Desde a era do Broze, a região da Galiza localizada no noroeste espanhol possui um histórico da presença humana, posteriormente dos Fenícios, dos Celtas e dos Romanos. Nestas belíssimas terras está inserida a D.O. Rías Baixas regulamentada em 1988. Possui influência do clima marítimo, marcado pela frescura, alto índice pluviométrico, solos graníticos, arenosos, pouco profundos e de características ligeiramente ácidos. Há vários rios que cortam essas terras e que deram origem ao seu nome “Rías Baixas”. São cerca de 200 adegas produtoras de vinhos e 5500 produtores de Vitis vinífera em toda a região.

Em Rías Baixas as inúmeras micro parcelas de Vitis vinífera podem ser bem diferentes uma das outras, e isto é devido fortes alterações das características de exposição, altitudes, solos e mais ou menos proximidades aos cursos d’águas dos rios e/ou do oceano Atlântico. Por essas terras galegas predomina o sistema de condução “Parra Gallega” conhecida em outros lados como Pérgola, mas também os sistemas em espaldeira e de latada podem ser encontrados em menor proporção. Na região 99% dos vinhos produzidos são brancos e cerca de 90% de encepamento é de Albariño, mas outras 13 cepas entre brancas e tintas são produzidas em menor escala. Alguns exemplos de outras castas são a Loureira Blanca, a Treixadura, a Caiño Blanco, a Ratiño, a Torrontés e a Godello.
Rías Baixas
é uma Denominação de Origem não-contínua, possui cinco sub-regiões vitivinícolas demarcadas separadamente, localizadas nas proximidades do litoral Atlântico. São elas : Ribeira do Ulla, Val do Salnés, Soutomaior, Condado do Tea e O Rosal.
Crédito de Imagem do Mapa ilustrativo da região Rías Baixas e suas sub-regiões: Livro Atlas Mundial do Vinho 7ª Edição.

Cepa Albariño
A Albariño cultivada em D.O. Rías Baixas é uma cepa indígena que está inserida num ecossistema completamente favorável a sua produção e a vinificação de vinhos com características únicas com excelente capacidade de evolução. São marcados de forma muito particular pelo próprio terroir, compreendendo o clima, paisagem, solos, a influência do Atlântico e a cultura do povo galego. Neste terroir a Albariño alcança sua melhor expressão e desenvolve todas as características sutis que fazem a Albariño de Rías Baixas produzir um vinho único, marcado sobretudo pela frescura.

Esta casta é famosa por sua versatilidade, boa resistência as doenças, apresenta abrolhamento precoce e a sua maturação é tardia, os bagos são pequenos e possuem uma riqueza de açúcares. Em alguns anos excepcionais podem produzir vinhos com graduação alcoólica de 13% vol.. Em Portugal ela é chamada de Alvarinho e seus mais afamados vinhos são da região D.O. Vinho Verde em Monção e Melgaço, mas na atualidade muitos outros países já a produzem e diversos vinhos com boa qualidade estão sendo comercializados pelo mundo.
Características do Vinho e Harmonização
Os vinhos elaborados em Rías Baixas são leves, frescos, com boa acidez e com caráter mineral. Os aromas e sabores podem transitar desde frutas cítricas como limão e toranja a damascos frescos, pêssegos, melão e notas florais como a Madressilva. A grande parcela dos vinhos produzidos é para o consumo jovem, mas há alguns exemplares de vinhos com a Albariño que envelhecem lindamente proporcionando uma fantástica experiência aos degustadores apresentando notas de mel, petrolácea evidenciando a sua evolução. Há algumas diferenças que marcam as sub-regiões expressas nos vinhos como por exemplo o Albariño de Val de Sainés apresentam maior acidez quando comparados com os do O Rosal.



