Os passos na busca de expandir os conhecimentos no Mundo de Baco sem dúvida passam por vários caminhos e participar de inúmeras provas cegas também faz parte da rota vínica de aprendizado. Para quem não está habituado a participar desses eventos, muitas vezes surgem diversas dúvidas e questionamentos, desde se esta atividade é destinada somente para profissionais ou até mesmo como ocorre em seus mínimos detalhes. Espero que com este artigo esse assunto possa ser desmistificado para você leitor.
Primeiro a prova cega não é destinada somente aos profissionais, apesar de ter a opinião que não deveria ser a escolha para os iniciantes em seus primeiros passos no mundo dos vinhos, pois anteriormente é necessário criar referências de vinhos, criar leque de provas conhecendo bem e visualizando com nitidez o que está sendo provado, para depois partir para o exercício de uma degustação com maior atenção somente aos sentidos, sem conhecer o néctar e o rótulo que está provado e assim captar o estilo e as características dos vinhos com a isenção de não ser influenciado.
A prova cega é uma degustação onde todos os sentidos são chamados a atuarem e segundo Gordon M. Shepherd em seu livro Neuroenology “degustar um vinho envolve mais do cérebro do que qualquer comportamento humano e que o cérebro ativa o sistema de memórias (visual, olfativa e a gustativa) fazendo um reconhecimento padrão, já provei isso.” O vinho aguça o cérebro e faz desencadear uma série complexa de interplays, impulsos e conexões, efetuando uma lembrança ou não das características que aquele vinho da prova possui.
É fundamental que o organizador da prova tenha experiência em degustação para poder selecionar os rótulos, organizar a sequência que serão servidos os vinhos, as condições do ambiente da prova com luz adequada, sem odores e aromas fortes no ambiente, aferir a temperatura de serviço do vinho observando cada estilo, vedar as garrafas para que não possam dar pistas de que vinhos se tratam, a mesa ou o espaço destinado aos degustadores tenha algum fundo claro para que a análise visual seja mais eficiente, ter disponibilidades de instrumentos adequados como taças para prova, saca-rolhas, decantares e cuspideiras, disponibilizar bloco de notas ou folha de pontuação e caneta para que as pessoas possam anotar observações de cada vinho caso desejem, e não esquecer de colocar no ambiente bastante água para os degustadores se hidratarem bem durante toda a prova.
Tudo pronto, agora é começar os trabalhos!
Segue-se a sequência estabelecida do serviço dos vinhos e esta pode variar quanto ao tipo de condução da prova de acordo com a organização, podendo fazer sequências de flights de dois, três ou quatro vinhos ou mesmo individualmente. O vinho é servido em uma dose que seja suficiente para que os degustadores possam avalia-lo em todos os seus aspectos, seus aromas, seus sabores e após concluir o que está em sua taça, e assim efetuar os quatros passos fundamentais de uma Prova Cega.
Quanto ao Aspecto (Visual) observa-se a intensidade, a cor dos vinhos, se há presença de lágrimas na taça e como elas são, no caso de espumantes avalia-se a perlage, apesar de só ser eficiente essa análise quando as taças não apresentam resíduo algum, algo raro.
Quanto aos Aromas (Olfativo) analisa-se a intensidade dos aromas e também que tipo de aromas apresenta, podendo ser aromas primários, secundários e terciários. Os aromas e as suas intensidades já revelam muitas pistas sobre o vinho que está sendo analisado, se houve estágio em barricas, se houve tempo de estágio em garrafa em cave, se foi realizada a fermentação malolática, se houve batonnage, se apresenta notas de evolução e se também não apresenta nenhum defeito como TCA, Brett ou de oxidação e redução por exemplo.
Quanto aos Sabores (Gustativo) neste quesito há diversos detalhes a serem analisados como a doçura, a acidez, a tanicidade, o nível álcool, o corpo, a intensidade e características de sabor que o vinho apresenta e o final de boca que ele expōe. Após a ingestão ocorre o retrogosto, que são as sensações gustativa e olfativa finais deixadas pelo vinho, permitindo com que o provador possa obter mais informações sobre o vinho que está degustando.
Ao final de todas as análises pode-se chegar a uma ( conclusão ) da avaliação de qualidade se ele é pobre, aceitável, bom, muito bom ou excelente. Também avalia-se se ele tem potencial ou não para envelhecer em garrafa. Pontua-se caso a prova seja conduzida neste formato ou faz-se comentários sobre o que cada um degustador pôde perceber do vinho degustado.
A hora dos comentários é o melhor momento da prova, perceber e constatar como cada pessoa é diferente em termos de percepções, uns com o nariz mais aguçado, outros a parte gustativa é mais eficiente, outros são extremamente precisos em suas descrições, e há alguns que as suas próprias expressões na hora que está em prova já falam por si. Conforme a organização pré-estabelecida vão sendo revelados os vinhos um a um, ou a cada sequência de flights ou há também quem deixe para revelar todos somente ao final da prova, e claro que a revelação só ocorre após todos terem degustado e tirado suas conclusões sobre o vinho.
A prova cega se torna um momento valioso de aprendizados para todos, pois num evento só podemos viajar o mundo através de inúmeros rótulos desta bebida milenar, o vinho, que atravessou civilizações e que até os dias de hoje nos transmite tantos aprendizados sobre povos e sobre nós mesmos. Também em eventos assim podemos ter momentos maravilhosos de convívios com os amigos e com os nossos pares do mundo dos vinhos, ouvirmos outras opniões que podem divergir das nossas e assim aumentarmos o nosso senso crítico vínico, também fazermos networking, estabelecermos parcerias, nos confraternizarmos e sobretudo aumentarmos o nosso leque de provas de vinhos a nível mundial.
Finalizo desejando excelentes momentos de provas cegas à você leitor e com uma frase que gosto bastante.
“Quando VINHOS extraordinários, encontram PESSOAS extraordinárias, COISAS extraordinárias acontecem.”
Saúde e Boas Provas!
A Seguir imagens dos rótulos que estiveram presentes na Prova Cega Mundo dos Vinhos por Dayane Casal, realizada dia 20 de Agosto de 2022, no restaurante Passaporte na cidade de Coimbra com 37 néctares do mundo. Agradecimento especial a todo o staff do restaurante maestrado pelo Ferran Arnau, ao Chefe Anfonso Carvalho que presenteou a todos com a sua arte, ao sommelier Joaquim Cabral que serviu com extremo profissionalismo todos os rótulos e também as belas imagens captadas pelo fotógrafo Igor Pinto.
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