A disputa por ingressos era digna dos mais concorridos festivais de música e a espera para acessar o local lembrava o tumulto da entrada de uma Bienal. Nesse caso, o interesse era gerado por um festival de vinhos. Tratava-se do Encontro Mistral, criado pela importadora que dá nome ao evento. Sua 11ª edição ocorreu nos dias 4, 5 e 6 de agosto em São Paulo, no hotel Grand Hyatt, e no dia 7 de agosto no Rio de Janeiro, no Belmond Copacabana Palace.
Em apenas duas horas, os ingressos que custavam R$ 595 desapareceram e o público de cerca de 800 pessoas por dia fazia fila antes mesmo de as portas se abrirem. Pela primeira vez no disputado evento, consegui compreender o motivo de tanta espera e ansiedade do público. Não se trata de mais uma feira de vinhos. Havia muitos diferenciais que justificavam plenamente tamanho interesse. Ali estavam vinícolas que fizeram a história de algumas regiões. O Encontro reuniu 78 produtores, de 13 países. Eram cerca de 500 rótulos de vinhos, em alguns casos servidos pelos proprietários e enólogos. E mais: a temperatura do salão estava adequada, boa parte dos vinhos nas temperaturas corretas e as taças eram de ótima qualidade (as austríacas Riedel).
O evento, que teve a primeira edição em 2003, foi inspirado na New York Wine Experience, que tem como projeto aproximar o público do produtor. O modelo consiste em apenas uma mesa, com as garrafas e espaço para conversar e degustar. Claro, para algumas mesas era preciso um bocado de paciência, como a da aclamada Vega Sicilia, vinícola prestigiada da Espanha e uma das mais importantes do mundo. Por alguns mls de Valbuena 5° Año 2018, um tinto colecionador de prêmios e altas pontuações da crítica especializada que custa cerca de R$ 4.000, havia de se ter calma.
Outra mesa bastante disputada era a de Yann Schÿler, proprietário do Château Kirwan, um dos châteaux mais históricos entre os Grands Crus Classés de Bordeaux, que trouxe cinco safras, conhecida como vertical de Margaux. Os enófilos foram ao delírio! Ainda sobre a França, mas desta vez da região da solar Provence, estava o Château Miraval, que tem com sócio o ator Brad Pitt, com um champanhe rosé, Petit Fleur. Eles também estavam lançando um gin, The Gardener, elaborado com ingredientes franceses orgânicos. O comentário é que a garrafa tinha a cor dos olhos do ator, um azul piscina.
IRREVERÊNCIA PORTUGUESA
Brad Pitt à parte, o espumante que mais chamou atenção desta colunista foi o Julia, do português Luis Pato, da Bairrada. Feito com uma única fermentação espontânea, ou seja sem adição de leveduras, da uva Sercialinho, que é extremamente ácida, ele interrompe a fermentação para sobrar um pouco de açúcar para equilibrar o paladar. Sem sulfitos nem aditivos químicos, é uma experiência única de aromas e frescor. Quem me serviu foi o próprio senhor Pato, que tinha uma fila de fãs à espera para que ele fizesse a clássica careta com a língua de fora para a foto (ele ficou famoso por essas e outras irreverências postadas em suas redes sociais).
Entre um Chablis, cultuado branco da Borgonha, e um Tondonia, terceira vinícola mais antiga de Rioja, na Espanha, era possível degustar o projeto de Adriana Zapata e Alejandro Vigil, servido por ele mesmo, com sua tradicional simpatia e ótimo humor. A Itália, ponto fortíssimo do portfólio da importadora, estava lindamente representada pela família Biondi Santi criadora do Brunello di Montalcino que apresentava os supertoscano Castello di Mantepò. Da região da Lombardia, Ca’ Del Bosco, com um precioso Franciacorta (a champanhe italiana) e um tinto leve e fresco que foi um bálsamo entre vinhos tão potentes e elegantes.
Representando o Trentino, estava a San Leonardo, que levou o prêmio de produtor do ano do Guia Gambero Rosso, importante publicação italiana. Entre as que me chamaram atenção, havia ainda a San Marzano, responsável por colocar a Puglia no mapa dos grandes vinhos. Um dos estreantes do evento era a brasileira Albuquerque & Davo (MG/SP), que tem como sócio Murilo Albuquerque Regina. Trata-se do engenheiro agrônomo responsável pela revolução da dupla poda, a técnica que possibilitou a produção dos “vinhos de inverno” no país.
Estive presente no primeiro dia, entrei logo na primeira hora, e pude notar que, além do público, os enólogos e representantes das vinícolas frequentam as mesas de seus colegas, curiosos para conhecer e estudar os vinhos tão especiais e de diferentes partes do mundo. Otávio Lilla, fundador da Mistral, contou-me que já houve até episódios de contratações de disputados profissionais durante o encontro.
No evento, era possível comprar a maioria dos vinhos, apenas alguns deles estavam ali apenas dar ainda mais luz ao evento, porque chegam apenas poucas garrafas ao Brasil e logo são vendidos. A Mistral não divulga os números da comercialização durante o festival. Sem dúvida, foi uma experiência enriquecedora para quem quer conhecer e aprender mais sobre grandes vinhos. A expectativa para 2027, pós-tarifaço, já começou. A única coisa que foi anunciada é que a quantidade de ingressos à venda não deve passar de 200, o que certamente tornará a festa de grandes vinhos ainda mais disputada e desejada.
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