O vinho branco mais conhecido e cultuado no mundo, sem muitas dúvidas, é o Chablis, 100% feito a partir da uva Chardonnay, cultivada no norte da Borgonha, França, e leva o nome da região onde é produzido. É na comuna de Chablis, localidade mais ao norte do distrito Vinícula de Borgonha, de onde saem os rótulos mais conhecidos. As videiras em torno da comuna são praticamente todas Chardonnay, utilizadas para fabricar o famoso vinho branco seco, renomado devido à pureza de seu aroma e gosto. No mundo da gastronomia, tornou-se o grande companheiro das ostras frescas, especialmente a partir dos anos 70 do século passado, quando, em restaurantes parisienses — inclusive do mítico Lasserre (17 avenue Franklin Delano Roosevelt, Paris) —, as iguarias eram oferecidas com uma taça de Petit Chablis por cortesia. Pessoalmente, prefiro as ostras frescas com um bem refrescado Pouilly-Fumé (Loire), mas é inegável que um Chablis jovem é um grande par para ostras e mariscos frios.
Chablis passou a dar origem ao vinho homônimo no século XII, quando os monges da Ordem Cisterciense que habitavam a Abadia de Pontigny passaram a vinificar a Chardonnay que cultivavam. Em meados do século XVII, os ingleses, que dominavam o comércio na região norte gaulesa, viraram os grandes consumidores deste vinho branco. A região só se tornou demarcada nos anos 30 do século XX, após seus vinhedos terem sido recuperados do ataque da praga devastadora, a Philoxera. Segundo o site DiVinho, a Apelação de Origem Controlada (A.O.C.) de Chablis ocupa 4.260 hectares, que são divididos entre quatro Apelações de Origem Protegida (A.O.P): Petit Chablis, Chablis, Chablis Premier Cru e Chablis Grand Cru.
Apesar do nome, os vinhos Petit Chablis nada têm de diminutos, muito pelo contrário: tendem a apresentar alta acidez e aromas cítricos. Já os Chablis revelam no nariz grande presença mineral, além de notas de frutas cítricas e frutas brancas, como a pera. Os vinhos Chablis Premier Cru são mais ricos no paladar, revelando, no nariz, aromas de frutas cítricas, como limão e carambola, além de nuances minerais. E os Chablis Grand Cru, que são envelhecidos em barris de carvalho, apresentam nuances defumadas ao seu bouquet aromático, além de notas cítricas, como laranja, damasco e maracujá. Importante ressaltar que, a despeito da diferença na vinificação, especialmente quanto ao uso de barricas (ou não), Chablis é sinônimo de vinho branco de qualidade, sendo, inclusive, dos grandes brancos da Borgonha, os mais acessíveis, tanto em preços quanto em paladar. São vinhos gastronômicos por excelência.
Vou sugerir alguns Chablis que, ao meu ver, bem expressam o terroir da região, refletindo sua classificação. Começo pelo topo, sugerindo um grande vinho, o Baudouin Millet Chablis Grand Cru Vaudésir 2019, complexo e gastronômico ao extremo. Outro vinho excepcional, longevo e com complexidade absurda é o Louis Michel & Fils – Chablis Grand Cru “Les Clos”. Falo que é longevo porque abri uma garrafa da safra 2010 que parecia ter sido engarrafado no ano passado. O produtor, um dos mais tradicionais da região, faz vinhos no coração de Chablis desde 1850. Já o Chablis Premier Cru Fourchaume é um vinho elegante, equilibrado e de ótima mineralidade. Possui um incrível potencial gastronômico, ideal para pratos gordos e até certas aves, como o pato. O Louis Latour Chablis vem de um solo calcário que imprime uma minerabilidade especial. Por seu turno, um vinho dito de entrada muito bacana é o Willian Fevre Petit Chablis, que, juntamente com o Alain Geoffroy Petit Chablis, bem expressa o terroir da sub-região de classificação. Estes últimos, sim, são os grandes companheiros das famosas ostras frescas. Vale a experiência. Salut!
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