No mundo do vinho, os rótulos chamados ícones são aqueles que reúnem tanto as melhores características de uma vinícola e de um terroir quanto os conhecimentos do enólogo. Geralmente, têm também uma reputação construída ao longo da história e de sucessivas safras especiais, bem pontuadas pelos críticos. No caso do Balasto, vinho que ocupa o topo do portfólio da Garzón, no Uruguai, seu reconhecimento veio cedo. A primeira safra chegou ao mercado em 2015, e desde então o rótulo colocou de vez o pequeno país no mapa dos grandes vinhos. Agora, a safra 2020 está prestes a desembarcar no Brasil, após um ano em que o vinho não foi lançado porque as uvas não foram consideradas boas o suficiente.
Oficialmente, o lançamento será feito no dia 12 de setembro na Place de Bordeaux, o sistema indireto de vendas que surgiu para atender algumas das grandes vinícolas da região francesa, mas hoje conta com vinhos de alta gama de diversos países. O Balasto é o único uruguaio vendido nesse sistema. Por aqui, ele chega no dia seguinte, 13 de setembro, importado pela World Wine, por R$ 1.140.
O sucesso do Balasto é resultado de uma conjunção de fatores. A escolha do local onde está o vinhedo é um deles. Balasto é o nome da rocha granítica que compõe o solo. Ela se esfarela com facilidade, o que permite que as raízes das videiras se desenvolvam e confere mineralidade ao vinho. O trabalho do enólogo italiano Alberto Antonini, consultor da Garzón, é outro. Antonini tem projetos na Argentina e na Itália e vem ajudando as equipes locais a explorar o máximo potencial de cada vinhedo. E a estratégia do CEO Christian Wylie, de levar os rótulos para diferentes mercados, consolidando a presença no Uruguai, país de grande consumo per capita, mas também exportando para Estados Unidos, Brasil e outros 57 países, tem se mostrado acertada.
O blend é elaborado tradicionalmente a partir de quatro castas: Tannat, Cabernet Franc, Petit Verdot e Marselan. Dessa vez, no entanto, a Marselan ficou de fora. “Achamos que ela estava com um sabor tão potente que poderia desestruturar o blend”, afirma Wylie. O resultado final leva 42% de Tannat, uva que se tornou símbolo do Uruguai, além de 39% de Cabernet Franc e 19% de Petit Verdot. A fermentação é feita em tulipas de cimento, e o vinho é maturado durante 20 meses em tonéis de carvalho francês provenientes da região norte do país, e que não passam por nenhuma tosta. “Não queremos aquele sabor de caramelo ou baunilha tão associados à madeira”, diz o CEO da vinícola. O resultado é um vinho potente, com grande potencial de guarda.
Embora seja o vinho mais prestigioso da vinícola, a Garzón tem um portfólio grande, com vinhos de diferentes faixas de preço. Há, por exemplo, o Tannat de corte, vendido por R$ 188, que leva a uva ícone do Uruguai, além de outras variedades em pequenas proporções. Há opções intermediárias, como o Albarinho Single Vineyard (R$ 318), feito com uvas provenientes de um único vinhedo. Ou a linha premium Petit Clos, feito apenas com uvas das melhores parcelas (das mais de 1.500) dos vinhedos. Um destaque é o Pinot Noir, vendido a R$ 538, inspirado nos tintos da Borgonha. A arte dos rótulos ajuda a mostrar a diferença de proveniência. Nos vinhos de entrada, o desenho representa uma visão aérea do vinhedo. Já o Petit Clos mostra a parcela específica. E o Balasto conta com uma representação do solo granítico que dá nome ao vinho.
Além dos vinhos, a vinícola, projeto pessoal do empresário argentino Alejandro Bulgueroni, se tornou um importante destino enoturístico, principalmente para os brasileiros. Hoje, o complexo recebe cerca de 40 mil visitantes anuais, e mais da metade são do Brasil. Os dados são reflexo de uma mudança de perfil ocorrida durante a pandemia. Antes, a distribuição era igual entre brasileiros, americanos e argentinos. Além de visitas guiadas e degustações, a vinícola tem um campo de golfe e, em breve, terá diferentes hospedagens, incluindo bangalôs à beira da praia – afinal, os vinhedos estão localizados a apenas 18 quilômetros do Atlântico.
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