Completou no começo de setembro um mês da Operação Bordeaux da Receita Federal, que resultou na apreensão de milhares de vinhos importados em São Paulo, lote avaliado em 6 milhões de reais. Os responsáveis pela ação declararam que havia indícios claros de que os rótulos seriam produto de contrabando. Parte dessas garrafas (352) seriam oferecidas num jantar em dos melhores e mais badalados restaurantes da cidade, o Tuju (duas estrelas no Guia Michelin), com ingressos vendidos a 15 000 reais, fora a taxa de serviço de 15%. O estabelecimento integra um grupo que, segundo a mesma investigação, tem uma importadora, a Clarets, e uma distribuidora de bebidas (o Tuju negou à coluna AL VINO fazer parte dessa holding).
Os responsáveis pelo Tuju defenderam-se na época da apreensão dizendo que possuíam as notas fiscais referentes à compra das 352 garrafas que seriam oferecidas no tal jantar. Ainda segundo eles, os vinhos haviam sido adquiridos do “acervo pessoal de um dos sócios do restaurante, que também figura no quadro societário de uma importadora de vinhos”, numa referência ao empresário Guilherme Lemes e a Clarets. Essa importadora, por sua vez, garantiu que era tudo regular e que comprovaria posteriormente a legalidade da procedência da mercadoria apreendida (a maior parte da carga retida pertencia à Clarets).
Os rótulos foram levados para um depósito no bairro do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo, e continuam por lá. Desde então, o mercado que atua na importação de vinhos acompanha com bastante atenção a história, dentro da expectativa de que as autoridades, caso sejam comprovadas as suspeitas, levem até o fim uma ação justa e exemplar contra o contrabando de vinhos. O problema cresceu nos últimos tempos, gerando evasão de impostos e prejuízos no setor com a concorrência desleal. Na página de apresentação da Clarets na internet, a empresa declara que seu modelo é baseado em três grandes pilares: “produtores de excelência, máxima qualidade e preços competitivos”.
DOCUMENTOS INSUFICIENTES
Procurada pela coluna AL VINO para falar a respeito dos desdobramentos do caso, por questões de sigilo, a Receita apenas informou que “as mercadorias não foram devolvidas e seguem apreendidas”. Segundo apurou a coluna AL VINO junto a pessoas ligadas à Operação Bordeaux, a Clarets não teria apresentado até agora documentação suficiente para comprovar a legalidade da importação do lote.
Por isso, o processo se encontra na chamada fase de autuação. Caso não apareça nenhum fato novo, a tendência é que nos próximos meses seja aplicada uma multa pela importação irregular. Se a empresa apresentar recursos contra essa infração e eles não forem aceitos, a sentença se dará de forma definitiva e a mercadoria apreendida terá um destino final, que pode ser um leilão. A coluna AL VINO procurou Guilherme Lemes para comentar o status atual do caso, mas não teve retorno.
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