, condições meteorológicas, organização da logistica nas vinhas e nas adegas e no manejo de tudo que envolve esse momento.
O bago de uva tem em sua composição mais macro 3 partes e que apresentam propriedades bem distintas: a polpa, a semente ou grainha e a película ou pele.
A polpa é a maior parte do bago e nela estão a água, os açúcares, os azotos e a maioria dos ácidos. As sementes podem variar em quantidades, tamanhos e em morfologia conforme o tipo da casta, são ricas em taninos e em óleos. Na película concentram-se a “pruína”, e nela as leveduras tão essenciais para o processo de fermentação alcoólica, compostos corantes como as antocianas e compostos aromáticos também estão presentes na pele.
O produtor, o enólogo ou o winemaker avaliam o bago de forma sensorial na vinha e também coletam amostras para avaliação laboratorial, onde se verifica diversos parâmetros como níveis de açúcar, níveis de ácidos sobretudo o ácido málico e o ácido tartárico, compostos fenólicos e aromáticos para decidir a partir desses dados se a vinha já pode ser vindimada com relação ao vinho a que se pretende produzir, pois para nível de exemplo, para se produzir vinhos espumosos se deseja que o bago apresente mais ácidos, para produzir vinhos colheita tardia se deseja uma sobrematuração das uvas com níveis de açúcar maiores para se ter maior açúcar residual no vinho e para os vinhos tranquilos requerem equilíbrio de todos os parâmetros. Abaixo uma imagem com a representação esquemáticas de como se comportam os bagos desde a floração até a fase da vindima que dura em média 120 dias.
Iniciar a vindima e coletar cacho bem formados e sadios é uma grande satisfação e de uma certa forma recompensador à alma do produtor que trabalhou o ano inteiro para isso, podendo colher uma excelente matéria-prima para produzir vinhos com qualidade.
Como forma de uma atenção e alerta a algo que tenho visto com bastante preocupação é que muitos pequenos produtores de uva muitas vezes nem sabem bem o preço que irão conseguir receber com seus frutos entregues as cooperativas ou a outros grandes produtores, pois a cada ano os custos com todos os insumos vêm se elevando e não se elevam os preços proporcionalmente pelo que lhes pagam, causando na atualidade um desmotivação neste setor e consequentemente abandonos das vinhas e atividades.
Como todo setor produtivo e econômico há inúmeros desafios a serem transpassados e tenho certeza que o setor vitivinícola também está em constante transformação mediante a tantos cenários diferentes que vem acontecendo a nível global. Que a cada nova safra a esperança de dias melhores possa habitar no coração dos que lavoram a terra e tiram dela frutos maravilhosos.
Finalizo este artigo com o poema ” Vindima” da poetisa Clarinda Henriques. Desejo excelentes vindimas a todos os produtores e fantásticas provas aos amantes dos vinhos.
POEMA " VINDIMAS" Andamos a fazer a vindima Foi todo o dia a apanhar Veio-me à cabeça um poema Para as uvas homenagear Viva a uva tão amarela O sol lhe deu a aquela cor Tão doce, pura e tão bela Glorifica a paz e o amor E a uva preta e morangueira É da que mais eu vindimo Tem um sabor bem á maneira Ninguém tomba com o seu vinho Fernão Pires é da natureza Também tenho no meu quintal É só para comermos à mesa Que aroma tão bom, é divinal Termino o que aqui versejei Com uma grande tristeza A abelha asiática comeu Toda a uva de ir à mesa