
Esclareço desde já que este texto é um ponto de vista pessoal e que tem o objetivo gerar reflexões e também partilhar alguns detalhes importantes quando estamos falando de vinho sem álcool. Muitas são as bandeiras propagadas no mundo na atualidade de forma veemente como verdades absolutas nos mais diversos assuntos. Observo de forma estarrecida como são propagadas as “head lines” sem os devidos esclarecimentos por ângulos diversos. Encapsulam-se o termo “a ciência comprova” e pronto, o veredito já está dado, e as pessoas que tem noções de trabalhos científicos sabem que “tratar dados científicos” para apresentá-los a sociedade é algo que pode ser “tendencioso”, enfatizando só um detalhe e não inúmeras outras variáveis que podem ter tido correlação ou até outros aspectos sócio-culturais e econômicos que envolvam o tema. Sabemos que a maior parte da população infelizmente é uma massa de manobra e cada vez o termo “brain rot” que significa deterioração mental, tem sido mais percebido com clareza. As pessoas estão deixando de pensar, algo que os diferiam dos outros animais tidos como irracionais. Platão, Sócrates, Aristoteles, Hipócrates grandes pensadores e o último considerado o pai da medicina , todos esses que até então contribuíram com os pensamentos do ocidente sempre exaltaram o consumo moderado do vinho, o tendo como aliado da saúde do corpo e da mente.
Posicionamento da OMS
A bandeira do “anti-álcool” avança para todo lado no mundo através das mídias que as disseminam sem as devidas responsabilidades de gerarem educação e sim criar pânico, proibição e dificuldade de acessos, sem separar o joio do trigo, colocando no mesmo cesto todo o tipo de álcool e consumo. Entidades mundiais tem contribuindo com a cartilha da “desinformação” e não com a preocupação de fato em gerar consciência de consumo moderado, pois como se sabe tudo em excesso pode causar algum problemas à saúde. Em fevereiro de 2025, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou a inclusão obrigatória de alertas sobre o risco de câncer nos rótulos de bebidas alcoólicas, semelhantes aos alertas das embalagens de cigarros. O fato é que em seguida a OMS apresentar estas recomendações a Irlanda por exemplo tratou de colocar logo na exigência de entrada de qualquer bebida alcoólica no seu país esta recomendação para os rótulos, ao qual inclui os vinhos. Até agora poucas vozes se levantaram de forma enfática sobre esse absurdo que é propagado, vimos outros deste mesmo órgão mundial na gestão e recomendação na pandemia, mas isso é pouco comentado. Fica a pergunta, mas será que não há diferenças de consumir vodka e de consumir uma taça de vinho na refeição ? Será que os dados apresentados nestes estudos foram mesmos conclusivos que o consumo moderado de vinho como alimento causa problemas ou é um grande aliado a saúde contribuindo com a longevidade? Em uma conversa informal na gravação de um episódio do BacoCast com o Presidente da ViniPortugal Eng. Frederico Falcão, me compartilhou que teve acesso a dados e que na atualidade são 3.448 estudos que comprovam algum benefício do consumo moderado de vinho na saúde humana, enquanto sempre quando se fala neste tema é só citado o famoso estudo do paradoxo francês, que se concentra em um único benefício a saúde, diminuir a incidência de doenças arterial coronarianas.
Posicionamento da OIV
Surgem muitas questões sobre este tema. Será possível poder se chamar vinho uma bebida que é retirada o álcool ? A Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) órgão mais respeitado do setor vitivinícola mundial tratou de criar uma terminologia e definições. Recentemente passou a reconhecer oficialmente os produtos resultantes da desalcoolização do vinho, estabelecendo diretrizes específicas quanto à sua nomenclatura e produção, definindo duas categorias para esses tipos de “novo produto”:
1. Bebida obtida por desalcoolização do vinho: produto com teor alcoólico inferior a 0,5% vol.
2. Bebida obtida por desalcoolização parcial do vinho: produto com teor alcoólico entre 0,5% vol. e o mínimo exigido para ser considerado vinho (8,5% vol.).
Importante salientar que mesmo vendo sendo “infiltrado aos poucos” questões discutíveis, a OIV esclarece que o termo “VINHO” é reservado para bebidas que atendem aos critérios específicos, incluindo o teor alcoólico mínimo. Portanto “novos produtos” criados por desalcolização não devem ser rotulados com o termo “VINHO“, mas sim como “BEBIDA OBTIDA POR DESALCOLIZAÇÃO DO VINHO OU BEBIDA OBTIDA POR DESALCOLIZAÇÃO PARCIAL DO VINHO“. A OIV aprova as técnicas de evaporação parcial sob vácuo, técnicas do uso de membranas “osmose inversa”e a destilação. Métodos esses recomendados que sejam aplicados após o vinho ter atingido plenamente as suas características e cuja os vinhos não tenham sido aumentados previamente o teor de açúcar e há uma recomendação sobre a eliminação do etanol que deva ser conduzida por profissionais habilitados, qualificados e especializados.
Considerações Finais
Fazendo uma rápida análise sobre o que tenho visto com o olhar mais atento dentro de um mercado que acompanho de forma profissional é o surgimento de diversas tendências que seguem a evolução dos tempos e que isso é muito pertinente, onde a comunicação, as embalagens, os rótulos, os estilos de vinhos tem sido produzidos para atender ao mercado e aos novos consumidores que incluem também as novas gerações. Mas há algo que nós que somos os guardiões da cultura vínica no mundo não podemos nos descuidar, que são as bandeiras impostas disfarçadas de “trends midiáticas” para criação de uma bebida que tenha o glamour e o status do vinho, sem ser vinho, para atender a interesses escusos.
O vinho com TODOS os seus componentes inclusive o álcool é o que difere-se de todas as outras bebidas ao longo da história, ele carrega compostos mágicos e que eles juntos em solução, são capazes de contribuir com a qualidade de vida e na saúde das pessoas. Ele apresenta em seu DNA uma herança histórica, cultural, social e econômica já há oito mil anos, transitando por todas as principais civilizações ao qual conhecemos através da história, ultrapassando crises, proibições, guerras e problemas na economia mundial. Finalizo com a partilha de uma última reflexão, e esta me dirijo a todos que amam VINHO e aos profissionais do setor vitivinícola mundial, deixaremos o vinho em sua essência de alimento saudável (consumido moderado e frequente) continuar sendo ameaçado de forma bárbara ?
Desejo que possamos continuar a brindar com VINHO daqui a mais oito mil anos pelo menos. E que os que não gostam do álcool no vinho possam se encantar com o suco de uva integral, que também é uma delícia.
Boas provas e Saúde!

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