Ana Lovaglio Balbo, 37 anos, diretora de marketing da vinícola argentina Susana Balbo Wines e co-fundadora do hotel boutique Susana Balbo Unique Stays, esteve no Rio de Janeiro recentemente para o lançamento do novo Guia Michelin. Ana cresceu vendo sua mãe, a enóloga Susana Balbo, criar vinhos premiados e construir uma adega de luxo. Depois de se formar em Administração pela Universidade de San Andrés, em Buenos Aires, trabalhou como consultora e, em 2012, voltou às raízes ao regressar a Mendoza e se juntar à equipe da empresa familiar, dessa vez como Gestora de Marketing e Comunicação. Em conversa com a coluna GENTE, Ana fala sobre o amor pelos vinhos e das inúmeras crises econômicas que atingem seu país.
HISTÓRIA FAMILIAR. “Minha mãe foi, em 1981, a primeira mulher da Argentina a ter um título acadêmico em tecnologia, sempre teve uma mentalidade pouco típica para a época e para seu gênero, e sempre foi fiel aos seus talentos. Foi aí que ela disse: ‘Nunca mais vou ser empregada. Tenho que empreender’. Voltou a Mendoza e tentou. Minha mãe era a única universitária da família. Seus pais tinham apenas o ensino primário e meu avô nunca se formou”.
PRIMEIROS PASSOS. “Meus avós eram cordoveses, do centro da Argentina. Quando se mudam para Mendoza, porque acharam uma linda cidade para ter família e viver, ele consegue um trabalho em uma loja. Minha avó estava grávida. Meu avô foi logo depois demitido. Ele então foi ao dono de uma fábrica que o conhecia por ter trabalhado tantos anos e pede um empréstimo. Minha avó sempre desenhou muito bem. Aí fizeram um conjunto de toalhas, lençóis, e foram de porta em porta vendendo. Assim se tornou uma pequena empresa que cresceu muito”.
PIONEIRISMO. “Minha mãe foi estudar e se tornou a primeira enóloga, fez sua carreira. Meus avós não sabiam o que fazer com meu tio, porque ele não trabalhava. Com o dinheiro desse empreendimento, compraram uma vinha para ele. Chamaram minha mãe e perguntaram se ela queria vir para a empresa familiar. Minha mãe diz: ‘Bem, tenho dois filhos pequenos, salário estável’. Mas decidiu aceitar. Fica apenas seis meses trabalhando com eles, não se dava bem com meu tio. A vinícola estava focada no volume e em vinhos baratos. Meu avô lhe dá um dinheiro para recomeçar. Graças a isso, chegou tão longe, porque desde pequena sempre gostou de estudar, investigar, ler”.
VÁRIOS RECOMEÇOS. “Ela (Susana) já tinha um nome muito bom como enóloga. Fez consultorias, fazia dupla colheita, ia e vinha entre Estados Unidos e Argentina. Até que em 1999, começa o que hoje é nosso projeto. Entre vários recomeços, em 2009, quando produzíamos menos de 60 mil garrafas, de repente há um boom. Começamos a crescer, fizemos vinhos mais conhecidos, sucesso com produtos.
ENTRE CRISES. “Entrei em 2012 na vinícola. Fiz produção, depois me interessei em setor de vendas. Tenho formação em administração. Na última administração, enquanto minha mãe trabalhava, foi a época em que a Argentina, de tantas crises que tivemos, passou por uma hiperinflação. Minha mãe ficou um ano sem receber salário, porque pegavam o dinheiro e o colocavam no mercado financeiro. Não é fácil empreender com tanta crise”.
LEGADO. “Fazemos milhões de iniciativas relacionadas à sustentabilidade em todos os sentidos, desde do trabalho com a terra às pessoas e a comunidade. Há outra ONG muito conhecida na Argentina que se chama Un Techo para mi País. Tenho um produto específico para eles que vendemos e arrecadamos para fazer casas. O que conseguimos em 25 anos de trajetória é assombroso. Acredito que é o sonho de qualquer vinicultor ou empreendedor, porque cedo ou tarde você quer que seu projeto cresça para que as contas sejam sustentáveis”.
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