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A mais nova e surpreendente fronteira para a produção de vinhos nacionais

A região do cerrado ficou conhecida pela intervenção tecnológica que transformou o que era um solo pobre numa área fértil para o crescimento do agronegócio. Agora, está em curso uma nova e mais surpreendente revolução. Alguns investidores estão apostando na área para ela virar uma nova fronteira de expansão da produção de vinhos nacionais de alta qualidade. Sim, isso mesmo, no mesmo lugar no qual ocorreu a explosão da soja, temos agora bons rótulos com o terroir de propriedades fincadas em Goiás e Brasília.

Pode-se dizer que a exploração das boas condições naturais para a produção de vinhos no cerrado ocorreu com um certo atraso. A região tem estações do ano bem definidas, boa altitude e invernos secos. Para o gaúcho Marcos Vian, um dos mais importantes enólogos do Brasil, à frente de projetos como Luiz Porto em Minas Gerais entre dezenas de outros, o clima de Brasília e arredores parece ser um dos mais favoráveis em todo país para plantio de uvas vitiniferas, próprias para produção de vinhos finos (nomenclatura técnica que se dá a vinhos que não sejam de mesa, ou suaves).

Brasília
Um brinde com terroir de BrasíliaReprodução/VEJA

Ele acredita que, graças à tecnologia, a curto prazo, até 10 anos, pode-se esperar que a região ofereça vinhos com perfis bem parecidos aos do sul da Itália, da África do Sul e da Austrália. A técnica usada nas vinícolas de Goiás e Brasília é a dupla poda, que possibilita que a vindima seja feita com a fruta no auge da maturação e durante o inverno, quando quase não se chove na região. É a mesma que possibilitou São Paulo e Minas Gerais se destacarem com projetos bem sucedidos, trazendo reconhecimento internacional das vinícolas como a Guaspari e Estrada Real.

À frente dos Vinhedos do Cerrado está o professor da Universidade Estadual do Goiás e viticultor, Roberto José de Freitas. Entre suas vinhas estão cepas de Syrah, Sauvignon Blanc, Cabernet Franc e Barbera — esta última, segundo ele, adaptou-se perfeitamente à região e produz um vinho equilibrado e com boa acidez. Atualmente, sua colheita produz cerca de 4 mil garrafas, mas o objetivo é chegar a 15 mil. “Queremos ter esse caráter boutique, nosso objetivo é trazer o clima da Toscana para o cerrado”, disse. Atualmente, o professor reúne um grupo de 15 produtores de uvas, que com apoio do Mistério da Ciência e Tecnologia e do enólogo Marcos Vian, fazem microvinificações de até 20 litros para testar qualidade das uvas, estilos e formar mão de obra. No momento em que a coluna o entrevistou, o professor estava no campo, acompanhando a colheita da Sauvignon Blanc.

Parece que o único obstáculo que esses vinhos encontram atualmente é o alto teor alcoólico, devido à plena maturação das uvas. “Estamos trabalhando nesse afinamento, colhe-se uvas com potencia alcoólico de 18% sem esforço, mas as leveduras não fermentam tudo isso e vai sobrar açúcar”, explica Vian. Ele conta que não é uma característica da região. Na Luiz Porto, em MG, chegou-se a fazer Sauvignon Blanc com até 15% de teor alcoólico, que deixa o vinho pesado. Hoje, ele não passa de 12,5% e tem reconhecimento internacional. “Estamos no começo, mas é um caminho muito promissor.” Outros projetos da região que prometem se destacar são os da vinícola Brasília, nos arredores da cidade, com capacidade para produção de 90 mil garrafas ano, a vinícola Assumção, na mística Pirinópolis, e a Sanabria, um inusitado projeto de uma vinícola urbana, dentro do DF, que produz vinhos naturais de baixa intervenção, que são uma tendência mundial.

Outro nome importante nesse surgimento é o do técnico viticultor Ricardo Pereira, que buscou auxilio de enólogos renomados para dar suporte aos seus clientes, que hoje já somam cerca de 50 vinhedos na região. Certamente, em breve teremos mais uma Denominações de Origem a caminho do registro dentro desse novo universo do vinho nacional.

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Fonte:

Vinho – VEJA