Devido a proximidade com o Atlântico, na região reinam os frutos do mar e pescados. Ingredientes chaves que harmonizam de forma impecável com os vinhos Albariño que a região produz. Portanto quando pensar em casar um Albariño da D.O. Rías Baixas não tem erro escolher essas fontes proteínas para a composição de um bom pairing.
O Trajeto do Caminho de Santiago de Compostela Passa Pelo Reino dos Albariños
O Caminho de Santiago de Compostela se tornou uma rota de peregrinação cristã, muito famosa e importante sobretudo para a Espanha. Este percurso pode ser realizado a partir dos mais variados pontos iniciais como por exemplos os que saem da França em Saint-Jean-Pied-de-Port e os da cidade de Porto em Portugal. Na atualidade são milhares de peregrinos de toda a Europa que realizam o Caminho, e este ganhou bastante popularidade em outros lados do mundo após o sucesso do filme Hollywoodiano “The Way” com o ator Martin Sheen, que protagonizou uma emocionante história, influenciando muitas pessoas a quererem percorrer este trajeto repleto de desafios. No percurso português tanto no trajeto da costa quanto no trajeto central, o Caminho passa pela D.O. Rías Baixas, o reino da casta Albariño.
Como uma especialista na cultura vínica não poderia deixar de fazer meu relato pessoal e também partilhar meu ponto de vista sobre esta rota em especial da Costa que sai do Porto e que atravessa a fronteira entre Valença e Tuí, unindo-se a partir daí ao percurso da rota Central até a Catedral de Santiago de Compostela. Nele o Caminho cruza as terras da Galiza, onde a Albariño reina. O relato que faço a seguir é do meu segundo Caminho, o primeiro fiz há três anos atrás sendo a escolha da época o trajeto tradicional Francês.
No primeiro dia deste mês de Agosto de 2025, iniciei o Caminho de Santiago de Compostela Português da Costa e por nove dias peregrinei 276,7 km até a Catedral de Santiago de Compostela. Existem algumas variáveis na escolha do percurso que cada peregrino decide realizar, muitas vezes baseados no tempo disponível e/ou outros fatores. O traçado no mapa da figura abaixo evidencia as variáveis que podem ser realizadas pelo Caminho da Costa e também pelo Caminho Português Central, todos partindo da cidade do Porto em Portugal.






Durante o trajeto, para os olhos de uma especialista como eu, a identificação de cada detalhe do terroir é facilmente observado e identificado (como já relatado no início do artigo), mas para milhares de peregrinos que passam por estas terras (devido serem milhares de micro produções de Vitis vinífera) podem passar batido, sem nem mesmo perceberem que estão cruzando uma das áreas de produção da Albariño, um dos vinhos mais respeitados devido as suas características dentro da cadeia global dos vinhos.
Em nenhum ponto pude ver algum tipo de informação e identificação neste percurso que fiz, nem mesmo oferta de vinhos a copo ou taças nas centenas de pequenos comércios ao qual milhares de peregrinos passam e se abastecem como água, cerveja, fruta ou bocadillos, com exceção das grandes cidades onde nos restaurantes, hotéis e supermecados há a disponibilidade desses vinhos. Ao meu olhar a região em especial perde a oportunidade de se mostrar, de vender seus vinhos e a sua imagem a tantas pessoas que cruzam suas terras. Fica esta sugestão ao Consejor Regulador da D.O. Rías Baixas juntamente com os mais variados produtores de vinho de todas as sub-regiões ao qual o Caminho atravessa de juntarem-se para uma ação comercial e de marketing no percurso do Caminho de Santiago de Compostela, com o foco em atingir aos milhares de peregrinos que anualmente atravessam a região à pé.
Por fim deixo-vos este relato de uma Denominação de Origem espanhola lindíssima que vale a pena a visita pelos seus fantásticos vinhos Albariños, pela sua rica gastronomia a base de frutos do mar, pelas suas belas paisagens da costa do Atlântico, das suas enseadas e seus vilarejos pitorescos ao qual dezenas de rios diferentes os atravessam.
Desejo boas provas e SALUTE !
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